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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 8

Creepysterror


Eu estava sentando paralisado; as palavras fluindo de John, as vezes junto com uma gagueira persistente, mas ainda assim com uma convicção e veracidade que achei difícil de ignorar, mesmo com meu ceticismo. Este homem acreditava piamente que tudo aquilo que me dissera era verdade. Dale, aparentemente, tinha ido o procurar, contra a vontade de todos os outros moradores. Ele tinha, a muito tempo atrás, perdido um filho e não queria que mais ninguém sucumbisse para a malevolência que aparentemente que vivia na encosta. O senhorio, sendo um velho amigo do fazendeiro, eventualmente concordou em os dois irem de carro até o pé da colina, esperando que John seguiria a luz dos faróis e conseguisse ser o primeiro a sair de lá vivo. Entretanto, não importava o quanto eles estavam dispostos a ajudar, nunca iriam se quer tocar no portão nem cruzar a limiar do morro. John tinha que o fazer sozinho, e ele o fez, quando o perseguidor estava quase o alcançando.
Me lembro de soltar um suspiro de alivio assim que ele terminou de contar sua história e tomou seu último gole de vinho de frente para a fogueira. Houve um momento de silêncio entre nós, e percebi que o bar inteiro estava banhando em reticências ansiosas. Uma que era quase palpável, como se os que estivessem lá quisessem falar, mas não tinham coragem para o fazer.

Finalmente falei, tentando soar o mais reconfortante o possível: "É uma história esplêndida, John, mas é apenas uma história. Tenho certeza que há uma explicação racional para tudo isso."

Ele abaixou a cabeça, olhando para o chão.

"Se é só uma história, então por que eu não posso ir embora?" ele disse, me olhando com uma expressão meio amedrontada e meio desesperada.

"O que você quer dizer por não poder ir embora?"

"Estou aqui faz três meses!" ele gritou, "As vezes eu desejo que Dale apenas tivesse me deixado por lá."

"John," Eu disse, me inclinando e pousando minha mão em seu ombro, " Você pode ir embora quando quiser".

Mas eu podia ver uma expressão de descrença em seu rosto. Ele tinha sido consumido por seja lá quais mitos e superstições que os moradores dali tinham enfiado-lhe goela baixo. Cheguei a conclusão que sua mente estava corrompida. Claro que eu sentia que o senhorio e os outros tinham apenas boas intenções, mas eu estava certo que uma explicação convencional poderia vir a curar sua mente aflita.

"Estou indo para Glasgow amanhã." Eu disse alegremente. "Porque não vem comigo? O ônibus estará aqui pela tarde e nós podemos viajar juntos. Mas... Claro, eu tinha esquecido, você está com seu carro. Por favor, não achei que eu estava pescando uma carona."

Ri, mas John só meu olhava tristemente, e então respondeu: " Meu carro é um caso perdido, destruído."

"Sério? Espero que não seja tão ruim assim... O que aconteceu?"

"Levei vários dias para me recuperar de minhas experiências na colina", disse arrasado, "mas quando melhorei, arrumei minhas malas, agradeci a Dale e ao senhorio e então dirigi para fora do vilarejo. Depois de alguns kilometros uma chuva forte começou a cair. A visibilidade estava terrível, mas eu queria ir embora logo. Perdi o controle do carro e bati em uma árvore. Sobrevivi, mas o carro está perdido."

"Bem, acidentes acontecem. Pelo menos você está bem. O que acha de outra bebida?" Disse, me levantando. John segurou meu braço com força.

"Não foi um acidente. Havia outra coisa na estrada. Eu o vi lá. Um homem... Eu acho. Pelo menos parecia com um homem. Eu virei o volante para desviar dele."

"Foi uma coisa boa. A última coisa que você gostaria era de matar acidentalmente um morador local" Minhas piadas mais uma vez não apaziguaram suas frustrações.

Eu me sentei de volta enquanto ele me contava sua situação. Depois do acidente com o carro, que foi rebocado de volta para a pousada por Dale, John tentou tudo que pode para sair dali. Toda vez que tentava usar o ônibus local, acontecia um problema. O veiculo quebrava ou talvez um deslizamento acontecia, bloqueando a entrada da vila - John até afirmou que era por isso que eu tivera de passar a noite na vila aquela noite, para pegar o ônibus no dia seguinte.

O homem era implacável. Por três meses que estivera como convidado no "O Lorde de Dungorth", e não importava o quanto tentasse, ele não conseguia atravessar os limites da vila. Várias vezes ele tentou ir andando até a cidade mais próxima, mas em cada ocasião era forçado a voltar por causa de uma tempestade perigosa e cruel que chegava sem aviso prévio. Ele tentara telefonar pedindo ajuda, mas seu celular nunca tinha sinal e enquanto usava o algum telefone local só ouvia estática. O mesmo acontecia se alguém tentava fazer uma ligação no nome dele.

Mesmo que eu não conseguisse explicar cada um daqueles acontecimentos, eu estava certo que uma série de eventos racionais e ocasionais poderiam ser responsáveis por cada um. Era loucura que alguém obviamente tão inteligente e articulado estivesse acreditando em tal insensatez. Eu, genuinamente, sentia simpatia por aquele homem.

"Você é vítima de uma profecia auto-realizada", eu disse, confiante.

"O que você quer dizer com isso?" John perguntou.

