Nem mesmo nossas máquinas sobreviviam aqui, por que nós conseguiríamos?
Era como um instinto, cada célula de meu corpo
gritava para eu simplesmente dar meia volta e retornar de onde vim, para o
aconchego do meu planeta. Aqui havia um sinal de possível vida inteligente,
então nós precisávamos vir verificar, já que as sondas e robôs simplesmente
desligavam ao se aproximar do sinal, mas por algum motivo naves tripuladas
pareciam não sofrer do mesmo efeito, então eu e Charles fomos amaldiçoados com
a responsabilidade de descobrir o que diabos emitia esse sinal.
O equivalente a 3 dias se passou desde que
saímos da base de operações no sétimo e último planeta desse sistema, e apenas
algumas horas restavam para que chegássemos à órbita do planeta que circulava
aquela anã vermelha. Eu nunca quis tanto que a viagem de dobra fosse permitida
dentro dos sistemas, mesmo com as chances de se chocar direto com o planeta ou
algum asteroide no processo, pois assim essa ansiedade e aflição sumiriam de
vez.
Charles sempre tentava girar algo entre os
dedos quando estava ansioso ou inquieto, e lá estava ele com sua caneta sem
tinta, um presente de seu avô que ele guardava desde seus quinze anos, e é um
mistério como ele ainda não perdeu ela mesmo depois de 32 anos. Aquele cabelo
grisalho ainda me deixava desconfortável mesmo vendo ele quase todo dia, não me
agrada muito o fato de que estou ficando velho, não tanto quanto Charles,
claro, mas as rugas já estão dando as caras.
“Equipe de exploração Nagata-44
para Zeta-79, estão na escuta?”. A voz firme e ainda sim calma de Charles quase
não denunciava o seu nervosismo.
“O contato no interior do sistema
não funciona, Charles. Fomos avisados disso”. E eu queria tanto que isso fosse
mentira, assim como Charles.
“Não custa nada tentar”.
“Pela terceira vez hoje?”. A
definição de dia no espaço tende a ser muito confusa, mas estamos acostumados.
Charles da de ombros a caminha
até a janela mais próxima, observando o abismo infinito do qual nos
encontrávamos dentro. Não conseguia observar aquilo por mais de cinco minutos
nessa viajem, por mais que minha cota de observação espacial beire às mais de
500 horas.
Repentinamente um arrepio inexplicável
atravessa meu corpo, me fazendo arregalar os olhos e parar no meu caminho até o
mapa holográfico, e posso dizer que Charles sentiu a mesma coisa que eu, já que
o som da caneta dele quicando no chão parecia ser o único som permeando a sala
naquele momento. Lentamente me viro na direção de Charles que faz o mesmo, e
engole em seco.
“Campo gravitacional detectado. Iniciando
protocolo de órbita. Gravidade artificial reduzida em 29%.”. A inteligência
artificial da nave quebra o silêncio como um copo de vidro se chocando contra o
chão. “Destino alcançado. Protocolo de Órbita finalizado. Gravidade artificial
normalizada.”
Não havia mais volta.
O sinal havia ficado consideravelmente forte,
estávamos na trilha certa, e isso me assustava. Se tratava de um planeta
congelado, nada mais do que um grande deserto inabitável, sendo orbitado por um
satélite natural em estado deplorável. Incontáveis crateras, fendas semelhantes
a cicatrizes e algumas cavidades das quais eu me recusava a olhar com mais
curiosidade.
Conforme orbitávamos o planeta carinhosamente
apelidado de “cu de lugar nenhum”, notamos que o sinal ficava mais estável
perto de um dos polos, até que ficamos logo acima da origem desse maldito
sinal.
“Charles, inicie...”. Eu não
queria dar a ordem, assim como Charles obviamente não queria recebê-la, aposto
que no meu lugar ele nos mandaria dar meia volta, mas ordens são ordens.
“Charles, inicie o protocolo de exploração”. E após um momento de hesitação,
ele o faz.
“Protocolo de pouso exploratório
iniciado. Jato estará pronto para entrar na atmosfera em 2 minutos. Boa sorte
viajantes.”
Essas palavras sempre inauguravam nossas
entradas em órbita, mas desta vez elas me deixaram desconfortável.
Eu e Charles fizemos os preparativos padrão,
colocando nossas vestes e pegando as armas, não podíamos chegar lá de mãos
abanando, especialmente aqui. Quando terminamos, o Jato já estava pronto, então
apenas embarcamos nele e aguardamos o mesmo ser ejetado da nave, e em questão
de segundos estávamos no vazio e inóspito lado de fora dela, indo em direção a
missão mais difícil até então.
