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domingo, 28 de novembro de 2021

No silêncio do espaço


Nem mesmo nossas máquinas sobreviviam aqui, por que nós conseguiríamos?

 Era como um instinto, cada célula de meu corpo gritava para eu simplesmente dar meia volta e retornar de onde vim, para o aconchego do meu planeta. Aqui havia um sinal de possível vida inteligente, então nós precisávamos vir verificar, já que as sondas e robôs simplesmente desligavam ao se aproximar do sinal, mas por algum motivo naves tripuladas pareciam não sofrer do mesmo efeito, então eu e Charles fomos amaldiçoados com a responsabilidade de descobrir o que diabos emitia esse sinal.

 O equivalente a 3 dias se passou desde que saímos da base de operações no sétimo e último planeta desse sistema, e apenas algumas horas restavam para que chegássemos à órbita do planeta que circulava aquela anã vermelha. Eu nunca quis tanto que a viagem de dobra fosse permitida dentro dos sistemas, mesmo com as chances de se chocar direto com o planeta ou algum asteroide no processo, pois assim essa ansiedade e aflição sumiriam de vez.

 Charles sempre tentava girar algo entre os dedos quando estava ansioso ou inquieto, e lá estava ele com sua caneta sem tinta, um presente de seu avô que ele guardava desde seus quinze anos, e é um mistério como ele ainda não perdeu ela mesmo depois de 32 anos. Aquele cabelo grisalho ainda me deixava desconfortável mesmo vendo ele quase todo dia, não me agrada muito o fato de que estou ficando velho, não tanto quanto Charles, claro, mas as rugas já estão dando as caras.

“Equipe de exploração Nagata-44 para Zeta-79, estão na escuta?”. A voz firme e ainda sim calma de Charles quase não denunciava o seu nervosismo.

“O contato no interior do sistema não funciona, Charles. Fomos avisados disso”. E eu queria tanto que isso fosse mentira, assim como Charles.

“Não custa nada tentar”.

“Pela terceira vez hoje?”. A definição de dia no espaço tende a ser muito confusa, mas estamos acostumados.

Charles da de ombros a caminha até a janela mais próxima, observando o abismo infinito do qual nos encontrávamos dentro. Não conseguia observar aquilo por mais de cinco minutos nessa viajem, por mais que minha cota de observação espacial beire às mais de 500 horas.

 Repentinamente um arrepio inexplicável atravessa meu corpo, me fazendo arregalar os olhos e parar no meu caminho até o mapa holográfico, e posso dizer que Charles sentiu a mesma coisa que eu, já que o som da caneta dele quicando no chão parecia ser o único som permeando a sala naquele momento. Lentamente me viro na direção de Charles que faz o mesmo, e engole em seco.

 “Campo gravitacional detectado. Iniciando protocolo de órbita. Gravidade artificial reduzida em 29%.”. A inteligência artificial da nave quebra o silêncio como um copo de vidro se chocando contra o chão. “Destino alcançado. Protocolo de Órbita finalizado. Gravidade artificial normalizada.”

 Não havia mais volta.

 O sinal havia ficado consideravelmente forte, estávamos na trilha certa, e isso me assustava. Se tratava de um planeta congelado, nada mais do que um grande deserto inabitável, sendo orbitado por um satélite natural em estado deplorável. Incontáveis crateras, fendas semelhantes a cicatrizes e algumas cavidades das quais eu me recusava a olhar com mais curiosidade.

 Conforme orbitávamos o planeta carinhosamente apelidado de “cu de lugar nenhum”, notamos que o sinal ficava mais estável perto de um dos polos, até que ficamos logo acima da origem desse maldito sinal.

“Charles, inicie...”. Eu não queria dar a ordem, assim como Charles obviamente não queria recebê-la, aposto que no meu lugar ele nos mandaria dar meia volta, mas ordens são ordens. “Charles, inicie o protocolo de exploração”. E após um momento de hesitação, ele o faz.

“Protocolo de pouso exploratório iniciado. Jato estará pronto para entrar na atmosfera em 2 minutos. Boa sorte viajantes.”

 Essas palavras sempre inauguravam nossas entradas em órbita, mas desta vez elas me deixaram desconfortável.

 Eu e Charles fizemos os preparativos padrão, colocando nossas vestes e pegando as armas, não podíamos chegar lá de mãos abanando, especialmente aqui. Quando terminamos, o Jato já estava pronto, então apenas embarcamos nele e aguardamos o mesmo ser ejetado da nave, e em questão de segundos estávamos no vazio e inóspito lado de fora dela, indo em direção a missão mais difícil até então.

 Se eu dissesse que a entrada na atmosfera foi normal, estaria mentindo. Não é bem algo que possa ser explicado, mas foi algo definitivamente diferente, até mesmo Charles parecia confuso quando iniciamos a aterrissagem, mas nenhum de nós queria falar sobre, talvez pelo melhor, então apenas aterrissamos em silêncio, deixando apenas o painel e avisos nos guiar. Já havíamos feito isso incontáveis vezes, tanto Chales quanto eu, executávamos manobras e ligávamos os propulsores antes ou ao mesmo tempo em que o painel nos avisava para o fazermos. Eu só queria que nossa experiência fosse o suficiente para dissipar toda a tensão e aflição que pairava sobre nós nesse instante.

 Assim como a entrada em órbita ou o momento que adentramos este maldito sistema, a aterrissagem foi estranha e aflita, mas aqui era simplesmente surreal: não havia cores. Estávamos em um deserto de gelo e neve, onde nada passava de tons de preto e branco, e até mesmo a anã vermelha que deveria iluminar o céu, não passava de uma bola escura que de alguma forma conseguia iluminar onde estávamos, e até mesmo o jato – que eu jurava por minha vida que era vermelho – não passa dos mesmos tons claros e escuros que formam esse inferno.

 “Eu... Eu não sei o que está acontecendo aqui”. Diz Charles observando ao redor, porém com medo em seu olhar.

 “Vamos apenas achar o que está causando essa merda de sinal e ir embora”. Eu já estava me irritando, mas de alguma forma o medo parecia se sobressair.

 O maldito sinal estava bem abaixo de nós, e como o escaneamento não funcionava devido a interferência, precisaríamos utilizar a broca e rezar para o chão não desabar ou descobrimos uma forma de vida forte e hostil, por mais que eu duvide que uma atmosfera tóxica dessas seja capaz de sustentar alguma. Charles iniciou a broca do jato, e em menos de 10 minutos, todos os apoios estavam fixos e a broca já estava começando a perfurar um poço.

 Trinta minutos de perfuração, nem mesmo Charles que é um tremendo tagarela durante procedimentos onde precisamos esperar as máquinas se atreveu a dizer uma única palavra sequer, apenas ocasionalmente olhávamos para o horizonte em cor ou tentávamos sem sucesso estabelecer contato com a nossa nave, e então a broca infelizmente apita. Tanto Charles quanto eu instintivamente tocamos nossas armas, mesmo já tendo ouvido esse mesmo som centenas de vezes. A broca encontrou algo.

 Eu não me aproximei logo de cara, definitivamente não estava empolgado para saber o que a broca havia encontrado, mas eu precisava. Ignorando os avisos que meu medo dava, eu me aproximei do poço que a broca havia feito, onde Charles se encontrava, cautelosamente observando aquela profunda escuridão onde parecia que nem mesmo a luz se atrevia a permear. Então eu olhei para Charles, bem em seus olhos através do visor transparente de seu capacete, e de certa forma eu me senti olhando para um espelho. Ambos estávamos com medo, isso era óbvio por mais que ninguém estivesse disposto a admitir, e naquele momento quando fizemos contato visual um com o outro, eu sei que ele sentiu ao mesmo tempo que eu, nós acabamos de chegar ao ponto onde não havia mais retorno. Talvez a partir do momento em que fomos designados para esta missão nosso destino já estava selado, mas assim que a broca apitou, nada mais podia ser feito, e isso me atormentava.

 Somente quando peguei um bastão sinalizador que eu notei o quão trêmulas minhas mãos estavam, mesmo com frio intenso eu não podia culpá-lo, nossas vestes deveriam aguentar temperaturas absurdamente negativas sem o menor dos problemas, mas aqui eu conseguia senti-lo, lado a lado com o medo que apavorava cada centímetro de meu corpo.

 Eu apenas acendi o bastão e o soltei naquele poço escuro, esperando pelo pior que nem mesmo eu sabia o que era, e depois de aparentemente 50 metros ele parou e quicou para o lado, de modo que apenas uma luz sem sua origem fosse notada por nós. Aquele poço parecia tão profundo que somente olhar para ele fazia meu estômago despencar.

 Com muito receio eu me preparei para descer pelo cabo que acompanhava a broca até o fundo. Normalmente o Charles me acompanharia enquanto dois drones fariam a segurança da nave e equipamentos, porém como os drones sequer queriam ligar, o protocolo emergencial que estávamos sendo obrigados a utilizar designava o explorador com maior experiência a ir sozinho, e por três anos a mais que Charles nesse trabalho, eu fui amaldiçoado. Ambos sabíamos disso, então houve apenas uma troca de olhares, e nenhuma palavra foi dita. Charles sequer se ofereceu para ir eu meu lugar, mas por mais que eu quisesse eu não poderia culpá-lo, pois sinto que faria o mesmo na pele dele, ser um velho agora não parecia ser uma má ideia. Charles me ajudou nos preparativos para a minha descida, e quando eu soube que tudo estava pronto, eu engoli em seco, acenei para Charles, e comecei a me aproximar da escuridão.

 É algo inexplicável, eu particularmente nunca acreditei em Deus, a ciência sempre dava um jeito de explicar a mais complicada das coisas por mais demorado e difícil que fosse, mas aqui, nada do tipo havia sequer sido cogitado antes, não havia radiação, não havia anomalias gravitacionais, não havia nada além do medo, nem mesmo algo tão básico e primitivo como as cores. Eu nunca pensei que algo fosse me fazer abandonar a minha descrença em uma força superior, eu estava certo de que jamais acreditaria em um Deus, e por mais que eu odiasse o pensamento de que situações extremas te fazem acreditar em uma força superior, agora eu sinto na pele o quão real e amedrontador isso é, mas o mais apavorante de tudo, o que me causava arrepios, era o fato de que não importava se eu me tornasse um crente nesse exato momento, pois eu tinha certeza de que nem mesmo Deus se atreveria a vir aqui.

 Antes mesmo de chegar ao fundo, me deparo com uma pequena gruta a alguns metros do chão onde a broca se encontrava deitada, e assim que meus pés encontram o final de minha descida, minhas pernas abandonam o peso de meu corpo, fazendo com que eu caísse de joelhos e me apoiasse com minhas mãos, até mesmo respirar estava difícil, como se meus pulmões se recusassem a absorver o oxigênio. Eu tentei recuperar o fôlego por alguns segundos, até que tive forças para ficar de joelhos, e com uma perna de cada vez, me apoiando na lateral da broca, finalmente ficar consegui ficar de pé.

 A única iluminação ali era causada pelo bastão sinalizador, que parecia ser engolido pela escuridão densa daquela gruta, e como eu precisava de mais luz, empunhei minha lanterna. A lanterna piscou algumas vezes antes de ligar, como se o medo que já parecia poder ser tocado de tão denso também a estivesse atormentando, e a iluminação trêmula dela entregava o medo que eu estava sentindo. Após um minuto ou dois olhando ao redor, eu notei que não estava em uma gruta, mas sim em um salão, o chão abaixo de mim possuía pisos com desenhos encravados, assim como as paredes também tinham desenhos semelhantes as pinturas nas cavernas da terra, onde eu sacrificaria qualquer coisa para estar nesse momento.

 Eu estava tão consumido pelo medo, que sequer um resquício de alegria era capaz de dar as caras. Eu havia descoberto sinais de civilização, a terceira descoberta em toda a história espacial da humanidade e eu só conseguia sentir medo, eu sacrificaria cada medalha e cada elogio que receberia para nunca ter aceitado essa missão, eu mataria para nunca sequer ter descido neste buraco, e o fato de nada disso importar agora me atormentava ainda mais.

 Havia apenas três caminhos a seguir e eu me recusava a explorar cada um deles, então eu fui em direção a cada um e verifiquei a intensidade do sinal, por fim eu segui o caminho com mais intensidade.

 Minhas pernas travaram na entrada circular para o corredor escuro e congelado, eu sequer conseguia olhar para trás com medo da própria escuridão me agarrar enquanto eu não estivesse olhando, e minha respiração trêmula não me encorajava a ir adiante. Devem ter se passado cerca de dois ou três minutos até que eu conseguisse caminhar novamente, não antes deixando um bastão aceso logo na entrada desse corredor, sendo acompanhado apenas pela minha respiração e o chiado do sinal.