"Eu já trabalhei em muitas vilas como esta. Você vem para uma velha cidade do país com um terreno assombrado. É como se fosse outro mundo distinto da vida moderna de Londres. Então você é abastecido com paranoia. Um mito, em que os moradores acreditam em uma parte de terra amaldiçoada. Absorvendo tudo isso, você tem o azar de bater o carro em uma árvore e, antes que perceba, começa a acreditar na coisa toda. Talvez você tenha até imaginado a pessoa na estrada. Talvez até mesmo todo o conflito."

"E a colina?" perguntou, obviamente intrigado com qualquer possibilidade de fuga que pudesse ser eficaz.

"Provavelmente um efeito placebo de todas as histórias que você ouviu. Isso ou, quem sabe, talvez você tenha comido algo adulterado ou algum vírus que tenha feito você alucinar a coisa toda. Talvez até exista um doido morando na igreja."

Estava óbvio que ele não estava convencido, mas eu sentia que era meu dever levar aquela pobre alma para fora daquela vila, de volta para Glasgow, onde ele poderia dar um jeito de ir para casa. Eu já presenciara o estrago que crenças não fundamentadas podiam causar em pessoas e comunidades, e sempre fiquei intimidado por isso. Eu só queria ajudar.

"Amanhã nós pegaremos o ônibus juntos e te pagarei uma bebida em Glasgow."

Ele não replicou muito, só acenou com a cabeça em um relutante acordo.



Continua na Parte 9...

On A Hill - Sob a Colina - Parte 5



Respirando fundo, ele se arrastou pela grama torcida, empurrando as folhas que ficavam penduradas das grandes árvores para o lado. Lá, sentada naquela colina que os moradores tinham medo de ir, estava o que parecia ser uma velha capela ou igreja. Uma torre se esticava em direção ao céu, com grandes janelas de vitral - as quais muitas estavam quebradas - pontilhando a construção cinza de pedra, lembrando de dias mais importantes e felizes.

O coração de John acelerou apenas com a visão daquilo. Talvez por isso que o morro tinha sido manchado de superstições e mitos. Uma igreja velha e abandonada era motivo suficiente para criar histórias assombradas. Ainda assim, a igreja não bania os sentimentos de cautela de John. Enquanto passava por uma camada de folhas, grama e hera, não podia negar como se sentia nervoso. Suor começou a pingar de seu rosto, enquanto seu coração bombeava sangue em um ritmo instável e inquieto.

Deixar a colina ainda era a sua principal intenção, mas enquanto se aproximava do arco de pedra que abrigava a porta da igreja, ele supôs que os moradores ficariam mais abertos as suas explicações de o porque as pessoas temiam o lugar, se eles soubessem que ele existia lá dentro. Sem conhecer o interior da igreja, os conterrâneos poderiam mais uma vez criar histórias e mentiras sobre o que permanecia escondido.

A porta era de um carvalho marrom escuro com riscos metálicos negros que adornavam a superfície, mas infelizmente parecia trancada. John deu alguns firmes e sólidos empurrões e então, surpreendentemente, com rangido de incontáveis anos se abriu um pouco, criando espaço apenas para deslizar para dentro. Espiando pela fresta, podia ver que o chão estava coberto de alvenaria que havia caído do teto. Uma grande quantidade de pedras estavam empilhadas atrás da porta, e o seu peso em conjunto mantinha a porta fechada. Apesar de terem cedido um pouco, elas proporcionavam resistência o suficiente para não abrir completamente.

Um ar mofado e frio saiu de dentro, com cheiro rançoso de pedras muito tempo abandonadas. Por um momento, John considerou o que deveria fazer. Uma construção deixada para apodrecer por décadas, se não séculos, poderia ser muito perigosa, mas o desejo de provar que tinha corajosamente visto tudo que podia ser visto o queimava por dentro. Queria provar que não haviam fantasmas ou demônios ali, apenas fragmentos de uma história esquecida.

Pegando seu telefone, ele enfiou a mão através da fresta e tirou algumas fotos com flash. A luz iluminou o todo o interior, mostrando estar cheio de escombros que obviamente tinha caído do telhado, mas no fundo do salão parecia estar um tipo de altar. Do seu ponto de vista, parecia ser feito de pedra, descansando em um degrau elevado, vários metros acima. Acima disso, John ficou emocionado pela presença de uma inscrição esculpida na parede, mas infelizmente não conseguia decifrar o que estava escrito. Suspirou, pois sabia que se quisesse ler, teria de entrar. O medo de ficar machucado ou preso de algo que caísse do teto era primordial, mas sua curiosidade estava em pleno voo, seu entusiasmo beirando tanto o enjoo em seu estomago quanto o frio entorpecente nas suas extremidades.

Depois de debater os riscos consigo mesmo, John decidiu que iria o mais silenciosamente e cuidadosamente possível para reduzir os riscos de um desmoronamento. Ele só precisava olhar. Respirando fundo, deu um jeito de se apertar na entrada, e com um pouco de esforço, foi para a escuridão lá de dentro. Usando uma pequena luz de trás do seu celular, ele estava melhor situado para inspecionar os arredores mais facilmente. O ar estava significativamente mais frio, raspando o fundo de sua garganta quando inalava-o, e embora já estivesse esperando que o interior fosse mais gelado do que o lado de fora por ser feito inteiramente de pedra, a igreja parecia mais catacumba do que qualquer lugar sagrado.