Se eu dissesse que a entrada na atmosfera foi
normal, estaria mentindo. Não é bem algo que possa ser explicado, mas foi algo
definitivamente diferente, até mesmo Charles parecia confuso quando iniciamos a
aterrissagem, mas nenhum de nós queria falar sobre, talvez pelo melhor, então
apenas aterrissamos em silêncio, deixando apenas o painel e avisos nos guiar. Já
havíamos feito isso incontáveis vezes, tanto Chales quanto eu, executávamos
manobras e ligávamos os propulsores antes ou ao mesmo tempo em que o painel nos
avisava para o fazermos. Eu só queria que nossa experiência fosse o suficiente
para dissipar toda a tensão e aflição que pairava sobre nós nesse instante.
Assim como a entrada em órbita ou o momento
que adentramos este maldito sistema, a aterrissagem foi estranha e aflita, mas
aqui era simplesmente surreal: não havia cores. Estávamos em um deserto de gelo
e neve, onde nada passava de tons de preto e branco, e até mesmo a anã vermelha
que deveria iluminar o céu, não passava de uma bola escura que de alguma forma
conseguia iluminar onde estávamos, e até mesmo o jato – que eu jurava por minha
vida que era vermelho – não passa dos mesmos tons claros e escuros que formam
esse inferno.
“Eu... Eu não sei o que está acontecendo aqui”.
Diz Charles observando ao redor, porém com medo em seu olhar.
“Vamos apenas achar o que está causando essa
merda de sinal e ir embora”. Eu já estava me irritando, mas de alguma forma o
medo parecia se sobressair.
O maldito sinal estava bem abaixo de nós, e
como o escaneamento não funcionava devido a interferência, precisaríamos
utilizar a broca e rezar para o chão não desabar ou descobrimos uma forma de
vida forte e hostil, por mais que eu duvide que uma atmosfera tóxica dessas seja
capaz de sustentar alguma. Charles iniciou a broca do jato, e em menos de 10
minutos, todos os apoios estavam fixos e a broca já estava começando a perfurar
um poço.
Trinta minutos de perfuração, nem mesmo
Charles que é um tremendo tagarela durante procedimentos onde precisamos
esperar as máquinas se atreveu a dizer uma única palavra sequer, apenas
ocasionalmente olhávamos para o horizonte em cor ou tentávamos sem sucesso
estabelecer contato com a nossa nave, e então a broca infelizmente apita. Tanto
Charles quanto eu instintivamente tocamos nossas armas, mesmo já tendo ouvido
esse mesmo som centenas de vezes. A broca encontrou algo.
Eu não me aproximei logo de cara, definitivamente
não estava empolgado para saber o que a broca havia encontrado, mas eu
precisava. Ignorando os avisos que meu medo dava, eu me aproximei do poço que a
broca havia feito, onde Charles se encontrava, cautelosamente observando aquela
profunda escuridão onde parecia que nem mesmo a luz se atrevia a permear. Então
eu olhei para Charles, bem em seus olhos através do visor transparente de seu
capacete, e de certa forma eu me senti olhando para um espelho. Ambos estávamos
com medo, isso era óbvio por mais que ninguém estivesse disposto a admitir, e
naquele momento quando fizemos contato visual um com o outro, eu sei que ele
sentiu ao mesmo tempo que eu, nós acabamos de chegar ao ponto onde não havia
mais retorno. Talvez a partir do momento em que fomos designados para esta
missão nosso destino já estava selado, mas assim que a broca apitou, nada mais
podia ser feito, e isso me atormentava.
Somente quando peguei um bastão sinalizador
que eu notei o quão trêmulas minhas mãos estavam, mesmo com frio intenso eu não
podia culpá-lo, nossas vestes deveriam aguentar temperaturas absurdamente
negativas sem o menor dos problemas, mas aqui eu conseguia senti-lo, lado a
lado com o medo que apavorava cada centímetro de meu corpo.
Eu apenas acendi o bastão e o soltei naquele
poço escuro, esperando pelo pior que nem mesmo eu sabia o que era, e depois de
aparentemente 50 metros ele parou e quicou para o lado, de modo que apenas uma
luz sem sua origem fosse notada por nós. Aquele poço parecia tão profundo que
somente olhar para ele fazia meu estômago despencar.