 Durante o percurso, eu imaginei o quão feliz eu ficaria se o sinal emitisse cor, e a cada nove metros eu deixava um bastão aceso no chão por mais que eu estivesse em um corredor com apenas algumas curvaturas leves, o manual dizia que assim deveria ser feito, e ele era a única coisa que me impedia de afundar neste mar sem cor de medo e aflição até eu chegar ao fim do corredor. Iluminando as paredes que formavam um arco, o que pareciam ser escrituras percorriam a extensão do chão de um lado da parede até o chão do outro lado, com desenhos de figuras espirais e seres humanoides com esferas e algo em formato de “S” deitados em suas mãos que apenas agora as havia percebido. Talvez movido pelo medo, meu corpo esteja procurando desculpas para evitar que eu descubra o que tem logo a frente, mas eu duvido que minha curiosidade nesse instante seja simplesmente curiosidade.

 Assim como minhas pernas travaram na hora de adentrar o túnel, não foi diferente agora, elas se recusavam a me obedecer. Meus pensamentos se encontravam agora em Charles e o que ele poderia estar fazendo, se estaria tentando se comunicar com a nave, se estaria analisando o sinal agora que estávamos mais próximos, ou se simplesmente tivesse entrado no jato e me deixado nesse lugar abandonado, e eu sei que seria injusto culpá-lo por isto.

 Se não fosse o tecido que absorvia o suor em minha testa, meu capacete já estaria encharcado, até mesmo o ato de engolir em seco parecia desafiador a esse ponto, e por mais que o medo fosse tangível eu precisaria seguir em frente ou isso tudo seria em vão.

 Com minha respiração ainda trêmula, eu dei o primeiro passo desde que minhas pernas haviam parado de se mover, era como se eu estivesse reaprendendo a andar, com um passo de cada vez eu me aproximava mais e mais do fim do corredor, onde a luz de minha lanterna iluminava apenas alguns centímetros antes de ser engolida pelo escuro. Em um breve impulso eu eliminei de uma vez a distância do último passo até a sala que existia no final do corredor, mas eu não conseguia sequer sentir arrependimento depois de ver aquilo, apenas o frio.

 Eu não sabia o que esperar da origem do sinal, talvez no máximo um pedido de socorro alienígena, mas nada comparado àquilo. A luz não adentrava mais do que alguns centímetros pois um abismo a engolia, e no distante, como uma bola branca flutuando em um lago durante a noite, havia uma esfera que emitia uma luz cinzenta que era forte apenas para não ser engolida pela escuridão que me impedia de ver o outro lado desse abismo. Eu acendi mais um flare e o soltei no abismo, que rapidamente o engoliu em um piscar de olhos, e repentinamente o sinal ficou em seu pico, tão alto que fui obrigado a desligar o aparelho, o que deixou apenas minha respiração trêmula me fazendo companhia.

 Curioso eu estendi a mão em direção a esfera, não sabendo muito bem o que eu esperava, mas quando ela começou a flutuar em minha direção, uma sensação de arrependimento cruzou o meu peito como uma estaca. No entanto eu não abaixei minha mão, a curiosidade passou a me consumir naquele momento e o medo que fazia meu estômago embrulhar começou a se dissipar como se uma mochila cheia de pedras fosse tirada de minhas costas. Conforme aquela esfera se aproximava, gravuras ficavam visíveis em sua superfície que lembrava uma pedra pobremente polida, e sequer um resquício de gelo estava em sua superfície, eu estava hipnotizado e no momento eu não me importava.

 Conforme a esfera de pedra se aproximava ela aumentava aos poucos de tamanho, chegando a ficar com o dobro do meu tamanho assim que ela parou na minha frente. A esfera de alguma forma era como um espelho curvo, mostrando minha forma deformada, mas sua superfície era áspera como a de uma lixa com escrituras talhadas na mesma. Alguns segundos depois de ter tocado nela, partes da superfície começaram a girar como discos ao redor de onde minha mão estava, e tudo o que eu mais queria era sair dali, mas eu sentia que não podia, que não deveria e que tudo ficaria bem, e mesmo sabendo que eram mentiras, eu ali permaneci, não me atrevendo a me mover em sua presença. Eu só não sabia na presença do que.

 De alguma forma a palavra “adormecido” foi entendida por meu cérebro, o que fez um frio inexplicável passar pela minha espinha ao mesmo tempo em que o brilho cinzento da esfera se apagou e ela caiu no abismo, sendo engolida em um piscar de olhos assim como o bastão. Como um soco eu tive o arrepio mais intenso da minha vida que trouxe com sigo todo o medo de uma só vez, e então eu só dei meia volta e corri.

 A cada passo eu me sentia mais pesado, como se o medo e a aflição dobrassem. Quanto mais perto eu chegava do jato, mais perto o escuro estava de mim, como se eu estivesse sendo perseguido por algo do qual eu tinha medo de imaginar o que poderia ser. Estava apenas me guiando pelos bastões acesos e sem cor que eu havia deixado, como se eu estivesse perdido em um corredor, e em questão de segundos eu percorri a mesma de distância que o medo havia me feito demorar vários minutos que mais pareciam horas.

 Por sorte a corda de aço ainda estava lá ao lado da broca, talvez Charles não tivesse me abandonado aqui, ou ele se foi e deixou a corda para que esse buraco não fosse o meu túmulo. Eu não me atrevia a olhar para trás mesmo não escutando nada me seguindo, mas ainda sim tinha medo de estar errado por mínimas que as chances fossem. Eu sequer segui o maldito protocolo de desconectar a corda da broca e ligar o motor para me puxar, eu simplesmente pulei na corda como se minha vida dependesse daquilo e desesperadamente comecei a subi-la contando apenas que o atrito de minhas mãos e pernas fossem o suficiente para me carregar até a superfície. Eu estava ignorando o dano que aquilo estava causando nas luvas e botas das vestes, a corda era ainda mais áspera com o gelo acumulado, e o frio estava passando pelo isolamento e eu percebi que o que eu estava sentindo não era nada comparado ao frio que fazia do lado de fora das vestes, mas eu não podia parar agora, eu estava tão perto.

 Minhas mãos e joelhos estavam doloridos de frio, mas se eu soltasse agora eu morreria e esse abismo seria o meu túmulo, minha alma seria eternamente atormentada nesse inferno gelado e eu me recusava a deixar isso acontecer, a luz se aproximava. O fim da corda chega, minhas mãos já estavam com uma dor insuportável por causa do frio, mas eu precisava sair daqui.

“Charles! Me ajuda!”. Minha voz não passava de um som abafado por fora das vestes.

O comunicador deveria funcionar em uma distância tão curta, e mesmo assim não tive resposta de Charles. Eu consigo me segurar na base horizontal da corda com um braço e com o outro eu me agarro em um dos três apoios, desesperadamente usando minhas pernas para conseguir o mínimo de impulso que fosse.

“Charles? Você não está me ouvindo, droga? Me ajuda!”. Mais um grito desesperado que foi em vão.

 Eu sequer conseguia olhar ao redor para procurar Charles, como se qualquer erro fosse ser o motivo de minha queda. Até que eu finamente consigo me arrastar para fora do buraco, ofegante e gemendo de dor pelo frio intenso nas minhas mão e joelhos. Eu me arrasto para longe do buraco até meus braços e pernas falharem, então eu finalmente começo a procurar Charles até o encontrar. Ele estava de costas, olhando para cima, não movia um músculo sequer.

“Charles seu merda, por que não me ajudou? O que você está fazendo?”. Minha voz ofegante e fraca usou todas as minhas forças, eu só queria ir embora.

 Charles então leva sua mão ao pescoço, onde ficava o comando de microfone, e o liga, sinalizando em meu visor a troca de uma luz cinza escuro para um cinza mais claro que era quase imperceptível se comparada a anterior.

“Nós o libertamos”. Diz Charles com uma voz trêmula como se estivesse chorando, e então completa. “Eu estou com medo Markus”. Charles então cai de joelhos.

 Eu já estava sem forças, com certeza congelaria até a morte por um erro idiota guiado pelo desespero, então eu só consegui me virar me deitando de costas olhando para o céu e imediatamente me arrependi.

 A lua não estava lá antes, era como um abismo no céu, eu tinha certeza de que ela estava olhando minha alma, absorvendo minha mente e deixando apenas a loucura e tormenta para trás. Ela então começou a sorrir, e assim a noite veio.

 Uma lágrima escorreu de meus olhos, eu não queria morrer.


Escrita por NicklerJoy.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Bedtime - Hora de dormir - Parte III


Alguns dias atrás, contei duas histórias de pesadelos da minha infância, talvez você as leu melhor para compreender verdadeiramente o que me aconteceu. Eu tinha sido obrigado a me silenciar, dominado pelo medo irracional de que, de alguma forma, mesmo depois de todos esses anos, eu deveria falar sobre isso, que essas coisas iriam me procurar e mais uma vez causar estragos na minha vida.

Em nome da ciência e da razão, confrontei esses medos e me propus a vencer essas memórias atormentadas de uma vez por todas, compartilhando-as com outras pessoas, expondo-as o que eu acreditava que eram; Os delírios de uma criança problemática. Eu segurei meu ceticismo e racionalidade pela vida, permiti que eles me definissem, mas esta manhã eu fui apresentado com evidências físicas verificáveis. Evidências do que eu não conheço, mas não podem ser ignoradas, e parece estranho para mim que os últimos dias tenham sido tão contaminados pela apreensão e infortúnio depois de finalmente quebrar meu silêncio, que não posso mais contar com explicações inteiramente convencionais.

Na sequência do compartilhamento dessas experiências traumáticas que eu tive quando criança, fiquei atormentado por uma sensação de desconforto irresistível. Inicialmente, eu atribuí isso ao medo que experimentava ao simplesmente recontar e reviver esses terríveis acontecimentos na minha mente, mas, nos últimos dias, sentia muito mais; Um sentimento de destruição iminente consumiu todos os meus pensamentos.

Enquanto o sono veio, o resto não. Todas as manhãs eu acordava, meus nervos à flor da pele, como se estivesse sendo privado de dormir. Nada de assustador aconteceu durante as primeiras noites, sem visitas, sem companheiros de cama indesejáveis, sem respirações sibilantes que se estendiam do fundo das paredes do meu quarto, mas eu sentia aquela sensação remotamente familiar de não estar sozinho.

Não entenda mal, eu não senti ninguém no quarto comigo. Não ouvi, cheirei ou senti algo remotamente sobrenatural, mas durante os meus dias e noites percebi algo sutil, quase na periferia da minha consciência; A sensação de que algo está a caminho, algo está chegando, como as primeiras explosões de ar de um túnel de metrô, anunciando a chegada de uma monstruosidade imbatível e imparável; Surpreendente, ainda assim esperado.

Minha sensação de desconforto cresceu com cada dia que se passava, subindo pela minha pele, profunda na minha mente como uma forma de infecção cancerígena. Tentei concentrar minha atenção em vários projetos de redação em uma tentativa vã de preencher minha mente até o outro lado com outros pensamentos, esperançosamente não deixando espaço para essas memórias contaminadas, mas esses pensamentos vieram até mim, no entanto.

Minha ansiedade ganhou impulso até que eu não podia pensar em nada mais. Eu tinha que fazer alguma coisa! Eu tinha estudado psicologia há anos na universidade, com isso eu sabia que a ansiedade é muitas vezes o resultado de uma perda de controle, e que uma das maneiras mais eficazes de combatê-la é capacitar-se; Isto é o que eu pretendia fazer. Chame isso de tortura, mas eu voltaria para aquele lugar, aquela casa onde ocorreram esses terríveis acontecimentos. Eu ia confrontar essas memórias e expô-las ao que eram; Absurdo.

Era uma hora de viagem até minha antiga casa, mas era uma cheia de alegria. Eu estava confiante, à vontade, feliz; Eu estava no controle agora e nada iria entrar no meu caminho de mostrar que o lugar que eu temi a minha vida inteira não era mais do que uma pequena casa suburbana média, monótona e inofensiva.

Rodando alegremente pelas estradas do país e depois a rodovia, finalmente cheguei à cidade. Gradualmente, as ruas começaram a ter uma aparência familiar. Memórias de jogar naquele bairro vieram de volta para mim; Um playground com meu escorregador favorito, um campo de areia onde costumávamos jogar futebol, meu pátio da escola cheio de esconde-esconde e amizades há muito abandonadas, mas nunca esquecidas.

Minha mente vagou por essas memórias como um filho pródigo caminhando para casa; Perambulou tanto que antes de perceber, eu estava parando na rua onde eu já vivi. A estrada foi longa e desapareceu pela distância, finalmente entrando em uma curva afiada e cega. Era um bairro antigo, e tinha sido planejado e construído muito antes do carro; Isso foi evidente pela estreiteza de suas estradas, criando um sentimento estranhamente claustrofóbico, como se as casas de cada lado se levantasse, atraindo os transeuntes.