Pisando mais cuidadosamente que podia, tentando não mexer ou desalojar as grandes pilhas de escombros no chão, John fixou seus olhos treinados no teto alto, nervoso de que qualquer barulho poderia fazer com que a alvenaria caísse sobre sua cabeça. A extensão dos danos ficou mais clara, com a pouca luz que penetrava o lugar por entre umas rachaduras e buracos abertos como feridas telhado; entretanto, o salão continuava obscuro. John achou isso curioso pois o interior, de certa forma, deveria ser mais visível. Era como se a luz fosse absorvida pelos cantos escuros do salão, mas imediatamente descartou esse pensamento pois precisava manter seus nervos sob controle - ambientes desconhecidos e isolados podem distrair até a mais racional das mentes.

Depois de escalar mais de duas pilhas de escombros, sendo cuidadoso e evitando várias partes afiadas de madeira quebrada, ele finalmente se encontrou na parte traseira da igreja. Lá ficava o altar - uma mesa esculpida em pedra alisada feitas por mãos muito habilidosas. Era fácil de imaginar o quão assustador um padre da idade das trevas parecia, posto lá em cima, falando contos de um ponto de vista ignorante, espumando pela boca sobre as condenações e forças demoníacas presas na alma dos inocentes.

Uma sensação de euforia e emoção encheu a mente de John - estar perto de algo tão cheio de história, mas ele considerava a possibilidade de que o altar tivesse sido extraído daquele mesmo morro, arrancado de um depósito de rochas no fundo da terra, nascido de processos mais antigos que a própria humanidade. Mas a emoção de uma descoberta tão antiga e rara extinguiu rapidamente esses devaneios. Ele estava tão enamorado pelo objeto, que quase deixou passar uma pequena porta aberta à direita do altar que parecia liderar à um lance de escada para uma câmara subterrânea, possivelmente um cofre ou um tumba. Se arrepiando ao pensar o que poderia jazer lá, sabendo que, mesmo com seu nível de ceticismo, não haveriam aventuras lá por baixo. Superstição ou não, vagar por túneis em cima de uma construção decadente não era uma ideia inteligente.

Apontando a luz branca e estreita de seu celular para o fundo da sala, olhou desconfiado para uma escada empoeirada que levava até a plataforma do altar. Um arranjo natural que um padre ou pastor usufruiu para seus serviços a centenas de anos atrás, mas ele ainda relutava a pensar que essa era mesmo a função exercida ali. De novo, um mal-estar rastejou pelo seu ser enquanto imaginava um homem santo, de pé, acima de todos, gritando parábolas enigmáticas e catastrófica para um antigo público assustado e confuso.

Fazendo seu caminho até a plataforma, sua atenção foi desviada do chão instável por estar ansioso para estudar mais de perto as inscrições na parede do fundo. Então, seu pé prendeu em uma pedra quebrada no último degrau. Tropeçando abruptamente para frente, o ombro de John bateu dolorosamente contra a beirada do altar de pedra, antes de conseguir amortecer a queda com seu braço no chão duro e frio da plataforma. O barulho de sua queda ecoou por toda a construção, com o som ricocheteando pelas paredes até o teto. Por um segundo, achou que tinha ouvido um barulho estranho vindo de outro lugar, perto dele. Algumas pequenas pedras caíram de cima, quebrando-se no chão, como se estivessem avisando que coisas mais pesadas e mortais estavam por vir. O alívio correu pelo corpo de John. Feliz pelas pedras não terem caído em cima dele, e sim um pouco a frente, ele estava ficando um pouco inseguro de sua segurança.

Se levantou vagarosamente, segurando o ombro que agora estava machucado e dolorido, manteve seus olhos treinados no teto. Tirando o som do vento que assobiava entre rachaduras e buracos nas paredes, o silêncio era onipotente. Nervoso de que quaisquer outros movimentos bruscos fariam o teto desabar em sua cabeça, John esperou vários minutos até achar que temporariamente estava a salvo dos detritos do teto. Então, mais devagar do que antes, se virou e avaliou o altar de perto. Iconografias religiosas estavam esculpidas dos lados, juntamente com símbolos estranhos e irregulares que não reconhecia. Era fácil de imaginar algum tipo de comunhão sendo exercida ali, com cada membro da congregação se aproximando sombriamente - descabelados e mal nutridos - recebendo a benção de um padre severo, que falava mais de ira do que sobre o amor.

John poderia admitir a qualquer um que não era o cara mais criativo ou imaginativo da terra, mas ali, naquele lugar esquecido do mundo, ele estava surpreso de quão vivido sua imaginação se tornara. Ele quase podia visualizar aqueles que um dia tinham rezado ali - rostos pálidos, protegidos contra o inverno severo, corpos murchos pelos alimentos inúteis e sem nutrientes da colheita, e ainda por cima com medo de algo extraordinário e indefinido que sufocavam todos e quaisquer pensamentos que tinham. Sim, aquela igreja era um lugar moribundo e pequeno, mas tornava fácil preencher a mente da população com fantasmas e espíritos. Mas claro, ele não tinha nenhuma maneira de saber se suas suposições estavam certas ou erradas.