Com muito receio eu me preparei para descer
pelo cabo que acompanhava a broca até o fundo. Normalmente o Charles me
acompanharia enquanto dois drones fariam a segurança da nave e equipamentos,
porém como os drones sequer queriam ligar, o protocolo emergencial que
estávamos sendo obrigados a utilizar designava o explorador com maior
experiência a ir sozinho, e por três anos a mais que Charles nesse trabalho, eu
fui amaldiçoado. Ambos sabíamos disso, então houve apenas uma troca de olhares,
e nenhuma palavra foi dita. Charles sequer se ofereceu para ir eu meu lugar,
mas por mais que eu quisesse eu não poderia culpá-lo, pois sinto que faria o
mesmo na pele dele, ser um velho agora não parecia ser uma má ideia. Charles me
ajudou nos preparativos para a minha descida, e quando eu soube que tudo estava
pronto, eu engoli em seco, acenei para Charles, e comecei a me aproximar da
escuridão.
É algo inexplicável, eu particularmente nunca
acreditei em Deus, a ciência sempre dava um jeito de explicar a mais complicada
das coisas por mais demorado e difícil que fosse, mas aqui, nada do tipo havia
sequer sido cogitado antes, não havia radiação, não havia anomalias
gravitacionais, não havia nada além do medo, nem mesmo algo tão básico e
primitivo como as cores. Eu nunca pensei que algo fosse me fazer abandonar a
minha descrença em uma força superior, eu estava certo de que jamais
acreditaria em um Deus, e por mais que eu odiasse o pensamento de que situações
extremas te fazem acreditar em uma força superior, agora eu sinto na pele o
quão real e amedrontador isso é, mas o mais apavorante de tudo, o que me
causava arrepios, era o fato de que não importava se eu me tornasse um crente
nesse exato momento, pois eu tinha certeza de que nem mesmo Deus se atreveria a
vir aqui.
Antes mesmo de chegar ao fundo, me deparo com
uma pequena gruta a alguns metros do chão onde a broca se encontrava deitada, e
assim que meus pés encontram o final de minha descida, minhas pernas abandonam
o peso de meu corpo, fazendo com que eu caísse de joelhos e me apoiasse com
minhas mãos, até mesmo respirar estava difícil, como se meus pulmões se
recusassem a absorver o oxigênio. Eu tentei recuperar o fôlego por alguns
segundos, até que tive forças para ficar de joelhos, e com uma perna de cada
vez, me apoiando na lateral da broca, finalmente ficar consegui ficar de pé.
A única iluminação ali era causada pelo bastão
sinalizador, que parecia ser engolido pela escuridão densa daquela gruta, e
como eu precisava de mais luz, empunhei minha lanterna. A lanterna piscou
algumas vezes antes de ligar, como se o medo que já parecia poder ser tocado de
tão denso também a estivesse atormentando, e a iluminação trêmula dela
entregava o medo que eu estava sentindo. Após um minuto ou dois olhando ao
redor, eu notei que não estava em uma gruta, mas sim em um salão, o chão abaixo
de mim possuía pisos com desenhos encravados, assim como as paredes também tinham
desenhos semelhantes as pinturas nas cavernas da terra, onde eu sacrificaria
qualquer coisa para estar nesse momento.
Eu estava tão consumido pelo medo, que sequer
um resquício de alegria era capaz de dar as caras. Eu havia descoberto sinais
de civilização, a terceira descoberta em toda a história espacial da humanidade
e eu só conseguia sentir medo, eu sacrificaria cada medalha e cada elogio que
receberia para nunca ter aceitado essa missão, eu mataria para nunca sequer ter
descido neste buraco, e o fato de nada disso importar agora me atormentava
ainda mais.
Havia apenas três caminhos a seguir e eu me
recusava a explorar cada um deles, então eu fui em direção a cada um e
verifiquei a intensidade do sinal, por fim eu segui o caminho com mais intensidade.
Minhas pernas travaram na entrada circular
para o corredor escuro e congelado, eu sequer conseguia olhar para trás com
medo da própria escuridão me agarrar enquanto eu não estivesse olhando, e minha
respiração trêmula não me encorajava a ir adiante. Devem ter se passado cerca
de dois ou três minutos até que eu conseguisse caminhar novamente, não antes
deixando um bastão aceso logo na entrada desse corredor, sendo acompanhado
apenas pela minha respiração e o chiado do sinal.