Desacelerei minha velocidade e passei o olho em cada casa que estava na rua. Era um lugar uniforme, com todas as casas quase idênticas. Meu coração de repente começou a bater mais rápido, enquanto um frio passava pela espinha; Lá estava, a minha casa! Era tarde e a rua estava quieta, quase solitária. Olhei para aquele pequeno lugar imaginando como uma casa tão comum poderia ter causado tanto medo em mim.

Eu inicialmente pretendia apenas olhar para a casa de longe, confirmando-me como uma construção material, inteiramente explicável e desprovida de qualquer coisa estranha. Mas enquanto eu estacionava, respirei profundamente e, antes que eu pensasse, eu saí do meu carro, caminhando para aquele antigo portão metálico, que uma vez teve formas florais brilhantes, agora escurecidas por uma pintura verde e envelhecida, revelando nada além de ferrugem embaixo. Corri meus dedos sobre o topo desigual, e com um suspiro sutil, eu o abri.

Caminhando ao longo do caminho, fiquei chocado com o vazamento do jardim. Eu pensei na quantidade de desperdício de um bom gramado, que estava quase obscurecido por um espesso mosaico de ervas daninhas e outras espécies invasoras, mas quando me aproximei da casa, percebi o porquê: estava desocupada. Mais uma vez, um calafrio percorreu meu corpo, mas à medida que minha ansiedade se elevava, eu apliquei meu mantra racional:


"A explicação mais simples é geralmente a correta".


Eu assumi que, devido ao estado econômico atual, a casa provavelmente já estava no mercado por algum tempo e que o dono não estava ciente de que a primeira fisgada é com os olhos, mas quando olhei ao redor, não vi nenhum sinal "À Venda", nem um "Aluga-se". Realmente parecia que esta casa tinha sido esquecida, abandonada e deixada para apodrecer.

As janelas na frente da casa estavam sujas e, como tal, quase impossíveis de se enxergar, mas, enquanto andava pela parte de trás do prédio, pude ver mais claramente por dentro. Eu teria imaginado que uma casa como essa ficaria vazia, mas, pelo contrário, estava inteiramente ocupada, ocupada pelas armadilhas de uma vida moderna. Eu podia ver uma televisão sentada no canto da sala de estar, uma mesa de café com revistas espalhadas por ela, vários mobiliários postos como se estivessem prontos para serem usados, e um par de xícaras de café sentadas no peitoril da janela ainda cheias, cobertas de mofo. Eu teria pensado que a casa era ocupada se não fosse por uma camada grossa de poeira sobre tudo, acompanhada pela teia de aranha ocasional.

Parecia que os ocupantes mais recentes haviam saído depressa e nunca mais voltado.

Caminhando através de um mar de grama alta e arbustos, acabei por chegar a aquela pequena janela inócua na parte de trás da casa. A própria visão me assustou, mas essa era uma mera lembrança e não o estranho sentimento de observar por dentro como eu experimentava quando era criança. Olhando para dentro, o quarto parecia terrivelmente familiar. Suponho que seja pouco o que pode ser feito com um quarto tão pequeno, tão estranhamente estreito, mas, através do vidro coberto de sujeira, o quarto parecia quase inalterado desde quando dormi nele. Uma cama, um conjunto de gavetas, e o que parecia uma variedade de brinquedos no chão.

Uma sensação profunda de raiva me apoderou momentaneamente, mas eu expulsei-a rapidamente da minha mente. O quarto era claramente a de uma criança e o pensamento daquela coisa prejudicando outro inocente me encheu de desprezo por tal pensamento, e dentro de mim aumentou o desejo de proteger qualquer criança de tal abominação.

Enquanto eu olhava para aquela parede, de que uma cama estava ao lado dela, os cabelos na parte de trás do meu pescoço se eriçaram. Por um momento (e foi só por um mínimo) pensei ter visto o cobertor em cima da cama se mover. Mais do que isso, através desse painel de janela eu poderia jurar que ouvi um suspiro sibilante. Fechando os olhos com força, repeti outro mantra científico:


"A ciência não deve suas dívidas à imaginação".


Abrindo meus olhos, não vi mais que um quarto vazio. Sem espíritos sujos, sem coisas sobrenaturais; Apenas um quarto, nada mais, nada menos. Eu suspirei de alívio porque tudo estava bem com o mundo pela primeira vez em muitos dias. Você pode pensar que foi uma ilusão, mas eu realmente senti que tinha me mostrado que não havia nada para se temer, além da minha imaginação excessivamente ativa.

Estava começando a escurecer e eu queria estar em casa antes da noite. Cheio de confiança agora que minhas angústias estavam atrás de mim, havia uma última coisa que eu precisava fazer. Quando nós deixamos a casa, nós o fizemos com pressa. Quando criança, foi desorientador, até mesmo assustador deixar tudo o que sabia para trás, mas restava uma coisa sobre a qual sempre me perguntei.

No fundo do jardim havia uma árvore de sicômoro que parecia ser ainda maior do que a casa. Fiquei impressionado com o quão inalterada estava. Eu cresci, fui para casas e regiões novas, mas o antigo sicômoro ainda estava parado, sábio, quente, quase amigável em sua aparência.

Eu acho que é um rito de passagem para qualquer criança ter um lugar para esconder coisas. Muitas vezes é sua primeira experiência com a independência, algo removido de qualquer figura de autoridade. Para mim, meu "esconderijo" estava a meio caminho do antigo sicômoro. Tenho certeza de que eu deveria ter parecido um tolo, mas eu alegremente subi a árvore abandonada. A configuração dos ramos mudou de lugares, mas, em geral, as lembranças felizes de se jogar entre os membros do antigo sicômoro, de ter um pequeno pedaço do mundo para mim mesmo longe de todos os outros, pareciam vívidas, pois era notável o quanto permanecia inalterada.

No meio do caminho, puxei minha respiração e sorri para mim mesmo. No tronco central da árvore, havia uma cavidade. Se ela foi criada por um animal, ou talvez o puxão de um vendaval em um ramo enfraquecido há muito tempo, eu não sei, mas era onde eu guardava as coisas. Se eu encontraria algo que eu tinha certeza que seria tirado de mim por ser "inadequado", no vazio que iria. No entanto, a verdade é que a maioria dos itens de dentro não eram muito interessantes, principalmente brinquedos e raros pedaços exóticos de contrabando como um estilingue ou algumas bombas de fumaça. Eu não tinha motivos para esconder os brinquedos, mas quando eu era jovem sentia-me aventureiro em ter um segredo. O vazio estava escuro e encheu-se um meio caminho de folhas apodrecidas, sem dúvida depositadas lá depois de inúmeros outonos, no entanto, cheguei no fundo para ver o que restava. Não podia acreditar! Eu tinha encontrado um brinquedo que eu tinha escondido lá antes de mudarmos, todos aqueles anos atrás! Eu podia sentir o plástico na minha mão, bordas afiadas inconfundíveis, mas as folhas e a escuridão da oca obscureciam minha visão dele enquanto eu lutava para removê-lo da mistura espessa e úmida de folhas podres e água da chuva. Parecia estar preso entre uma coleção de galhos pequenos.

A razão pela qual eu estava tão excitado era que eu sabia que quando nos mudamos, eu deixara para trás um dos meus brinquedos favoritos; Um pequeno soldado britânico da Primeira Guerra Mundial. Pode não parecer muito, mas eu cresci nas histórias da minha família das aventuras do meu avô durante as duas guerras, e como ele faleceu antes de eu nascer, muitas vezes eu representava versões exageradas das histórias com este pequeno soldado em O papel do herói: Meu intrépido Avô. Naquele momento, pensei em um esconderijo vazio perfeito para um soldado.

Meu prazer, no entanto, rapidamente se transformou em horror. Fiquei doente com o estômago, pois, quando retirei o soldado, percebi que não era meu brinquedo, mas algo mais interessante. Enfiado na parte de trás do oco entre a lama, e agora na minha mão, estavam os restos do esqueleto de um animal pequeno. Os ossos cruzaram-se enquanto os poucos pequenos fios de pelo e a carne deixavam ele putrefeito entre meus dedos. Eu quase perdi meu equilíbrio quando o cheiro podre e potente da morte escapou através do meu aperto úmido, invadindo meus sentidos.

Abaixei cuidadosamente, abatido. Não havia nada mais no vazio, meu brinquedo tinha desaparecido, provavelmente tomado por outra criança nos anos subsequentes. O que restava do pobre animal, enterrei sob um pedaço de terra solta no jardim.


Saí daquele lugar imediatamente.


Apesar do meu infeliz encontro no vazio, ainda me sentia fortalecido. Eu realmente ter arruinado minha coragem para revisitar esse lugar, para ver o quão comum era, me fez sentir no controle mais uma vez depois de minhas faculdades. Naquele momento, não exigiria nada além de uma explicação convencional.

Eu despedi-me do bairro antigo, daquela má memória de uma vez por todas, e comecei a voltar para casa. Quando cheguei na autoestrada, algo começou a filtrar através da parte de trás do meu subconsciente. No começo, desconsiderei isso, descartando-o como minha imaginação, mas, à medida que o sol brilhava e mergulhava abaixo do horizonte, percebi a crescente compulsão em mim. Uma ideia que parecia ter nascido e sido nutrida sem nenhum motivo. Nenhum raciocínio, nenhum som causal, mas que teve que ser seguida, a todo custo...


Devia chegar em casa!


Aumentei a minha velocidade, deslizando esporadicamente entre os carros mais lentos na autoestrada, olhando no espelho retrovisor, observando o que poderia me seguir.


Eu tinha que chegar em casa!


Mais uma vez, eu dirigi mais rápido constantemente olhando para trás como se correndo de algum perseguidor invisível: 70, 80, 100 milhas por hora! Eu rasguei ao longo da estrada, eu abaixei, eu gritei, o suor escorreu de mim. O que estava acontecendo comigo?


Por favor, deixe-me ir para casa!


Com o nariz branco, finalmente saí da autoestrada e entrei nas estradas que me levariam diretamente para a minha cidade. As estradas eram estreitas e enroladas no campo agora sombrio e ameaçador. A escuridão parecia cobrir a estrada na minha frente. Eu liguei o farol inteiro e respirei um suspiro de alívio para ver uma luz brilhante novamente, mesmo que artificial. A ansiedade maníaca que parecia me apertar na autoestrada parecia ter diminuído, no entanto, eu ainda olhei para o espelho retrovisor com mais frequência do que deveria, apenas para ter certeza de que não havia nada me seguindo.


Que pensamento ridículo! Pensar em algo perseguindo meu carro! Para colocar a mim e aos outros em perigo acelerando em uma rodovia ocupada... Loucura!


Ainda assim, loucura ou não, eu me sentia obrigado a fugir o mais rápido possível e, apesar de ter conseguido colecionar meus nervos, a solidão da estrada em que eu estava alimentava meu anseio pela minha própria cidade, minha própria rua, minha própria cama!

Nervosamente, atravessava os planos sinuosos da estrada que atravessava o campo, sentindo-me aliviado com o primeiro sinal de uma lâmpada, da civilização e dos limites da minha cidade. Eu parei do lado de fora da minha casa, desligando o motor e sentando por um momento em silêncio. Eu tinha que parar todas essas tolices! As coisas que saem das paredes, observadores me sufocando de noite, olhando para a janela de alguém como um espião, tudo isso era uma loucura!

Amanhã, eu começaria de novo, não mais escrevendo sobre minhas experiências de infância, nada mais de reviver noites terríveis. Apenas voltando ao normal, realizando meu trabalho, passando um tempo com minha namorada e reafirmando minha crença, fé e confiança na ciência e na racionalidade.


Então, a coisa no banco de trás se inclinou, agarrou-me pelo ombro e respirou de um jeito sujo e rançoso do fundo dos pulmões pela parte de trás do meu pescoço.


Virei na direção da porta, meus braços balançando procurando a fechadura. O medo me possuía, me sacudiu; Um medo que eu me lembrei muito bem, um medo de todos aqueles anos atrás, deitado acordado à noite naquele quarto doentio. O interior do carro tinha ficado muito mais frio, mas isso não era nada comparado aos dedos gelados que se abaixavam no meu ombro.


Eu honestamente pensei que ia morrer, que essa coisa finalmente faria o seu caminho depois de todo esse tempo.


A alça da porta surgiu no meio do aperto e em pânico e eu caí do assento do motorista no pavimento. Durante o mais breve momento, pensei em ter vislumbrado algo no banco de trás; Vago, a forma de um homem velho, ainda torcido e distorcido sorrindo de orelha a orelha. Por sorte, não havia ninguém por lá. Eu devia estar parecendo um idiota louco, pois o carro estava vazio. Peguei as chaves da ignição e fechei a porta com o pé, travando-a durante a noite.