Ele sacudiu a cabeça para expulsar aqueles pensamentos e riu baixinho para si mesmo por ter deixado se afetar tão facilmente pelo lugar, até que seus olhos fixaram-se na inscrição esculpida acima, na parede do fundo. Estendendo a mão, correu os dedos na profundidade e as bordas irregulares deixadas pela talhadeira do autor. Estava claro que a mensagem da parede fugia do cenário do lugar, escrita as pressas, com as letras todas desalinhadas, o que sugeria que tinham sido produto de alguém apressado - com intenção de ficar o menor tempo possível dentro da igreja. Dando um passo pra trás, a luz do celular iluminou as palavras que diziam:

"Aqueles que habitavam em Dungorth tomaram esta colina em 1472. Em 1481 foi devolvida, na esperança de que aqueles o qual perturbamos, perdoem nossas ofensas."


Continua na Parte 6...

On A Hill - Sob a Colina - Parte 4

Creepysterror


Apesar de ter ficado abalado pela reação volátil do velho fazendeiro às suas perguntas, ainda assim, John queria ir até a colina. Sabendo que os moradores tentariam dissuadi-lo ou mesmo contê-lo fisicamente, ele estava decidido de ir diretamente até lá assim que saísse da fazenda. Enquanto fazia seu caminho, pensou que algo bom poderia vir disso. Ele poderia quebrar o medo daquele lugar, mas era mais que aquilo, então sua teimosia o motivou. Queria provar que estava certo, e se descobrisse um pedaço de terreno com potencial, melhor ainda.
Chegar lá era mais problemático do que ele havia previsto. Enquanto havia uma estradinha de terra que ia até o pé da colina, aparentemente havia sido bloqueada pelos moradores. Um arranjo de grandes placas de concreto, tijolos, velhos postes de madeira e outros materiais descartados ficavam barrando uma das extremidades fazendo com que a entrada de carro fosse impossível e a pé muito difícil.

Vendo o ponto físico e real que os moradores chegavam para evitar que alguém tivesse acesso à montanha, John sentiu um impulso crescer dentro de si, que devia subir até o topo e voltar para a vila para mostrar a eles quão ridículos estavam sendo. Depois de deixar seu carro em uma das entradas que haviam sido bloqueadas, ele escalou por cima da pilha de escombros, com algum esforço e cuidado para não se cortar com algum objeto, ele fez seu caminho ao longo da estrada. Por um momento considerou o que poderia encontrar nas encostas e a real possibilidade de achar os desagradáveis restos mortais de um visitante anterior; pensamentos que o fizeram questionar seriamente suas atuais ações.

A estrada era larga o suficiente apenas para um único carro e, obviamente, tinha sido deixada ao leu fazia algum tempo, cheia de buracos, lama e cascalho cobrindo a pista em algumas partes. Enquanto a colina ia surgindo ao longe, ele ficou impressionado pois esta era muito maior do que tinha estimado. De longe, tinha pensado que uma caminhada rápida o levaria até o topo, mas agora olhando ela se arquear para o longe, percebeu que iria demorar cerca de duas horas para chegar até o pico e isso se conseguisse encontrar uma trilha decente para se traçar. O relógio de pulso marcava que ainda era começo da tarde e ele acreditou que teria luz do dia para ir até topo e descer até seu carro em segurança.

Foi aí que ele começou a notar algumas peculiaridades únicas na paisagem. Ela ficava sozinha, com nenhuma outra colina ou montanha ao redor, como se tivesse sido deixada lá em isolamento, em quarentena da sua própria terra. Sua subida parecia mais torta do que parecia à distancia; assimétrica, ligeiramente inclinada para um lado de forma bizarra, sua superfície coberta de esporádicos pacotes de árvore, enquanto o capim alto e selvagem, um emaranhado de fios amarelos e mortos - ou estrangulados - pelos rebentos verdes que com sucesso cobriam a maior parte da área. O mais surpreendente era que havia uma trilha feita pela mão do homem que ia em direção ao topo, o qual ele ficou encantado em descobrir. Tinha sido privada do ataque da grama esguia que consumia todo o resto. Por um momento John pensou que era tudo uma farsa e era vítima de uma pegadinha, pois o caminho parecia bem desgasto como se fosse usado com frequência. Mas então um pensamento muito mais obscuro flertou com sua sensibilidade racional: Que a montanha estava se inclinando, atraindo os visitantes, acolhendo-os à um destino desconhecido. Ele rapidamente tirou isso da cabeça e continuou.

Um velho portão bloqueava o caminho. Era de madeira, mas obviamente tinha sido submetido fazia algum tempo aos estragos que o inverno escocês proporcionava, sendo que sua superfície tinha sido parcialmente devorada por musgo verde e mofo. Quando abriu, John cruzou a linha do limite e quando o portão se fechou atrás dele, um arrepio percorreu-lhe a espinha acompanhada por uma leve sensação de náusea. Se fosse um homem supersticioso, ele teria dito que não era um bom lugar, que o ar ao seu redor parecia sujo... Mas ele não era facilmente afetado por tais pensamentos, então era mais fácil se enganar pensando ser algo que tinha comido ao invés de dar o braço a torcer e dizer que o morro que estava o deixando nervoso.

Passeando pela trilha, ele tentou fazer no menor tempo possível. A ideia de ter de voltar durante a noite não era uma de ser apreciada, com o caminho inseguro e invisível e como o céu da tarde já estava um tanto mais escuro do que tinha estado ao meio-di. Marchou a subida com intenção, animado para ver a vista lá de cima.