Durante o percurso, eu imaginei o quão feliz
eu ficaria se o sinal emitisse cor, e a cada nove metros eu deixava um bastão
aceso no chão por mais que eu estivesse em um corredor com apenas algumas
curvaturas leves, o manual dizia que assim deveria ser feito, e ele era a única
coisa que me impedia de afundar neste mar sem cor de medo e aflição até eu
chegar ao fim do corredor. Iluminando as paredes que formavam um arco, o que
pareciam ser escrituras percorriam a extensão do chão de um lado da parede até
o chão do outro lado, com desenhos de figuras espirais e seres humanoides com
esferas e algo em formato de “S” deitados em suas mãos que apenas agora as
havia percebido. Talvez movido pelo medo, meu corpo esteja procurando desculpas
para evitar que eu descubra o que tem logo a frente, mas eu duvido que minha
curiosidade nesse instante seja simplesmente curiosidade.
Assim como minhas pernas travaram na hora de
adentrar o túnel, não foi diferente agora, elas se recusavam a me obedecer.
Meus pensamentos se encontravam agora em Charles e o que ele poderia estar
fazendo, se estaria tentando se comunicar com a nave, se estaria analisando o
sinal agora que estávamos mais próximos, ou se simplesmente tivesse entrado no
jato e me deixado nesse lugar abandonado, e eu sei que seria injusto culpá-lo
por isto.
Se não fosse o tecido que absorvia o suor em
minha testa, meu capacete já estaria encharcado, até mesmo o ato de engolir em
seco parecia desafiador a esse ponto, e por mais que o medo fosse tangível eu
precisaria seguir em frente ou isso tudo seria em vão.
Com minha respiração ainda trêmula, eu dei o
primeiro passo desde que minhas pernas haviam parado de se mover, era como se
eu estivesse reaprendendo a andar, com um passo de cada vez eu me aproximava
mais e mais do fim do corredor, onde a luz de minha lanterna iluminava apenas
alguns centímetros antes de ser engolida pelo escuro. Em um breve impulso eu eliminei
de uma vez a distância do último passo até a sala que existia no final do
corredor, mas eu não conseguia sequer sentir arrependimento depois de ver
aquilo, apenas o frio.
Eu não sabia o que esperar da origem do sinal,
talvez no máximo um pedido de socorro alienígena, mas nada comparado àquilo. A
luz não adentrava mais do que alguns centímetros pois um abismo a engolia, e no
distante, como uma bola branca flutuando em um lago durante a noite, havia uma
esfera que emitia uma luz cinzenta que era forte apenas para não ser engolida
pela escuridão que me impedia de ver o outro lado desse abismo. Eu acendi mais
um flare e o soltei no abismo, que rapidamente o engoliu em um piscar de olhos,
e repentinamente o sinal ficou em seu pico, tão alto que fui obrigado a
desligar o aparelho, o que deixou apenas minha respiração trêmula me fazendo
companhia.
Curioso eu estendi a mão em direção a esfera,
não sabendo muito bem o que eu esperava, mas quando ela começou a flutuar em
minha direção, uma sensação de arrependimento cruzou o meu peito como uma
estaca. No entanto eu não abaixei minha mão, a curiosidade passou a me consumir
naquele momento e o medo que fazia meu estômago embrulhar começou a se dissipar
como se uma mochila cheia de pedras fosse tirada de minhas costas. Conforme
aquela esfera se aproximava, gravuras ficavam visíveis em sua superfície que lembrava
uma pedra pobremente polida, e sequer um resquício de gelo estava em sua
superfície, eu estava hipnotizado e no momento eu não me importava.
Conforme a esfera de pedra se aproximava ela
aumentava aos poucos de tamanho, chegando a ficar com o dobro do meu tamanho
assim que ela parou na minha frente. A esfera de alguma forma era como um
espelho curvo, mostrando minha forma deformada, mas sua superfície era áspera
como a de uma lixa com escrituras talhadas na mesma. Alguns segundos depois de
ter tocado nela, partes da superfície começaram a girar como discos ao redor de
onde minha mão estava, e tudo o que eu mais queria era sair dali, mas eu sentia
que não podia, que não deveria e que tudo ficaria bem, e mesmo sabendo que eram
mentiras, eu ali permaneci, não me atrevendo a me mover em sua presença. Eu só
não sabia na presença do que.
De alguma forma a palavra “adormecido” foi
entendida por meu cérebro, o que fez um frio inexplicável passar pela minha
espinha ao mesmo tempo em que o brilho cinzento da esfera se apagou e ela caiu
no abismo, sendo engolida em um piscar de olhos assim como o bastão. Como um
soco eu tive o arrepio mais intenso da minha vida que trouxe com sigo todo o
medo de uma só vez, e então eu só dei meia volta e corri.