Eu cambaleei pelo caminho e entrei na minha casa. Eu não vou mentir para você, mas eu bebi para dormir ontem à noite. Você pode lembrar que eu disse que tinha evidências, evidências físicas e reais de algo não natural. Você pode estar se perguntando qual é essa evidência. Bem, eu poderia dizer que eram as marcas no meu ombro que me faziam estremecer de medo, ou eu poderia dizer-lhe que a janela do meu quarto - que estava misteriosamente aberta esta manhã – que tinha algo que parecia com marcas de garras, me deixou temendo esta noite mais do que qualquer outra. Mas não, nada disso me assustou tanto quanto o que vi hoje ao acordar.

Às vezes, as mensagens mais assustadoras são as mais simples, pois deitado no meu peito enquanto eu acordei esta manhã, era um soldado de brinquedo, o soldado que eu tinha escondido naquele vazio há tantos anos atrás; Voltou para mim enquanto adulto, mordido pela metade.




Continua na Parte 4...

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Bedtime - Hora de dormir - Parte II



Depois de escrever na minha conta sobre uma experiência horrível que eu tive quando era uma criança de 8 anos de idade, muitos me encorajaram a falar sobre as consequências. Eu hesitei em fazê-lo, já que me sentia inesgotável desde que rompi meu silêncio. O sono não me foi fácil essas últimas noites. Meu ceticismo, no entanto, permanece resistente e, como tal, falarei do que experimentei no outro quarto.

Isso não será tão longo, como ocorreu em apenas alguns dias, mas isso foi mais que suficiente para mim.

Se você se lembrar, depois que o visitante noturno me deixou, eu fui transferido para outro quarto um ano depois. Este quarto era muito maior do que o anterior e tinha uma atmosfera calorosa e acolhedora. Alguns lugares te fazem ter uma sensação ruim. O quarto antes me fazia sentir isso, mas este não.

Felizmente, me deram uma cama normal, a anterior foi separada e jogada fora (uma visão bem-vinda que eu poderia adicionar). Adorei meu novo quarto, eu gostei do espaço para todos os meus brinquedos, fiquei feliz que o lugar fosse grande o bastante para que meus amigos passassem, mas, acima de tudo, fiquei aliviado por estar fora daquela parte desconfortável e pressentida da casa.

Na primeira noite eu dormi mais profundamente do que eu fiz por um longo, longo tempo. Claro que ainda mudei minha cama a vários metros da parede. Eu disse a minha mãe que eu e meus amigos gostávamos de usar o espaço entre a cama e a parede como um esconderijo quando estávamos brincando.

Acordei no dia seguinte, me sentindo revigorado e relaxado. Enquanto eu deitava lá assistindo alguns dos meus desenhos animados favoritos em uma pequena televisão portátil, notei algo estranho. Uma velha poltrona marrom escura que sempre esteve lá, apareceu ao pé da minha cama, grande e iminente. Estava desgastada, tendo nos sido entregue como parte de uma suíte pelo meu primo, mas já havia sido usada muitas vezes até então. A própria cadeira não era incomum, mas o que me perturbava era que eu poderia ter jurado que antes de eu ter ido dormir, a cadeira estava de frente para a cama. Agora, na luz fria do dia, a cadeira estava de frente para mim. Eu assumi que um dos meus pais o tivesse movido enquanto eu dormia, provavelmente procurando algo que tivessem deixado antes de mudar de quarto.

A segunda noite não foi tão relaxante. Era cerca de 11 horas e eu podia ouvir a televisão dos meus pais do outro lado da casa. O quarto era em grande parte escuridão, a única iluminação, um matiz de laranja que atravessava minha janela das luzes da rua lá fora. Deixei de lado o que estava vendo depois de ouvir algo quieto, ainda que inconfundível.

No começo, pensei que era o som da minha própria respiração exalando e inalando enquanto descansava, mas quando parei por um momento, o som quase inaudível de alguém no quarto que entrava e saía não cessava. Continuou, rítmica e sem pausa.

Deitei-me na escuridão, mas enquanto eu ainda estava me recuperando do terror penetrado em minhas experiências no meu quarto anterior, eu não tinha medo. A respiração era tão distante e, ao contrário do sibilo que eu tinha ouvido durante meu encontro com aquela coisa na parede, eu permanecia calmo e, mesmo naquela idade adiantada, eu acreditava que era tão sutil que provavelmente era minha imaginação pregando truques em mim.

Ainda assim, não me arrisquei, saí da cama, atravessei o quarto e liguei a luz. O som desapareceu. Olhei para aquela velha poltrona desgastada de frente para o pé da minha cama, que estava dentro da distância de onde eu dormia, e a virei para o outro lado. Eu não tinha nenhuma razão real para fazê-lo, mas algo sobre isso sentado lá me encheu de medo.

Na terceira noite, eu não era tão destemido. Novamente, acordei na escuridão. Deitado de costas, eu olhei para o teto, que parecia absorver a luz do laranja escuro da rua. A árvore do lado de fora da minha janela balançava em uma brisa calma, lançando uma estranha coleção de sombras móveis improváveis na sala.

Eu não podia ouvir nada além do longo e distante zumbido do tráfego noturno da cidade. Assim que comecei a voltar a dormir, eu ouvi; Um rangido no fundo da minha cama como se algo tivesse se movido, ou tivesse deslocado seu peso no chão.

Levantei a cabeça, examinando a escuridão, mas não vi nada estranho. Tudo exatamente como estava ao longo do dia, nada estava fora do lugar. Eu movi meu olhar pelo quarto; Alguns quadrinhos no chão, algumas caixas que ainda tinham que ser desempacotadas, a poltrona imóvel ainda de frente para o pé da minha cama; Não havia nada sinistro ali.

Eu estava completamente acordado, olhando para a minha televisão, considerando se gostava ou não de desfrutar da televisão de noite. Eu teria que manter o volume baixo, é claro, se não meu irmão mais velho iria ouvi-la no próximo quarto e sem dúvida, me diria para desligá-la.

Assim que me sentei na cama, eu ouvi de novo. Um chiado baixo, acompanhado por um som. O som do menor movimento. Olhei de novo pelo quarto. As sombras escuras e laranjas, moldadas pelas folhas penduradas na minha janela, agora assumiram uma forma mais ameaçadora.

Ainda não vi motivo para ter medo. Olhei para a cadeira no final da minha cama e não vi nada incomum sobre ela. É bastante comum que a mente demore um momento para chegar a um acordo com o que está vendo. É preciso tempo para perceber todo o horror do que está em frente a você, num momento de fria percepção.

Sim, eu estava olhando aquela velha poltrona desgastada no escuro, mas o que eu também estava olhando era a pessoa que estava sentada nela!

Na luz fraca, eu só podia ver o contorno da parte de trás da cabeça, o resto obscurecido pelas costas da cadeira. Fiquei imóvel, olhando fixamente, rezando, esperando que meus olhos estivessem sendo enganados pelo ambiente. O ruído lento do movimento enquanto se deslocava em seu assento maltratado me fez gelar até a alma; Este não era um mero truque do escuro.

Então, virou-se para o lado direito. Eu sabia o que estava fazendo, estava virando para me olhar. Era difícil distinguir, pois mesmo nessa sala parecia mais escuro do que tudo ao redor. Eu vi o que parecia uma coleção de dedos longos escorrendo sobre a crista da cadeira, e depois outros. A sala estava em silêncio, mas com o som dessa coisa se arrastando em seu assento e o choque do meu coração que agora corria.

No começo, eu só consegui distinguir o contorno de sua testa, mas então começou a se levantar revelando dois pontos de luz nos recessos escuros de seus focos profundos.


Estava me encarando.


Eu gritei e, dentro de um momento, meu irmão e minha mãe entraram na sala, acendendo a luz, perguntando se eu tinha tido outro sonho ruim. Fiquei sem palavras, apenas reconhecendo-os, olhando fixamente para a poltrona agora vazia.

Eu fiquei naquele quarto por mais alguns dias antes de nos mudarmos de repente. Não vi nada pelas noites restantes, exceto pela minha última noite de sono naquele quarto, onde acordei com o ar quente de algo que respirava na minha orelha. Saltei da cama e liguei a luz. A respiração rítmica lenta de algo não visto permaneceu, mais alto do que antes. Passei o resto daquela noite no sofá da sala de estar.

Dois anos depois dormia profundamente na minha cama, na nossa nova casa. Não houve outras incidências, e eu tinha certeza de ter deixado para trás a estranheza que me atormentava naquela pequena casa suburbana média.

Eu, no entanto, deixei um presente de despedida. Meus atormentadores (e, na minha opinião, o observador naquela poltrona era uma entidade diferente da coisa na sala alongada) deram uma última surpresa para eu deixar guardada para mim. Como um animal que reivindica seu território, eu não estava inteiramente fora do alcance deles.

Por um momento passado e terrível, senti a presença dessas, coisas. Eu me deitei e novamente adormeci, dois anos desde aquelas experiências horríveis. Eu estava em um pesadelo e de repente, felizmente acordei, seguro e no silêncio da minha cama. O quarto estava mais escuro do que o habitual. Eu suspirei de alívio como se faz quando acorda de um pesadelo.


Mas o quarto estava tão escuro.


Não podia ver nada, como se algo apagasse a luz. Eu ri para mim mesmo, percebendo que devia ter puxado meu cobertor para cima sobre meu rosto enquanto dormia. O cobertor de algodão parecia fresco contra mim, mas o ar estava um pouco quente demais, quase sufocante. Assim que eu estava prestes a remover o cobertor atrás de algum ar, eu o ouvi: pela última vez que eu ouvi.


A respiração rítmica do observador no final da minha cama.


O medo me agarrou, seguido de raiva e desespero. Por que não poderia ser deixado sozinho? Então fiz algo mais peculiar. Eu decidi falar com isso. Talvez isso não quisesse me fazer mal, talvez não soubesse do terror que causara. Certamente um jovem merecia alguma misericórdia?

Quando a respiração cresceu cada vez mais, eu comecei a chorar. Eu podia sentir sua presença do outro lado do cobertor, sua respiração pendendo sobre mim como um vento estagnado.

Através das lágrimas, pronunciei duas palavras, palavras que certamente acabariam com tudo isso:


"Por favor, pare".


A respiração começou a mudar, tornou-se mais animada, mais rápida de alguma forma. Eu podia ouvir algo baralhando ao meu lado, parando perto. A respiração então se moveu, primeiro voltou para o pé da minha cama, e lentamente atravessou a sala, atravessou a porta, entrou no corredor e depois desapareceu.

Meio chorando, meio exaltado, deitado na escuridão, meu rosto ainda coberto pelo cobertor. Você pode considerar isso uma vitória de algum tipo, mas eu não. Se essas coisas fossem reais, eu sei agora, sem sombra de dúvida, que suas intenções não eram mal interpretadas, estavam torcidas, cheias de malícia. Normalmente, nunca usaria essa palavra para descrever qualquer coisa, mas era tão perto do mal assim como eu achava que era.

Como eu sei disso? Eu vou te dizer como. Momentos depois dessa coisa aparentemente ter deixado a casa, algo começou a pressionar com força sobre mim, empurrando o cobertor com grande força contra meu rosto. Eu podia sentir uma mão grande com dedos longos e finos envolvendo o cobertor ao redor do meu crânio, suas unhas impressas sobre mim como cristais afiados. Consegui deslizar para baixo no vão entre a cama e a parede, rapidamente escapando, erguendo e gritando do meu quarto, acordando minha família.


Não se engane, essa coisa na escuridão tentou me sufocar, me sufocar até a morte.


Continua na Parte 3...

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Bedtime - Hora de dormir - Parte I



A hora de dormir era pra ser um evento bom para uma criança cansada, mas pra mim era aterrorizante. Enquanto algumas crianças podem se queixar de serem colocadas na cama antes de terem terminado de assistir a um filme ou jogar seu videogame favorito, quando eu era criança, a noite era algo para realmente se temer. Em algum lugar no fundo da minha mente, ainda é. Como alguém que é estudado em ciência, não posso provar que o que aconteceu comigo foi objetivamente real, mas posso jurar que o que experimentei é um verdadeiro horror. Um medo que, na minha vida, me agrada dizer, nunca foi igualado. Vou relatá-lo para todos vocês agora o melhor que puder, ache o que você quiser, mas ficarei feliz em tirá-lo do meu peito.


Não consigo lembrar exatamente quando começou, mas minha apreensão por adormecer pareceu corresponder com a minha mudança para um quarto meu. Eu tinha 8 anos na época e até então eu tinha compartilhado um quarto, muito feliz, com meu irmão mais velho. Como é perfeitamente compreensível para um garoto de 5 anos mais velho, meu irmão eventualmente desejava um quarto próprio e, como resultado, me deram o quarto na parte de trás da casa. Era um quarto pequeno, estreito, porém estranhamente alongado, grande o suficiente para uma cama e um par de cômodas, mas não muito mais. Eu realmente não podia me queixar porque, mesmo naquela idade, entendi que não possuíamos uma casa grande e que não tinha motivos para se decepcionar, porque minha família era amorosa e atenciosa. Foi uma infância feliz durante o dia. Uma janela solitária olhava para o nosso jardim traseiro, nada fora do comum, mas mesmo durante o dia a luz que penetrou naquela sala parecia quase hesitante. Quando meu irmão recebeu uma cama nova, me deram o beliche que costumávamos compartilhar. Enquanto eu estava chateado por dormir sozinho, estava ansioso por pensar em poder dormir no topo do beliche, o que me parecia muito mais aventureiro. Desde a primeira noite lembro-me de uma estranha sensação de inquietação rastejando lentamente na minha mente. Eu deitei na parte superior do beliche, olhando para minhas figuras de ação e carros espalhados pelo tapete verde-azul. Como se batalhas imaginárias e aventuras ocorressem entre os brinquedos no chão, não pude deixar de sentir que meus olhos estavam sendo lentamente "puxados" em direção a cama de baixo da beliche, como se algo estivesse se movendo no canto do meu olho. Algo que não queria ser visto.