A inclinação aumentou ligeiramente, junto com natureza esporádica que o cercava. O capim alto tinha tomado tudo a não ser a trilha, e grupos ocasionais de árvores o ladeavam, e agora ele começava a entender porque os habitantes locais começaram a temer o lugar - os juncos de grama morta e hera rodeavam cada tronco sugerindo um propósito malévolo. Algumas árvores tinham caído, ficando em posições estranhas em ângulos acentuados, como se suas copas tivessem sido puxadas para a terra, com sua casca quebradas pelos dedos de grama que se agarrava a elas como um verdadeiro leviatã - mas enquanto a ideia era fantasiosa, de certa forma a encosta parecia errada, de um jeito não natural, e enquanto subia, um ar gélido começou a rastejar pelos seus braços. Ele já havia efetuado caminhas e subidas e em seu trabalho tinha que enfrentar regiões selvagens enquanto avaliava terrenos, mas isso parecia diferente. Era como se a terra afetasse o clima, e não o tempo, tornando-se cada vez mais difícil de ignorar a atmosfera opressiva da montanha.

Parando por um momento, ele esfregou os braços às pressas para aquecê-los, fazendo uma pausa para avaliar seu progresso. Ele ficou surpreso de quanto já havia subido. Faziam não mais que vinte minutos, mas olhando na direção de que tinha vindo, ele deveria estar na metade da subida da montanha. Mas como? Cada vez que ele tentava avaliar o tamanho da colina, parecia sempre confundir a conclusão anterior. Era como se o lugar fosse, de certa forma, deformado. John riu sozinho por não conseguir ter nenhuma noção da dimensão dos arredores. Nenhum pássaro, nenhum farfalhar de arbustos por causa de lebres, raposas ou até mesmo insetos Na verdade, toda a encosta parecia morta. Não, não morta, ele pensou, e sim nas garras da própria morte. No entanto, era inverno, então ele devia esperar a esterilidade do campo, mas o silêncio continuava a perturbá-lo.

Então outro fenômeno estranho chamou sua atenção. Uma contradição. Algo que contradizia sua própria memória, suas capacidade. O caminho atrás dele agora era diferente. Enquanto subia, John tinha ficado surpreendido de como o caminho não era tomado de mato alto, como todo o resto era. Isso o fez suspeitar que talvez fosse usado regularmente, mas agora olhando para baixo, parecia estar engolido pela natureza, talvez não completamente mas, obviamente, muito mais do que antes. O capim tinha tomado conta da trilha, enquanto arbustos e árvores se inclinavam perante, parecendo muito mais detonado do que ele inicialmente achou - mas o caminha a frente estava limpo.

Olhando para o resto do mundo lá em baixo, tudo parecia tão distante e de certa forma sintético. As cores não eram tão vividas, as campinas que povoavam os vales tinham perdido seus tons vibrantes, e o próprio céu que se filtrava em direção do chão de um jeito que John só podia descrever como "luz falsa".

Ele lutou à negar os sentimentos desagradáveis que estava experimentando, e enquanto continuava por um tempo, subindo, a náusea que tinha aparecido quando atravessou o portão, voltara. A sensação de frio que tinha envolto suas extremidades havia progredido como uma doença, penetrando suas entranhas e congelando-o até os ossos. John tinha dado o seu melhor para chegar até o topo, mas não era idiota. Ele sabia que não passava um mês sem uma notícia sobre um trilhador inexperiente ou alpinista se perdendo em uma montanha remota, e enquanto a colina parecia ser muito mais humilde do que essas, ele estava disposto a aceitar a derrota, até feliz por isso. Os arredores pareciam ameaçadores, e sua atual condição física foi o suficiente para dar retirada.

Embora não tivera alcançado o cume, John decidiu que, se ele ainda conseguisse voltar para a vila depois de estar na encosta, seria suficiente para argumentar contra as superstições. Talvez ele voltasse no verão para avaliar a terra, considerando sua decisão mais como um adiantamento do que admissão de fracasso; entreter os moradores locais com a noção de que estiveram certo todo esse tempo não era algo que ele queria.

Teria de haver evidências da sua aventura, é claro. Tirando do seu bolso um celular com câmera, o qual ele usava para documentar seu trabalho, John começou a tremer com a volta da sensação gelada subindo por seus braços, provocando um desejo intenso de ser aquecido pela lareira da pousada. Com alguns cliques rápidos, fotografou ao redor da colina e depois, como uma piada, tirou uma foto de si mesmo forçando um sorriso e com árvores e capim alto de fundo.

O que ele viu quando estava revendo as fotos tiradas fez seu corpo tremer em arrepio. As primeiras fotos da área saíram como esperado, mas a última tirada mostrava algo entre os arbustos atrás dele - que parecia algum tipo de construção. A mente de John o mandava sair correndo dali, mas ele ficou fascinado com a ideia de uma construção escondida, afastada do mundo exterior por uma barreira natural de folhas, ramos e mitos.


Continua na Parte 5...

On A Hill - Sob a Colina - Parte 3

Creepysterror


Com apenas alguns deveres administrativos a serem cumpridos, John estava esperançoso que poderia concluir até o meio-dia e então fazer sua viagem de 7 ou 8 horas de volta à Londres, terminar alguns problemas inacabados antes de voltar para sua rotina habitual. Em uma mesa de seu apartamento estava uma garrafa de Uísque de malte de 30 anos, o qual ele iria tomar uma taça depois de concluir o importante negócio. Esta seria acompanhada por um ou dois cigarros - o único momento que realmente fumava, pois não confiava em si mesmo e não queria tornar isso um hábito - pediria algo pela tele-entrega e o outro dia seria folga do trabalho para fazer o que bem entendesse. Essas eram os momentos que ele mais gostava; a conclusão de um acordo e um descanso depois, e mais uma vez, ser enviado a um canto remoto das Ilhas Britânicas.