A cada passo eu me sentia mais pesado, como se
o medo e a aflição dobrassem. Quanto mais perto eu chegava do jato, mais perto
o escuro estava de mim, como se eu estivesse sendo perseguido por algo do qual
eu tinha medo de imaginar o que poderia ser. Estava apenas me guiando pelos bastões
acesos e sem cor que eu havia deixado, como se eu estivesse perdido em um
corredor, e em questão de segundos eu percorri a mesma de distância que o medo
havia me feito demorar vários minutos que mais pareciam horas.
Por sorte a corda de aço ainda estava lá ao
lado da broca, talvez Charles não tivesse me abandonado aqui, ou ele se foi e
deixou a corda para que esse buraco não fosse o meu túmulo. Eu não me atrevia a
olhar para trás mesmo não escutando nada me seguindo, mas ainda sim tinha medo
de estar errado por mínimas que as chances fossem. Eu sequer segui o maldito
protocolo de desconectar a corda da broca e ligar o motor para me puxar, eu
simplesmente pulei na corda como se minha vida dependesse daquilo e
desesperadamente comecei a subi-la contando apenas que o atrito de minhas mãos
e pernas fossem o suficiente para me carregar até a superfície. Eu estava
ignorando o dano que aquilo estava causando nas luvas e botas das vestes, a
corda era ainda mais áspera com o gelo acumulado, e o frio estava passando pelo
isolamento e eu percebi que o que eu estava sentindo não era nada comparado ao
frio que fazia do lado de fora das vestes, mas eu não podia parar agora, eu
estava tão perto.
Minhas mãos e joelhos estavam doloridos de
frio, mas se eu soltasse agora eu morreria e esse abismo seria o meu túmulo,
minha alma seria eternamente atormentada nesse inferno gelado e eu me recusava
a deixar isso acontecer, a luz se aproximava. O fim da corda chega, minhas mãos
já estavam com uma dor insuportável por causa do frio, mas eu precisava sair
daqui.
“Charles! Me ajuda!”. Minha voz
não passava de um som abafado por fora das vestes.
O comunicador deveria funcionar
em uma distância tão curta, e mesmo assim não tive resposta de Charles. Eu
consigo me segurar na base horizontal da corda com um braço e com o outro eu me
agarro em um dos três apoios, desesperadamente usando minhas pernas para
conseguir o mínimo de impulso que fosse.
“Charles? Você não está me
ouvindo, droga? Me ajuda!”. Mais um grito desesperado que foi em vão.
Eu sequer conseguia olhar ao redor para
procurar Charles, como se qualquer erro fosse ser o motivo de minha queda. Até
que eu finamente consigo me arrastar para fora do buraco, ofegante e gemendo de
dor pelo frio intenso nas minhas mão e joelhos. Eu me arrasto para longe do
buraco até meus braços e pernas falharem, então eu finalmente começo a procurar
Charles até o encontrar. Ele estava de costas, olhando para cima, não movia um
músculo sequer.
“Charles seu merda, por que não
me ajudou? O que você está fazendo?”. Minha voz ofegante e fraca usou todas as
minhas forças, eu só queria ir embora.
Charles então leva sua mão ao pescoço, onde
ficava o comando de microfone, e o liga, sinalizando em meu visor a troca de
uma luz cinza escuro para um cinza mais claro que era quase imperceptível se
comparada a anterior.
“Nós o libertamos”. Diz Charles
com uma voz trêmula como se estivesse chorando, e então completa. “Eu estou com
medo Markus”. Charles então cai de joelhos.
Eu já estava sem forças, com certeza
congelaria até a morte por um erro idiota guiado pelo desespero, então eu só
consegui me virar me deitando de costas olhando para o céu e imediatamente me
arrependi.
A lua não estava lá antes, era como um abismo
no céu, eu tinha certeza de que ela estava olhando minha alma, absorvendo minha
mente e deixando apenas a loucura e tormenta para trás. Ela então começou a
sorrir, e assim a noite veio.
Uma lágrima escorreu de meus olhos, eu não
queria morrer.
Escrita por NicklerJoy.
História muito boa, tem potencial.
ResponderExcluirtem potencial eu diria, muito boa
ExcluirIsso tá muito bom. Ja quero continuação
ResponderExcluirO Nickler amigão ai disse que provavelmente não vai ter próxima parte, mas vamos ver.
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