O beliche estava vazio, impecavelmente feito com um cobertor azul escuro ajeitado perfeitamente, cobrindo parcialmente dois travesseiros brancos e um pouco suaves. Eu não pensei nisso na época, eu era criança e o ruído escorregando pela minha porta vindo da televisão dos meus pais me banhava com uma sensação de segurança e bem-estar.


Adormeci.


Quando você desperta de um sono profundo por causa de algo em movimento, ou agitando-se, pode demorar alguns minutos para que você realmente compreenda o que está acontecendo. A névoa do sono persegue seus olhos e ouvidos mesmo quando lúcida.


Algo estava em movimento, não havia dúvida sobre isso.


No começo, não tinha certeza do que era. Tudo estava escuro, quase preto, mas havia bastante luz rastejando de fora para esboçar aquele quarto estreitamente sufocante. Dois pensamentos apareciam em minha mente quase simultaneamente. O primeiro foi que meus pais estavam dormindo porque o resto da casa estava na escuridão e no silêncio. O segundo pensamento voltou-se para o barulho. Um ruído que, obviamente, me acordou.


À medida que as últimas teias de sono desapareceram da minha mente, o ruído assumiu uma forma mais familiar. Às vezes, o som mais simples pode ser o mais desconcertante, um vento frio que assobia através de uma árvore lá fora, os passos de um vizinho ficam desconfortavelmente próximos, ou, neste caso, o som simples de lençóis que se espalham no escuro.

Era isso; Lençóis de cama se agitando no escuro como se algum dorminhoco perturbado estivesse tentando ficar muito confortável no beliche inferior. Deitei-me lá, incrédulo, pensando que o barulho era minha imaginação, ou talvez apenas meu gato achando um lugar confortável para passar a noite. Foi então que notei a minha porta, fechei-a antes de dormir.


Talvez minha mãe tenha ido me verificar e o gato entrou no meu quarto.


Sim, deve ter sido isso. Eu me virei para encarar a parede, fechando os olhos com a vã esperança de que eu pudesse voltar a dormir. Quando me virei, o ruído que rugia de baixo de mim cessou. Eu pensei que devia ter perturbado meu gato, mas rapidamente percebi que o visitante no beliche inferior era muito menos mundano do que meu animal de estimação tentando dormir e muito mais sinistro.

Como se tivesse sido alertado e desapontado com a minha presença, o dorminhoco perturbado começou a se atirar e se virar violentamente, como uma criança com birra na cama. Eu podia ouvir as fronhas torcerem e se virarem com fúria crescente. O medo então me agarrou, não como a sutil sensação de desconforto que eu experimentara anteriormente, mas agora potente e aterrorizante. Meu coração correu quando meus olhos entraram em pânico, examinando a escuridão quase impenetrável.


Eu soltei um grito.


Como a maioria dos meninos faz, instintivamente gritei pela minha mãe. Eu podia ouvir algo se movendo do outro lado, mas quando comecei a soltar um suspiro de alívio por meus pais estarem vindo me salvar, o beliche de repente começou a se agitar violentamente como se estivesse tendo um terremoto, raspando contra a parede. Eu podia ouvir os lençóis abaixo de mim batendo como se estivessem atormentados. Eu não queria saltar para o chão, pois eu temia que a coisa no beliche de baixo se esticasse e me agarrasse, me puxando para a escuridão, então fiquei lá, juntas brancas apertando meu próprio cobertor como uma mortalha de proteção. A espera parecia uma eternidade.

A porta finalmente, e felizmente, abriu-se, e eu me deitei na luz enquanto a cama debaixo, o lugar de descanso do meu visitante indesejável, estava vazia e pacífica. Eu chorei e minha mãe me consolou. Lágrimas de medo, seguidas de alívio, escorreram pelo meu rosto. No entanto, através de todo o horror e alívio, não contei por que estava tão chateado. Eu não posso explicar isso, mas era como se o que quer que tivesse estado naquela beliche voltaria se eu falasse tanto sobre isso ou se dissesse uma única sílaba de sua existência. Se essa era a verdade, eu não sei, mas, quando criança, senti como se aquela ameaça não conhecida permanecesse próxima, ouvindo. Minha mãe deitou-se no beliche vazio, prometendo ficar até a manhã. Eventualmente, minha ansiedade diminuiu, o cansaço empurrou-me de volta para o sono, mas fiquei inquieto, acordando várias vezes momentaneamente ao som de lençóis se mexendo. Lembro-me do dia seguinte, querendo ir a qualquer lugar, estar em qualquer lugar, mas não naquele quarto sufocante e estreito. Foi um sábado e brinquei do lado de fora, muito feliz com meus amigos. Embora nossa casa não fosse grande, tivemos a sorte de ter um longo jardim na parte de trás. Brincávamos lá com frequência, a maior parte dela estava coberta de vegetação e nós podíamos nos esconder nos arbustos, subíamos na enorme árvore que se erguia acima de tudo, e facilmente nos imaginamos nos lances de uma grande aventura, em alguma terra exótica indomável. Tão divertido quanto tudo, ocasionalmente meu olho se volta para aquela pequena janela; Ordinário, leve e inócuo. Mas para mim, aquela fronteira fina era um espelho em um estranho e frio bolso de pavor. Do lado de fora, o ambiente verdejante do nosso jardim preenchido com os rostos sorridentes de meus amigos não podia extinguir o sentimento rastejante subindo pela minha espinha; cada fio de cabelo eriçado. A sensação de algo naquele quarto, observando-me enquanto brincava, esperando pela noite em que eu estaria sozinho; Ansiosamente cheio de ódio.

Pode parecer estranho para você, mas quando os meus pais me guiaram para aquele quarto de noite, eu não disse nada. Eu não protestei, nem dei uma desculpa sobre por que não conseguia dormir lá. Acabei entrando de forma simples e sombria naquele quarto, subi os poucos passos até o beliche e esperei. Como um adulto, estaria falando a todos sobre minha experiência, mas mesmo naquela idade eu me senti quase tolo em falar sobre algo que eu realmente não tinha provas. Eu mentiria, no entanto, se eu dissesse que essa era a minha principal razão; Eu ainda senti que isso ficaria enfurecido se eu falasse tanto sobre ele. É engraçado como certas palavras podem permanecer escondidas de sua mente, não importa o quão flagrante ou óbvio que sejam.

Uma palavra veio para mim aquela segunda noite, deitado ali na escuridão, sozinho, assustado, consciente de uma mudança podre na atmosfera; Um espessamento do ar como se algo o tivesse deslocado. Ao ouvir as primeiras reviravoltas ocasionais dos lençóis abaixo, o primeiro aumento ansioso dos batimentos cardíacos na percepção de que algo estava mais uma vez na cama de baixo, essa palavra, uma palavra que havia sido enviada para o exílio, filtrada através da minha consciência, liberando-se de toda repressão, ofegando por ar, gritando, gravando e se esculpindo em minha mente. "Fantasma". À medida que esse pensamento veio à mim, notei que meu visitante indesejado havia deixado de se mover. Os lençóis de cama ficaram calmos e adormecidos, mas tinham sido substituídos por algo muito mais horrível. Uma respiração lenta, rítmica e pesada se elevou e escapou da coisa abaixo. Eu poderia imaginar que seu peito subisse e caísse com cada sopro sórdido, sibilante e distorcido. Eu estremeci e esperei, além de toda esperança, que fosse embora sem nenhum acontecimento. A casa mergulhada, como aconteceu na noite anterior, em uma grossa manta de escuridão. O silêncio prevaleceu, tudo menos o sopro pervertido do meu colega de beliche não visto, até agora. Deitei-me ali aterrorizado. Eu só queria que isso me deixasse em paz. O que ele queria? Então, algo inconfundivelmente arrepiante aconteceu; Moveu-se. Moveu-se de uma maneira diferente de antes. Quando se atirou na cama de baixo, parecia, sem restrições, sem propósito, quase animal. Este movimento, no entanto, foi conduzido pela consciência, com propósito, com um objetivo em mente. Por aquela coisa que estava deitada na escuridão, aquela coisa que parecia atenta a aterrorizar um jovem, calmamente e despreocupadamente, sentou-se. Sua respiração trabalhada tornou-se mais alta, pois agora apenas um colchão e algumas tábuas de madeira frágeis separavam meu corpo da respiração sobrenatural abaixo.

Deitei ali, meus olhos se encheram de lágrimas. Um medo que meras palavras não podem descrever percorreu minhas veias. Eu não teria acreditado que esse medo poderia ter aumentado, mas eu estava tão errado. Imaginei como era essa coisa, sentando-se debaixo do meu colchão, esperando perceber o menor sinal de que eu estava acordado. A imaginação então se transformou em uma realidade desconcertante. Começou a tocar as tábuas de madeira do meu colchão. Parecia acariciá-las com cuidado, mexendo com o que eu imaginava ser dedos e mãos na superfície da madeira. Então, com grande força, cutucou com raiva entre duas tábuas, no colchão. Mesmo através do preenchimento, senti como se alguém tivesse enfiado violentamente seus dedos no meu lado. Eu soltei um grito alto e as coisas sibilantes, tremendo e se movimentando no beliche abaixo responderam balançando violentamente o beliche como tinham feito na noite anterior. Pequenos flocos de pó de tinta caíram no meu cobertor da parede enquanto a cama raspava nela, para trás e para frente. Mais uma vez eu estava banhado pela luz, e lá estava minha mãe, amando, importando-se comigo como sempre, me dando um abraço reconfortante e dizendo palavras calmantes que acabaram subjugando minha histeria. Claro que ela perguntou o que estava errado, mas não podia dizer, não ousei dizer. Eu simplesmente disse uma palavra repetidamente.


"Pesadelo".


Esses ocorridos continuaram por semanas, se não meses. Noite após a noite, eu despertaria por causa do som de lençóis. A cada um eu gritava para essa abominação não se importar comigo e "me deixar em paz". Com cada grito, a cama tremia violentamente, parando com a chegada de minha mãe que passaria o resto da noite na cama de baixo, aparentemente desconhecendo a força sinistra que torturava seu filho todas as noites. Ao longo do caminho, consegui fingir doenças algumas vezes e dar outras razões menos verdadeiras para dormir na cama dos meus pais, mas na maioria das vezes, eu ficaria sozinho pelas primeiras horas de cada noite naquele lugar. O quarto onde a luz do lado de fora não penetrava bem.


Sozinho com essa coisa.


Com o tempo, você pode tornar-se dessensibilizado para quase qualquer coisa, não importa o quão horrível. Eu percebi que, por qualquer motivo, isso não poderia me fazer mal quando minha mãe estava presente. Tenho certeza de que o mesmo teria sido dito para o meu pai, mas tão amoroso quanto ele, o despertar do sono era quase impossível. Depois de alguns meses eu me acostumei com o meu visitante noturno. Não confunda isso com alguma amizade sobrenatural, detestei o assunto. Eu ainda temia muito, pois quase podia sentir seus desejos e sua personalidade, se você pudesse chamá-la assim; Cheio de um ódio pervertido e retorcido, mas com anseio de mim, talvez de todas as coisas. Meus maiores medos foram realizados no inverno. Os dias ficaram curtos, e as noites mais longas apenas proporcionaram a esse infeliz mais oportunidades. Foi uma época difícil para minha família. Minha avó, uma mulher maravilhosamente gentil e bondosa, havia piorado muito desde a morte de meu avô. Minha mãe estava fazendo o melhor para mantê-la sã o maior tempo possível, no entanto, a demência é uma doença cruel e degenerativa, roubando uma pessoa de suas memórias um dia por vez.

Logo ela não reconheceu nenhum de nós, e ficou claro que ela precisaria ser transferida de sua casa para um lar de idosos. Antes que ela pudesse ser movida, minha avó teve algumas noites particularmente difíceis e minha mãe decidiu que ela ficaria com ela. Tanto quanto eu amei a minha avó e não senti nada além de angústia em sua doença, até hoje me sinto culpado de que meus primeiros pensamentos não fossem ela, mas do que o meu visitante noturno poderia fazer se percebesse a ausência da minha mãe; a presença dela era a única coisa que eu tinha certeza que estava me protegendo do horror desse assunto. Voltei para casa da escola naquele dia e imediatamente tirei os lençóis e o colchão da beliche inferior, removendo todas as tábuas e colocando uma mesa velha, uma cômoda e algumas cadeiras que mantivemos em um armário. Eu disse ao meu pai que estava "fazendo um escritório" que ele achou adorável, mas eu estaria ferrado se eu tivesse mais uma noite com aquela coisa.