Sentado dentro do chalé do Fazendeiro Dale, John aproveitava o aconchego do lugar e suas decorações antiquadas que o lembravam da casa da avó quando criança. Muitas partes do revestimento eram originais e ele tinha certeza que a casa tinha passado por incontáveis gerações. Dale parecia estar com um humor mais agradável do que no dia anterior, fazendo ao seu convidado uma xícara de chá e um sanduíche enquanto John preparava o resto da papelada.

Enquanto o velho fazendeiro perambulava por lá com uma chaleira e um par de xícaras nas mãos, John olhou através da janela mais próxima, notando que a casa em si dava em direção à colina-sem-nome, a poucos quilômetros de distância. Sem pensar, mencionou casualmente que aqueles na pousada pareciam cautelosos a respeito disso também.

Depois de alcançar o chá a John, Dale sentou no lado oposto da mesa da cozinha, mexendo seu chá, pensativo. Houve silêncio, semelhando ao da noite anterior e apesar do ambiente acolhedor, mais uma vez John se sentiu desconfortável. Então, eventualmente aquele sentimento inquietante deu lugar à irritação. Por que simplesmente ele não podia perguntar por que as pessoas tinham tanto medo daquilo? Eram apenas superstições, e era loucura pensar que seres humanos na idade moderna ainda se abalavam tão facilmente com simples histórias.

Depois de brincar com a idéia de permanecer calado, John finalmente quebrou o silêncio: “Sr. Dale, não quero ser rude, mas desde que cheguei à vila, as pessoas parecem estar agindo de forma estranha sobre aquela colina como se eu tivesse cometido um crime apenas por mencioná-la.”

“Talvez você tenha,” respondeu ele. “Talvez você não devesse ter mesmo mencionado-a, meu filho”.

“Com todo o respeito, eu só queria saber quem era o dono, pois achei que poderia ser bom para a região, um desenvolvimento imobiliário emocionante”.

“Desenvolvimento imobiliário,” Dale zombou. “A única coisa que deveria ser feito com aquele solo é cobri-lo com sal”.

“É apenas uma colina”.

“Apenas uma colina...” O velho fazendeiro parou por um momento, olhando para fora da janela em direção ao motivo que gerava desconforto na conversa.

“Sr. Dale”, John disse, desta vez mais suavemente “Eu já estive em lugares de belas paisagens por todo Reino Unido. Sei que algumas regiões têm histórias, recebem nomes ruins, ou parecem um pouco assustadoras, mas em meus anos de experiência, nunca cruzei com nenhuma que não fosse apenas superstições. Vou até prová-lo”.

“Provar o quê, rapaz?” disse Sr. Dale de repente, apreensivo.

"Eu gostaria de uma passeio antes de voltar para Londres. Acho que vou dar uma olhada."

Levantando-se abruptamente, o fazendeiro agora parecia mais ansioso do que com raiva. Seu lábio superior tremia e parecia que o homem havia se escondido do mundo exterior em uma pilha destrutiva de nervos, apenas esperando o momento de explodir.

"Você não pode ir lá!" Gritou.

"Por favor, Sr. Dale. Não tive a intenção de ofendê-lo." Os pensamentos de John agora voltaram-se para os terrenos que tinha em mãos, e sem nada assinado ainda, não queira arriscar-se com sua curiosidade. Como explicaria isso para seu cliente?

O senhor desabou de volta em sua cadeira com os olhos nublados, como se estivesse lutando em uma batalha já perdida contra terríveis memórias.

"Eu perdi meu filho para aquele lugar..." ele disse, arrastadamente.

"Ah, meu Deus, eu sinto muito, Sr. Dale. Por favor, aceite minhas desculpas, vamos esquecer tudo isso."

"Não, não é sua culpa." Do outro lado da mesa, o velho fazendeiro sorriu mesmo com um semblante triste. "Ninguém fala do meu garoto. Não sou autorizado também. Os moradores locais acham que apenas em falar dele ou dos outros, trará mais miséria para a vila.

Após uma vaga pausa, ele quebrou o silêncio dizendo "Ele era um bom rapaz. Nós não somos feitos pra enterrar os próprios filho, ah Deus..."

Enterrando seu rosto nas mãos, ele começou a soluçar incontrolavelmente. John não sabia o que dizer nem fazer. A única coisa que podia oferecer era um "Eu sinto muito. Tem... tem algo que eu possa fazer?"

Limpando as lágrimas, Dale recostou-se na cadeira, melancolicamente. Depois de alguns suspiros, se recompôs e, com a voz tremida de emoção, falou "Ninguém sabe quando começou, ninguém sabe o porquê."

"Começou o que?" John perguntou, sua compaixão agora dominado pela curiosidade.

"Eu Cresci nessa vila e mesmo quando era um menino as pessoas não faziam ideia. Claro, eles contavam velhas histórias sobre uma disputa que durou centenas de anos entre duas famílias poderosas." Dale se inclinou pra frente coçando sua barba grisalha antes de continuar. " Mas ninguém sabia seus nomes, pelo menos não estavam disposto a falar sobre a colina. As escrituras sobre aquela terra provavelmente estão em um cofre seguro, com o dono vivendo uma vida de alto padrão, desconhecendo o preço que todos nós estamos pagando."