Quando a escuridão se aproximou, fiquei ali sabendo que minha mãe não estava em casa. Eu não sabia o que fazer. Meu único impulso era esgueirar-me na sua caixa de joias e pegar um pequeno crucifixo familiar que eu tinha visto lá antes. Enquanto minha família não era muito religiosa, naquela idade ainda acreditava em Deus e esperava que de alguma forma isso me protegesse. Embora temeroso e ansioso, enquanto agarrava o crucifixo debaixo do meu travesseiro fortemente em uma mão, o sono acabou por chegar e, quando eu me afundei nos sonhos, eu esperava que eu despertasse de manhã sem nenhum "acontecimento". Infelizmente, aquela noite foi a mais aterradora de todos. Eu acordei gradualmente. O quarto estava mais uma vez escuro. À medida que meus olhos se ajustavam, eu gradualmente podia ver a janela e a porta, e as paredes, alguns brinquedos em uma prateleira e... Até hoje eu estremeço pensando nisso, pois não havia barulho. Sem rumores de lençóis. Sem nenhum movimento. O quarto parecia sem vida. Sem vida, mas não vazio. O visitante noturno, aquela coisa indesejada, sibilante, cheia de ódio que me aterrorizava noite após noite, estava na minha cama! Abri minha boca para gritar, mas nada saiu. Um terror extremo tinha abalado o próprio som da minha voz. Eu permaneci imóvel. Se eu não podia gritar, não queria deixar claro que eu estava acordado. Eu ainda não tinha visto ele, eu só podia senti-lo. Estava obscuro sob o meu cobertor. Podia ver o seu esboço, e podia sentir sua presença, mas não ousei olhar.

O peso dele pressionou em cima de mim, uma sensação que nunca esquecerei. Quando digo que as horas demoraram a passar, não exagero. Deitado imóvel, na escuridão, eu era um rapaz assustado. Se tivesse sido durante os meses de verão, teria sido leve até então, mas o inverno é longo e implacável, e eu sabia que seriam horas antes do nascer do sol; Um nascer do sol que eu ansiava. Eu era um filho tímido por natureza, mas cheguei ao meu limite, um momento em que eu não poderia esperar mais, onde eu já não poderia sobreviver com essa abominação. O medo pode às vezes usá-lo, acabar com você, uma pilha de nervos deixando apenas o menor vestígio de você por trás. Eu tive que sair daquela cama! Então me lembrei, o crucifixo! Minha mão ainda estava debaixo do travesseiro, mas estava vazia!

Movi lentamente meu pulso para encontrá-lo, fazendo o melhor que pude para minimizar o som e as vibrações causadas, mas não encontrei. Eu o tinha derrubado do topo do beliche, ou tinha... Eu não podia suportar pensar nisso, tirado da minha mão. Sem o crucifixo, perdi qualquer sentido de esperança. Mesmo em uma idade tão jovem, você pode estar claramente consciente do que é a morte, e intensamente assustado. Eu sabia que ia morrer naquela cama se eu me deitasse lá, dormente, passivo, sem fazer nada. Eu tinha que deixar esse quarto para trás, mas como? Devia sair da cama e passar pela porta? E se for mais rápido do que eu? Ou eu deveria escorregar lentamente daquela cama de cima, na esperança de não incomodar meu estranho companheiro de cama? Percebendo que não se agitou quando me movi, tentando encontrar o crucifixo, comecei a ter o mais estranho dos pensamentos. E se estivesse dormindo? Não tinha respirado tanto desde que eu tinha acordado. Talvez estivesse descansando, acreditando que finalmente me pegou. Que eu finalmente estava ao seu alcance. Ou talvez estivesse me tocando, afinal de contas, tinha feito isso por inúmeras noites, e agora estava comigo, preso contra o meu colchão sem minha mãe para me proteger, talvez estivesse se afastando, saboreando sua vitória até o último momento possível.

Como um animal selvagem saboreando sua presa. Tentei respirar tão superficialmente quanto possível, e reunindo toda a coragem que pude, mexi lentamente com a mão direita e comecei a tirar o cobertor de cima de mim. O que eu encontrei embaixo quase parou meu coração. Eu não vi isso, mas, quando minha mão moveu o cobertor, ele roçou contra algo. Algo suave e frio. Algo que senti inconfundivelmente como uma mão magra. Eu segurei a respiração com terror, pois estava certo de que agora deveria saber que eu estava acordado. Nada. Não se agitou, sentiu, era como se estivesse morto. Depois de alguns momentos, coloquei minha mão cuidadosamente mais adiante no cobertor e senti um minúsculo e mal formado antebraço, minha confiança e sensação de curiosidade quase torcida cresceram enquanto abaixei para um músculo bíceps desproporcionalmente maior. O braço estava estendido sobre o meu peito, com a mão descansando no ombro esquerdo como se tivesse me agarrado no sono. Eu percebi que eu teria que mover esse apêndice cadavérico se eu esperava escapar disso.

Por algum motivo, a sensação de roupas rasgadas e esfarrapadas no ombro do invasor da noite me impediu. O medo, mais uma vez, inchou no meu estômago e no meu peito enquanto eu recuei minha mão com desgosto com o toque de cabelos escarpados e oleosos.


Eu não conseguiria tocar seu rosto, embora eu me pergunte até hoje o que teria sentido.


Querido Deus, ele se mexeu.


Mexeu-se. Era sutil, mas seu aperto em meu ombro e em todo o meu corpo se fortaleceu. Não houveram lágrimas, mas Deus, como eu queria chorar. À medida que a mão e o braço lentamente se enroscavam ao meu redor, minha perna direita escovou a parede gelada na qual a cama estava encostada. De tudo o que aconteceu comigo naquele quarto, isso foi o mais estranho. Percebi que esta coisa agitada e rançosa que tirou grande prazer em violar a cama de um jovem, não estava totalmente em cima de mim. Estava saindo da parede, como uma aranha que atingia a sua teia.

De repente, seu aperto se moveu de um aperto lento para um aperto súbito, puxou e arrumou minhas roupas como se estivesse assustado que a oportunidade passasse logo. Eu lutei contra isso, mas seu braço macilento era muito forte para mim. Sua cabeça levantou-se se contorcendo sob o cobertor. Eu agora percebi onde estava me levando, para a parede! Lutei pela minha querida vida, chorei e, de repente, minha voz voltou à mim, gritando, gritando, mas ninguém veio.

Então eu percebi por que estava tão ansioso para atacar de repente, por que isso tinha que me ter agora. Através da minha janela, aquela janela que parecia representar tanta maldade do lado de fora, imprimia a esperança; Os primeiros raios de sol. Me esforcei ainda mais sabendo que, se ele conseguisse me segurar, logo desapareceria. Enquanto lutava pela minha vida, o parasita sobrenatural se moveu, puxando-se lentamente pelo meu peito, a cabeça agora pulando do cobertor, sibilando, tossindo, raspando. Não me lembro de suas características, eu simplesmente lembro de sua respiração contra meu rosto, suja e tão fria como o gelo.

Quando o sol atravessou o horizonte, aquele lugar escuro, aquela sala sufocante de desprezo foi lavada, banhada pela luz do sol.


Eu desmaiei enquanto seus dedos escassos cercavam meu pescoço, espremendo a própria vida de mim.


Acordei com meu pai oferecendo me fazer um café da manhã, uma visão maravilhosa! Eu sobrevivi à experiência mais horrível da minha vida até então, e agora. Afastei a cama da parede e coloquei outro mobiliário em seu lugar, imaginando que aquilo faria os acontecimentos pararem. Por um pouco pensei que aquela coisa conseguiria pegá-la... e a mim.

Semanas passaram sem mais acontecimentos, mas em uma noite fria e gelada eu acordei com o som do mobiliário onde os beliches costumavam estar, vibrando violentamente. Em um momento que passou, eu coloquei lá a certeza de que eu podia ouvir um sibilo distante vindo do fundo da parede, finalmente desaparecendo na distância.

Eu nunca disse a ninguém essa história antes. Até hoje, continuo com um suor frio ao som de lençóis de cama mexendo-se durante a noite, ou um sibilo provocado por um resfriado comum, e certamente nunca mais dormi com a cama contra uma parede. Chame isso de superstição se você quiser, mas como eu disse, não consigo descartar explicações convencionais, como a paralisia do sono, a alucinação, ou a de uma imaginação excessivamente ativa, mas o que posso dizer é o seguinte: no ano seguinte ganhei um quarto maior. Meus pais pegaram aquele lugar estranhamente sufocante e alongado como o quarto deles. Eles disseram que não precisavam de um quarto grande, apenas um grande o suficiente para uma cama e algumas coisas.


Eles ficaram 10 dias. Nos mudamos no dia 11.


Continua na parte 2...

domingo, 14 de novembro de 2021

A casa dos rostos


Ao entrar em sua modesta cozinha em uma abafada tarde de agosto de 1971, Maria Gomez Pereira, uma dona de casa espanhola, espantou-se com o que lhe pareceu um rosto pintado no chão de cimento.

Estaria ela sonhando, ou com alucinações? Não, a estranha imagem que manchava o chão parecia de fato o esboço de uma pintura, um retrato.


Com o correr dos dias a imagem foi ganhando detalhes e a noticia do rosto misterioso espalhou-se com rapidez pela pequena aldeia de Belmez, perto de Cordoba, no sul da Espanha. Alarmados pela imagem inexplicável e incomodados com o crescente número de curiosos, os Pereira decidiram destruir o rosto; seis dias depois que este apareceu, o filho de Maria, Miguel, quebrou o chão a marretadas. Fizeram novo cimento e a vida dos Pereira voltou ao normal.
Mas não por muito tempo. Em uma semana, um novo rosto começou a se formar, no mesmo lugar do primeiro. Esse rosto, aparentemente de um homem de meia idade, era ainda mais detalhado. Primeiro apareceram os olhos, depois o nariz, os lábios e o queixo.
Já não havia como manter os curiosos a distância. Centenas de pessoas faziam fila fora da casa todos os dias, clamando para ver a "Casa dos Rostos". Chamaram a policia para controlar as multidões. Quando a noticia se espalhou, resolveu-se preservar a imagem. Os Pereira recortaram cuidadosamente o retrato e puseram em uma moldura, protegida com vidro, pendurando-o então ao lado da lareira.
Antes de consertar o chão os pesquisadores cavaram o local e acharam inúmeros ossos humanos, a quase três metros de profundidade. Acreditou-se que os rastos retratados no chão seriam dos mortos ali enterrados. Mas muitas pessoas não aceitaram essa explicação, pois a maior das casas da rua fora construída sobre um antigo cemitério, mas só a casa dos Pereira estava sendo afetada pelos rostos misteriosos.


Duas semanas depois que o chão da cozinha foi cimentado pela segunda vez, outra imagem apareceu. Um quarto rosto - de mulher - veio duas semanas depois.
Em volta deste ultimo apareceram vários rostos menores; os observadores contaram de nove a dezoito imagens.
Ao longo dos anos os rostos mudaram de formato, alguns foram se apagando. E então, no inicio dos anos oitenta, começaram a aparecer outros.
O que - ou quem - criou os rostos fantasmagóricos no chão daquela humilde casa? Pelo menos um dos pesquisadores sugeriu que as imagens seriam obra de algum membro da família Pereira. Mas alguns quimicos que examinaram o cimento declararam-se perplexos com o fenômeno. Cientistas, professores universitários, parapsicólogos, a policia, sacerdotes e outros analisaram minuciosamente a imagem no chão da cozinha de Maria Gomes Pereira, mas nada concluíram que explicasse a origem dos retratos.

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terça-feira, 9 de novembro de 2021

Jason The Toymaker - O Fabricante De Brinquedos


O cheiro afiado de sangue comprimia suas narinas e a coisa mais desagradável era aquele corpo esbelto que não estava mais se movendo. Seu último suspiro já se dissolveu no ar há vários minutos, enquanto essa grossa cor vermelha se espalhou lentamente pelo chão. Tudo aconteceu tão rapidamente: ela tentou mentir, fazer uma falsa acusação conta ele, e quando as coisas pioraram em um pequeno argumento, um puxão no braço mudou o curso de suas vidas. A perda de estabilidade, a borda de um móvel e, finalmente, o silêncio. Não foi minha culpa, pensou Jason, foi um incidente terrível! Ele estava parado em pé em frente ao cadáver daquela menina, sem fôlego, as únicas testemunhas do incidente eram as fantoches que ele construiu. Na loja havia apenas ele e o cadáver. Quando o sangue de Jason começou a esfriar novamente, ele entendeu que deveria encontrar uma solução e não podia ficar parado lá sem fazer nada. Mas a situação era muito complicada. "Eles me colocam atrás dos balcões e jogam a chave fora" ele ficou desesperado, ",eu ... Eu não sou um assassino! Eu só queria repreendê-la, ela me enganou como um fantoche defeituoso! "Ele voltou um pouco e olhou para o cadáver, mas naquele momento ele deu um olhar acusatório, "Isso foi culpa sua! ", ele gritou enfurecido," Você fez tudo isso acontecer! ". Ele decidiu esconder o acidente e a primeira coisa que ele fez foi fechar a loja para que ninguém mais possa entrar. Ele levou a menina na oficina, onde criou os brinquedos que todos aclamaram como obras de arte, ele a colocou na mesa de trabalho. Naquela sala havia um cheiro afiado de tinta, mas não bastava para cobrir nem o cheiro de sangue nem o horror que ia acontecer a seguir. Jason colocou as mãos em sua cabeça, cavando os dedos entre os seus lindos cabelos escuros e empenhou-se para encontrar uma solução. Seu olhar parou em uma fantoche em forma de cobra, encostado sob o chão. Foi uma de suas primeiras criações, depois desse acidente incomum, e como se por magia tudo estivesse claro para ele agora. Ele não tinha que se preocupar. Ele pegou a serra de mão e aproximou-se do corpo. Ele usava esse objeto para cortar peças de madeira que ele precisava para criar alguns brinquedos, mas não naquele dia. Jason respirou fundo, seu corpo tremia e seu coração batia tão rápido para fazê-lo sentir a dor. Ele ergueu a mão e fechou os olhos, recusando-se a ver o horror que aconteceria.

Quatro horas depois, a cobra púrpura ainda estava encostada sob o chão, mas desta vez mais inchada. Jason estava sentado em uma cadeira em silêncio em frente à mesa encharcada de sangue. Lágrimas pararam de derramar de seu rosto quando ele conseguiu parar de lutar contra a sensação de doença. Naquele momento, ele ficou atordoado, e seus grandes olhos colorados pareciam ficar mais enrubescidos. O cadáver tinha desaparecido, deixado na boca da cobra e, juntamente o último pedaço de humanidade de Jason também. 

"Como isso pode acontecer assim? Como cheguei a este ponto? ". E a resposta era apenas um nome: Amelia.


Jason The Toymaker


Oh, Amelia, sua amiga de infância. A primeiro e única! Porque antes de sua chegada, Jason sempre foi uma criança trancada em seu silêncio. Preso em seu próprio mundo. Seus pais eram rigorosos, queriam vê-lo estudando o dia todo, e na casa onde ele vivia, os brinquedos eram proibidos. Mamãe e papai não eram pessoas ruins, ele sabia que o amavam, mas não conseguiram mostrar seu carinho. Como todos os pais, eles queriam que seu filho fosse perfeito e com um futuro brilhante, mas toda essa pressão era demais para uma criança de 9 anos. Quanto a Jason, ele fez tudo o que pôde para fazê-los sentir orgulho dele: ele era um estudante modelo na escola e obediente. Apesar de sua grande dedicação, nunca foi suficiente. Mesmo que ele não pudesse ter brinquedos em casa, Jason construiu algumas pequenas figurinhas de madeira que ele manteve no jardim da escola. Longe do alcance de seus pais, ele poderia brincar com eles sem ser punido. Ele os manteve escondidos no subsolo, como um tesouro inestimável, até o dia em que uma criança chamada Amelia o notou. Para dizer a verdade, o professor pediu a Amelia para que fosse até ele. Ela era uma criança ensolarada e amigável, enquanto ele era tímido e apagado. Toda tentativa de fazê-lo se aproximar de outras crianças falhou e ao longo do tempo, seus colegas começaram a se divertir com ele. Essa professora só queria ajudar Jason e ela fez isso, mas sacrificando Amelia. Jason não era uma criança com fraquezas, pelo contrário, ele era um ótimo manipulador e mestre em enganar. Ele era como um lobo escondido atrás da máscara do cordeiro, no entanto, ele se apegou à pequena Amélia. Ele nunca causou nenhum dano a ela, na verdade, ele queria ser um bom amigo e protegê-la. Isso poderia ser considerado como um relacionamento normal? Uma boa amizade entre as crianças? Absolutamente não.

Talvez, o que o próprio Jason não conseguisse entender, era a falta de relacionamento com seus pais, criava um vício afetivo severo. Ele sempre quis ser o principal para Amelia, ele gostava de dizer que ele era o único amigo que ela precisava e a fez se sentir insegura. Jason não estava à procura de amor e talvez nem mesmo de carinho, ele queria ser louvado. Ele queria ser importante para alguém e isso o faz se sentir... vivo. Ele sentiu como se ele existisse e foi ótimo. Ele queria sentir isso de novo e de novo, então ele fez com que Amelia acreditasse que o mundo era um lugar cheio de gente ruim, e que se alguém se colocasse entre eles, iria pagar por isso. O vício afetivo e as manipulações muitas vezes faziam Jason fazer coisas ruins. Assim como com Lucy, a amiga de Amelia, que queria ir primeiro no balanço, ele a empurrou tão rápido que ela caiu causando-lhe um pulso quebrado. Ou Jonathan, que sempre pediu a Amelia os seus lápis de cor, quando ele estava na escada da escola. Jason o empurrou quando ele estava de costas, como um covarde, porque sabia que ninguém poderia culpá-lo. Aquela criança não gostava de qualquer outro intruso, depois desses incidentes estranhos de repente, pararam de conversar com Amelia. Quanto mais ele crescia, de forma mais perigosa e maligna ele agiu, obviamente sem diminuir os atos anteriores. Enquanto isso, a pobre e ingênua Amelia, atordoada pela bondade de Jason e suas lindas palavras, pareceu despreocupada com esses incidentes estranhos que acontecem ao redor dela. Ou talvez, em outras palavras, ela não queria ver isso. Também aquela criança gosta de qualquer outro intruso, depois desses incidentes estranhos de repente pararam para conversar com Amelia. Quanto mais ele crescia de forma mais perigosa e maligna, ele agiu, obviamente sem diminuir os atos anteriores. Enquanto isso, a pobre e ingênua Amelia, atordoada pela bondade de Jason e suas lindas palavras, pareceu despreocupada com esses incidentes estranhos que acontecem ao redor deles. Ou talvez, em outras palavras, ela não queria ver isso.

Uma vez que cresceu, Jason decidiu abrir uma loja de brinquedos e seus pais o expulsaram da casa, devido a essa decisão. Que decepção! Depois de anos de trabalho duro no final, seu filho escolheu um trabalho tão estúpido e vergonhoso. Em contraste com o que eles imaginavam, Jason estava feliz e se tornou um talentoso fabricante de brinquedos. Ele não faltou com a fantasia, as pessoas de todas as épocas compraram suas criações e, além disso, ele tinha sua amiga fiel ao seu lado. Teria sido maravilhoso se a história terminasse aqui, mas o mundo perfeito que Jason construiu não durou muito.



Como em todas as noites, Amelia visitou seu amigo quando a loja fechou para lhe fazer companhia. Jason teve que resolver o caos feito por essas crianças estúpidas, então ele tirou o colete bege para se sentir mais confortável e puxou as mangas de sua camisa branca. Amelia olhou em volta e deu um sorriso nostálgico: "Pense nisso, Jason. Você começou com uma figurinha de madeira até o ponto de poder fazer tudo isso. você está feliz, não é? ". "Posso dizer sim, apesar de começar a odiar as crianças", ele respondeu: "Eles arruinam tudo o que eles tocam". "Se acostume, são seus clientes mais fiéis!" Jason olhou para ela enquanto murmurava. "Eu sei, é estranho. Um fabricante de brinquedos que odeia crianças "Amélia não respondeu, mas de seu pequeno sorriso divertido, não era difícil dizer que concordava com ele, "Eu decidi me tornar um fabricante de brinquedos porque gostei de moldar minha fantasia... porque você foi a primeira a me dizer isso". "Você foi bom em criar figurinhas de madeira, então eu sugeri que você se tornasse um fabricante de brinquedos ou algo assim. Estou feliz que você me ouviu ". "Os bons amigos fazem isso", o fabricante de brinquedos respondeu: "E para tornar seu sonho realidade, às vezes você deve fazer algumas coisas". Amelia parecia intrigada com o amigo: "O que você quer dizer?". Jason encolheu os ombros e olhou para ela sorrindo "Você se lembra da carta rosa?". Oh, claro, Amelia se lembrou disso! Foi um dos dias mais desagradáveis ​​de sua vida. Quando tinha 15 anos, Amelia se apaixonou por um menino da classe ao lado dela. Ela não teve a coragem de confessar seus sentimentos e, obviamente, Jason a assustou como sempre: "Se as pessoas descobrirem suas fraquezas, é o fim. Eu não acho que seja uma boa idéia ", disse ele, Mas uma amiga de Amelia não concordou com isso. Ela encorajou Amelia e sugeriu que ela escreve-se uma carta, então ela teria entregue ... mas algo deu errado.

A carta desapareceu da mochila de Amelia e foi anexada no painel na classe do menino que ela gostava. Ela viu a carta passando de mão a mão pelos meninos lendo com tom desdenhoso sua confissão. Ela ouviu o riso, as piadas não tão engraçadas, mas o nome na assinatura que eles estavam gritando não era o dela... era o nome da sua amiga que a encorajava. Eles se divertiram com ela durante todo o ano letivo e, no final, ela decidiu mudar de escola. Amélia nunca mais a viu. Ela pensou que ela agia como uma covarde fazendo isso e, no entanto, Jason havia feito isto. "Como você pode fazer isso comigo? Por quê?" disse Amelia" Sua voz saiu com esforço. "Eu protegi você. Como sempre fiz" no rosto de Jason, não havia um pequeno vestígio de arrependimento. "Isso não significa proteger alguém!" Amelia estava brava, Mas o que realmente a deixou nervosa foi a atitude superficial de seu amigo: "Não vou te perdoar por isso, Jason". Ela rapidamente saiu da loja e bateu a porta com toda a força. Jason a seguiu, mas não conseguiu fazer com que ela parasse, "Talvez você esteja com raiva?". Obviamente, sua amiga não respondeu e foi direto para casa. Ela estava tão irritada que, quem estivesse à sua frente, teria sido atropelado como por um trem com toda força. No entanto, uma vez que ela chegou em casa, se fechou em seu próprio quarto e começou a chorar. Amelia chorou não apenas por aquela carta rosa, mas por todas as pessoas que perdeu, Jason as separou dela. Era como acordar de repente de um longo sono. Durante anos, ela não se importou, porque tinha medo de perdê-lo e ela realmente não conseguia entender o motivo. Talvez porque ela era apenas uma tola ou ela gostava de sentir-se importante para ele nas raras ocasiões em que Jason a elogiou, ela se tornou dependente dele. Ela deixou todos esses amigos para trás, acreditando que eles eram infiéis, mas o único que realmente deveria desaparecer de sua vida era o Jason magnífico e inocente! Por outro lado, o fabricante de brinquedos ficou em sua loja e depois de terminar seus assuntos, se fechou em sua pequena oficina. Ele colocou os lençóis no sofá e pousou. Talvez sua atitude não era o melhor de tudo, ele agiu para proteger o que julgava ser seu, mas na verdade ele lamentava muito que Amélia estivesse tão brava com ele. No dia seguinte, quando seu amiga volta-se a visitá-lo, ele decidiu que tentaria acalmá-la e ser sincero. Ao contrário do que ele normalmente faria.

Um mês depois, Jason não teve notícias sobre sua amiga. O orgulho de seu ser impediu-o de tocar a campainha em sua casa, mas todo esse tempo o ajudou a pensar em uma maneira de ser perdoado. Ele ainda não tinha certeza se seria perdoado sobre o que ele fez. Ele não conseguia entender, mas conhecia perfeitamente Amelia e não precisava de mais nada para fazê-la esquecer sua raiva. Um brinquedo seria suficiente, mas Jason fez algo muito especial: uma caixa de música. Ele não comprou, ele fez isso com as próprias mãos e, após o trabalho duro, as mãos estavam cheias de feridas e pedaços de madeira. Mas essa não foi a única surpresa. A parte mais importante desse presente, o mais precioso de todos, era uma pequena marionete que se assemelhava a ele de uma forma surpreendente, escondida dentro da caixa de música. Uma surpresa contida dentro de outra surpresa! O fantoche era tão grande como a palma da mão, vestido como Jason, tinha a mesma cor do cabelo e dois botões pretos usados ​​como olhos. "Não é tão bonito quanto o original, mas ela vai gostar!". Sua esperança foi armazenada dentro desse fantoche, mas também o profundo medo e angústia sempre seguindo Jason. Ele só queria que alguém em sua vida o apreciasse e que não precisasse apenas de sua companhia. Ele queria ser procurado, alguém que importava, porque era tão lindo sentir que alguém precisava de sua ajuda. Como na discussão anterior, quando Jason sentiu vontade de existir e não ser como um objeto. Esse fantoche deveria ter sido uma espécie de charme de sorte para ele, mas depois do que ele criou para ela tudo começou a dar errado. Para Jason, este foi apenas o começo.