"Certamente deve haver registro das propriedades?"

"Tenho certeza que há, rapaz, mas você não vai encontrar ninguém que queira saber disso aqui. Ao longo dos anos, forasteiros ignoravam os avisos dos locais e iam se aventurar por lá. Normalmente algumas crianças desafiando umas ao outras a ir. Mas eles nunca voltam." Dale se remexeu inconfortavelmente em sua cadeira enquanto as lagrimas voltavam a encher seus olhos. "Meu garoto... Ele não me ouviu. E assim como os outros, ele foi e nunca mais voltou."

"Certamente você foi atrás dele?" John perguntou em descrença.

"Sim, eu fui. Tentei ir até o topo, mas com o coração partido pelo sofrimento que minha mulher e meus outros filhos estavam, eles me obrigaram a voltar para o pé da colina. Eles sabiam que me levaria também."

"Então, seu filho poderia estar lá em cima, machucado, morrendo, e vocês não foram atrás dele por causa de uma superstição idiota?" A ideia de que mitos e mentiras poderia tem resultado na morte de um menino enraiveceu John, mesmo que tenha se envergonhado assim que suas palavras saíram de sua boca.

De repente, Dale voou sobre a mesa e agarrou o convidado indesejado pelo colarinho, empurrando-o sobre um fogão velho. "Com quem você pensa que está falando?!" Dale gritou do fundo do âmago, com a voz tremendo. Para um senhor, ele ainda estava forte feito um touro.

Por um breve momento ele achou que o fazendeiro iria o espancar, mas então, tão rápido quanto antes, Dale o soltou e o deu as costas. "Quando você tem outras três crianças para alimentar, e uma esposa que ficaria de coração partido, você pensa em subir ao topo duas vezes. Além disso, alguns garotos da vila ajudaram a minha esposa a me segurar. Não porque se preocupavam comigo - bem, talvez, alguns sim - mas principalmente porque eles vivem em constante medo daquele lugar, do que tem lá em cima. De que talvez desça e venha nos fazer uma 'visita'."

Se endireitando na cadeira, o velho fazendeiro rabiscou sua assinatura nos papeis restantes e, em seguida, pediu a John para ir embora, o que ele fez depois de se desculpar mais algumas vezes. Na porta, os dois homens se despediriam educadamente, e como um simples acréscimo Dale falou "Há um velho ditado por aqui: 'Melhor deixar pra lá'. Você seria sábio se o seguisse."


Continua na Parte 4...

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Teste de entidade



Os antepassados diziam que espíritos e entidades não entram em nossa casa sem nossa permissão. Eles ficam parados nas portas e janelas, à espreita, esperando para serem convidados pelos donos da casa para entrar, da maneira mais informal possível. Um exemplo disso, é quando a porta de sua casa se abre sozinha. Muitas pessoas falam em tom de brincadeira: "Pode entrar".
É neste momento que as entidades entram e ficam por ali, encostados em você, até virarem obsessores.


Este é o teste de contato com a entidade, você pode fazer para realizar um teste da proximidade que uma entidade pode estar de você, ou, com sorte se ela não estiver, tente por sua propria conta e risco!


Bom, vamos ao ritual, você esta pronto?
O que você ira precisar, é de uma vela, um isqueiro ou fosforo, e só.
Vamos lá!


Se quiser se certificar de que algo entrou em sua casa, ao anoitecer, você deve seguir os seguintes passos:
1 - acenda uma vela aos pés de alguma porta de sua casa.


2 - sente-se em frente à ela. Acalme sua mente e fale em um tom de voz mediano: "Se quiser entrar, a vela terá que apagar". Caso a vela se apague, a entidade confirmou sua presença ali e está pronta para entrar, lembrando que você não deve convida-la para entrar.


Caso a vela continue acesa, não há entidade alguma por ali.


Agora, se a vela cair, a entidade já está, há muito tempo, dentro de sua casa..


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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 2

Creepysterror


John inicialmente não intencionava passar mais do que alguns dias na vila. Mesmo depois de ter viajado o dia inteiro de Londres, e a noite trazendo com ela as mordidas do inverno escocês, ele pretendia começar o mais rápido possível - quanto mais rápido terminasse, o mais rápido estaria em casa.

Trabalhando para uma grande empresa de aquisição de propriedades, era seu trabalho facilitar aos clientes ricos a busca de um terreno para construir. O indivíduo o qual ele representava estava especialmente interessado em comprar uma terra com bela vista para o campo, onde desejava construir uma enorme casa de campo para sua família. O local em questão tinha sido recentemente colocado à venda por um fazendeiro local que estava passando por maus bocados pela baixa da economia. Portanto, John foi contratado para avaliar a terra e negociar um bom preço, baseada nas recomendações feitas por um grupo de inspetores que tinham estado lá na semana anterior.

Após se instalar no O Lorde de Dungorth, ele dirigiu seu carro para a fazenda que se situava a apenas alguns quilômetros fora da vila. Toda a área consistia de vastos campos onde colheitas eram cultivadas e animais pastavam, alguns acres com florestas, e um rio ou riacho borbulhante ocasional. A negociação simplesmente fluiu, o fazendeiro - um homem idoso chamado Dale - estava precisando de capital o mais rápido possível para sustentar de pé o resto de suas fazendas, enquanto o cliente estava entusiasmando com o potencial da compra e desejava concluir o negócio rapidamente.