Depois de criar seus dois presentes, três dias depois, Jason não conseguiu sair de sua sala de criações. Era segunda-feira e as pessoas esperavam na frente da loja perguntando-se por que ainda não abriu. Jason não estava se sentindo bem. Ele teve uma dor de cabeça terrível e ficou com os pés gelados. De qualquer forma, ele não queria esperar mais, então ele saiu pela parte de trás da loja e foi até a casa de Amelia, mesmo com seu corpo dolorido. Quando bateu em sua porta, ele pensou que iria ver o resto dela, com aqueles cabelos de chocolate e olhos azuis profundos com só ela tinha, mas ele encarou sua mãe e seu olhar lhe deu a impressão de uma visita infeliz. Jason limpou a voz: "Bom dia, senhora, a Ame..." e naquele exato momento, Amelia olhou para a porta pelo lado de sua mãe, "Oi, Amélia". Ela olhou para baixo e suas bochechas ficaram vermelhas, "Oi...". "Por que você veio até aqui?", Perguntou sua mãe, interrompendo esse embaraçoso silêncio. Os lábios de Jason tornaram-se um sorriso e mostraram sua caixa de música preciosa para Amelia mesmo a distancia: "Eu trouxe  isso pra você. Eu construí com minhas próprias mãos e dentro disso há outra surpresa! ". Por um momento, os olhos de Amelia brilharam, ela não tinha certeza de aceitar o presente de Jason e estava quase convencida de perdoá-lo... mas esse sorriso dele não enfeitiçou sua mãe. Nunca enfeitiçou, nem mesmo quando Jason era apenas uma criança inocente. Ela sempre pensou que sua atitude era estranha desde o dia em que aconteceu aquele incidente. Lembrou-se de quando foi fazer os lanches e a pequena Amelia a segui para ajudar. Enquanto isso, Jason ficou sozinho com o canário de sua filha. Era seu primeiro animal de estimação e Amelia se apegou muito a ele. Então Jason apareceu na sozinha e afirmou que o canário já não estava se movendo. Os três chegaram para a sala de estar e a pobre Amélia começou a chorar. Enquanto Jason estava ao seu lado, ele acariciou suas costas e disse-lhe para não se preocupar, que tudo ficaria bem. Nessa frase não havia nada de errado, Jason só queria consolar Amélia, mas sua mãe não ignorou aquele sorriso quase invisível. Muitas vezes, ela disse a sua filha que havia algo de errado com ele, a garotinha sempre se recusava a ouvi-la, mas a paciência desapareceu: "Amélia não quer mais ser sua amiga, Jason. E talvez seja melhor assim, confie em mim ". Jason ergueu as sobrancelhas: "O quê?", Ele perguntou espantado, então ele olhou para ela, "Mas ... Por quê? Eu sempre estive ao seu lado, você sempre pode contar comigo ", disse ele, mas Amelia continuava a olhar para baixo como um cachorro abatido, "Eu fiz este presente para você, por favor!". Jason deu a caixa de música para Amelia, mas ela rejeitou quase relutantemente. Com esse gesto, naquele momento ele sentiu um forte aperto em seu coração. Uma dor dolorida o fez perder estabilidade. "Você está bem?" Amelia notou aquela reação dele e finalmente olhou para o menino nos olhos.  "Como ... como posso estar bem?" Jason respirou com dificuldade, "Eu sempre estive ao seu lado, embora todas essas coisas que eu fiz e você. E agora você faz isso comigo ", ele disse:" O que é isso? Uma punição? vingança? Eu não me importo mais "ele reuniu força e olhou para Amelia," Eu pensei que você fosse uma pessoa que não me deixaria, aparentemente este era o único erro que eu fiz ". Satisfeito com a amiga com lágrimas nos olhos, Jason se virou e voltou para sua loja. 

Por várias semanas, Jason já não era o mesmo. Sua raiva era muito e suas condições de saúde estavam piorando. Ele só queria continuar com sua vida, mas o incidente com aquela menina aconteceu. Sentada naquela cadeira, olhando para o espaço em branco e com as mãos derramando sangue, Jason sentiu que algo nele mudou para sempre. Ele não sentiu nada mais e seu corpo estava mudando. Ele não deixou a depressão assumir o controle e ele não estava triste. Ele não mais gostou daquela realidade. Enquanto ele estava ocupado pensando em deixar aquela pequena cidade, ele ouviu a voz de Amelia chamando seu nome da loja. Ele não reagiu sorriu, nem abanou a cauda como um cachorro, ele apenas pensou em ficar atualizado, sem hesitação, ele abriu a porta. Amelia imediatamente notou seu rosto sem emoção e, depois de ficar em silêncio por um momento, ela foi a primeira a falar: "Posso entrar?". Jason se moveu silenciosamente, ele deixou a menina passar e fechou a porta expondo o sinal 'FECHADO'. "Lamento incomodá-lo, eu só queria saber como você se sente. Eu acredito que devemos conversar ". Amelia sabia que havia algo estranho com Jason, mas não era só isso... havia um cheiro incomodo no ar também. "Não há mais nada a dizer e, honestamente, este não é um bom momento para mim". "Você está bem? Você está suando ", ela perguntou. Jason olhou em volta se sentindo como um peixe fora da água e Amelia colocou a mão no ombro dele: "Diga-me o que há com você. Você está se sentindo doente? ". Ele respirou fundo: "Eu ... eu matei uma criança" ela arregalou os olhos e lentamente, oprimida, separou a mão de Jason, "Juro que foi apenas um incidente, não queria ir para a prisão por isso e... eu ...". "Vá em frente" na verdade, ela estava com medo do que ela iria ouvir, mas a gagueira de Jason abriu espaço para a imaginação e foi ainda pior. "Eu cortei o cadáver em pedaços e escondi-o dentro de um fantoche" Talvez sim, era melhor não abrir espaço para a imaginação e não ouvir aquelas palavras horríveis que saem da boca de Jason. Ele realmente estava capaz de fazer tal coisa? Ele não estava falando, ela sabia muito bem, mas nunca poderia imaginar que Jason pudesse matar. É preciso manter a calma nessas situações e há apenas uma solução. "Jason, você precisa se entregar". O fabricante de brinquedos, que até aquele momento parecia um rato preso, tirou as mãos do bolso e olhou para Amelia. Seu olhar ficou surpreso, como se ele tivesse sido esfaqueado nas costas. "Você... você realmente quer que eu confesse o incidente? Você sabe muito bem como vai acabar! ". "Você tem que tentar, Jason. Você não pode agir como se nada acontecido. Eles vão começar a procurá-la e mais cedo ou mais tarde a encontrarão! ". "Eu não posso fazer isso, Amelia!", disse ele olhando pra baixo. "Bom, então eu vou fazer isso por você!". Jason ficou em silêncio imediatamente e olhou para a menina arregalando os olhos de forma surpreendente: "Você teria a coragem de fazer algo assim comigo?". "É pro seu próprio bem!". Ele riu histericamente: "Não me faça rir! Você sempre foi estúpida!". Ele começou a aproximar, enquanto isso, Amelia se moveu para trás, "Você sabe? Sempre tentei fazer de você uma pessoa melhor, mas entendi que não posso ajuda-lo. Eu sugiro que você não me provoque com sua besteira". "Você acha que eu não vou fazer isso? Apenas me veja!". Ela se virou e foi em direção a saída, mas obviamente Jason a impediu agarrando-a pelos cabelos. Os dois começaram uma briga e Amelia percebeu que, se Jason matou uma vez, ele teria feito isso de novo. Ela temia que ela fosse a próxima, na verdade, ela teria sido a próxima. Ela deveria ter agido de forma diferente e talvez fingisse apoiá-lo, mas, como qualquer outra vez, ela tomou a decisão errada. Jason estava certo, ela era realmente estúpida, ela sempre foi ou talvez ele a fizesse se sentir inferior a tantas vezes que até então ela pensava ser. Quem sabe? Para se proteger, Amelia conseguiu roubar uma chave de fenda na varanda, mas ela ainda não tinha chance de usá-la. Ela não podia fazer nada contra o corpo de Jason e quando ele a colocou contra a parede, o impacto foi tão violento que a força de Amelia desapareceu imediatamente. Ela caiu no chão e a cabeça começou a doer terrivelmente... mas Jason parou. Ela olhou para cima e viu a chave de fenda presa no coração do fabricante de brinquedos. Ele estava parado e parecia sobrecarregado com o objeto preso, enquanto a mancha de sangue estava ficando maior em seu colete. "Você droga... cadela!" Ele pegou a chave de fenda e a tirou violentamente no chão, então se recompôs e secou o suor de sua testa, "Não fui muito legal com você, Amelia!", Então ele se aproximou dela e chutou o o seu rosto. O impacto a atordoou, mas não o suficiente para fazê-la desmaiar e ela ficou deitada. "Desculpe por tudo acabar assim, minha querida Amelia", ele riu: "Não, estou apenas brincando. Para ser honesto, não me importo ", a visão da menina estava um pouco desfocada, mas o objeto que o fabricante de brinquedos estava segurando era facilmente inconfundível: uma serra de mão. 
Chegou sua hora de morrer, ela sabia, e seus olhos começaram a derramar lágrimas. Ela sofreria muito? Quanto tempo demoraria para ela morrer? Ela seria morta pela perda de sangue ou pela dor? Apesar do terror que sentiu, Amelia decidiu tentar fugir, mas seu corpo era muito lento. Ela tentou se virar para se arrastas, mas Jason pisou em seu ombro e deslocou-o. Os olhos cansados ​​da menina olharam para o fabricante de brinquedos e ela o viu acariciando com o dedo os dentes de ferro do objeto. 



Ela podia jurar que estava pronta para o momento antes do início do massacre, mas então ela notou que Jason baixou a mão e suspirou: "Muitas coisas são incompreensíveis para os humanos. Alguns podem ver e outros não podem. Acreditamos que conhecemos todos os segredos do mundo em que vivemos, mas a verdade é que não conhecemos merda nenhuma". "O que .. o que você está dizendo?" Amelia perguntou, mesmo que essa ação fosse realmente difícil para ela entender. Jason olhou com atenção e renunciou balançou a cabeça: "Você é muito ingênua, você não entende" e lentamente começou a se afastar dela, "Você não precisa de um estúpido desejo sobre uma estrela para fazer seu desejo se tornar realidade quando é verdadeiramente intenso. Nós somos os únicos que possibilitam as coisas impossíveis". Talvez tenha sido aqueles ferimentos que a fez alucinar, mas depois que Jason falou, a parede atrás dele começou a se inflar. A parede desmoronou e uma porta azul com um botão dourado apareceu. "Eu não sei por que, mas esse boneco tornou-se meu coração" Jason teve a caixa de música aberta em suas mãos e olhou para ela com uma expressão mais confusa e triste: "O único lugar onde eu posso guardar é dentro da caixa de música, mas isso deveria ser um presente para você, e eu quero dar de qualquer jeito a alguém que ocupe seu lugar. Alguém mais inteligente a quem eu possa confiar, me defender: um escolhido ". "Ninguém..." já estou cansado. Amelia sussurrou: "Ninguém vai querer um monstro como você!". Jason, abriu a porta azul lentamente, e olhando pra trás entregou a menina um sorriu: "Meu nome é Jason e isso significa" aquele que cura ". Você sabia? Claro que não "sua expressão era arrogante", qualquer pessoa irá substituí-la, se elas não conseguirem entender minhas boas intenções, eu vou corrigi-las. Afinal, um brinquedo quebrado sempre pode ser corrigido também". "O que? Você é louco! As pessoas não são como seus brinquedos estúpidos "gritou Amelia," Onde você vai? Você... você não vai fugir! ". "Não estou fugindo, idiota, mas não se preocupe. Eu voltarei". O corpo de Amelia tremia olhando aquele sorriso falso e sentia-se impotente quando o viu desaparecer atrás da porta.

Amelia passou o resto de sua vida acreditando que Jason voltaria a qualquer momento para machucá-la, mas a verdade é que Jason decidiu poupar sua vida. Ela nem sequer percebeu o quanto ela teve, porque ninguém mais depois dela teria visto a sua misericórdia... como aquelas bonecas de cera, de todas as idades, que sempre começaram a encher mais e mais na terrível sala de jogos. E aquelas fantoches, capazes de ganhar vida, as únicas testemunhas silenciosas no esplêndido e horrível mundo de Jason, o criador de brinquedos.

Jason The Toymaker

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