Independente disso, John era cuidadoso em finalizar um acordo antes dele mesmo dar uma olhada na propriedade. Durante os anos, ele desenvolveu uma reputação de oferecer exatamente o que o cliente queria, sem nenhuma surpresa desagradável após a compra, como afundamentos de terra ou quaisquer outras dificuldades de planejamento. Apesar dele não gostar muito do trabalho de avaliação de terrenos, ele era bem qualificado para detectar qualquer coisa que pudesse causar um problema futuro, mesmo levando um tempo considerável com isso, ele esperava voltar para a cidade o mais tardar no dia seguinte, se tudo corresse bem.

O fazendeiro, Sr. Dale, concordou gentilmente em levá-lo de trator em um breve passeio pelas terras, e não foi sem um leve sentimento de remorso que John ouviu o senhor contar a história da região, o apego dele e sua família a ao local e por isso era tão importante para ele manter o lugar funcionando. Mas negócios são negócios e o dinheiro que Dale conseguiria com as duas terras em questão o dariam uma benção incontestável - com sorte o suficiente para ajudá-lo a passar pela tempestade financeira.

A noite chegou rapidamente, e John ficou contente que a viagem desconfortável de trator não foi tão demorada. Pouco tempo depois Dale parou o veículo, apontando para dois campos ao lado que eram o que estavam à venda. Pela meia hora seguinte John pisoteou com suas botas por lama e gramados, tirando fotos do local onde seu cliente estava pensando em construir, enquanto lia atentamente os registros da equipe de inspetores, comparando-as com suas próprias anotações. Dale não queria acompanhá-lo nas pesquisas, então só ficou escorado em seu trator, observando tristemente.

Finalmente John tinha terminado, mas no mesmo instante seus olhos foram atraídos para uma colina a poucos quilômetros de distância, uma que dava vista para toda a área. Parecia estar inabitado, com alguns acres de floresta e gramado sendo suas únicas características distintivas. Apesar da distância, o morro parecia dominar o horizonte e, mesmo sem ter sido verbalizado, John sentia que este era especial ou único de algum modo. Ao voltar para o trator, ele apontou para lá, mas Dale parecia relutante sobre o assunto, respondendo gelidamente as perguntas ou apenas ficando em silêncio. Era o trabalho de John manter uma terra que achava que seus clientes poderiam se interessar, e com o que parecia ser uma bela visão para o campo, achou que seria interessante para um rico empresário apaixonado pelas terras escocesas.

Na curta viagem de volta, John se sentiu compelido a ficar olhando para a colina por cima do ombro e estava convencido que seus instintos profissionais diziam-no que devia investigar a respeito mais de perto. Depois da irritante resistência do fazendeiro Dale, ele se rendeu e quebrou o silencio falando brevemente sobre o assunto, com óbvio desdém por aquela terra incomum. Quando perguntado a respeito de quem pertencia, o fazendeiro zombou dizendo apenas "Ninguém é dono daquele lugar, e ninguém vai lá." Não disse mais muita coisa, mas antes de John entrar na pousada, o homem pousou a mão em seu ombro e o advertiu para deixar a colina em paz, que era perigosa e que esperava não ter que falar sobre aquilo nunca mais. Enquanto Dale parecia sentir medo de apenas mencionar aquilo, a impressão predominante era que o velho estava dominado por uma tristeza profunda; uma que era melhor ser deixada sozinha.

Por mais fascinado que John tinha ficado com o aviso do fazendeiro, não era a primeira vez que batia de frente com superstições locais - algo que ele, com certeza, nunca tinha dado ouvidos, caso contrário, teria perdido tempo, alguns ótimos lotes de terra e propriedade ao longo dos anos. As histórias dos moradores sempre pareciam girar em volta de lugares mais antigos e remotos da Grã-Bretanha. No passado ele tinha ouvido longos contos sobre casas abandonadas que carregavam manchas de um ato criminoso, ou matas que não podiam ser desmatadas pelo medo do que vivam nelas, mas sem exceção nada desagradável acontecera. Não havia solidez perante os mitos, e enquanto adorava ouvir os relatos de assombrações e seres estranhos que rondavam os pântanos e campos abertos, ele tinha pouco tempo para isso em sua vida corrida e trabalho. Essas histórias eram uma distração divertida, mas além do entretenimento, eram de pouca serventia.

Voltando à pousada, ele estava cansado e com vontade de ir para a cama, na esperança de concluir o negócio no dia seguinte, mas foi ao bar tomar alguma bebida antes de se retirar para seu quarto. O senhorio parecia ser bastante amigável e estava contente por alguém ter ficado em sua pousada pois geralmente ela ficava vazia, mas seu comportamento amistoso mudou completamente com a menção da colina. Igualmente a Dale, o proprietário parecia relutante em dar qualquer informação detalhada sobre o assunto e providenciou uma advertência citando "terra ruim" como motivo suficiente para deixa-la pra lá.

Sussurros e um tumulto sutil começou a surgir dos cantos escuros do pub enquanto moradores pareciam perturbados com as perguntas de John. Ninguém se aproximou, mas ele estava atento do desconforto em volta. Seu comentário " Parece que a colina é assombrada" que deveria ter sido tomada como uma piada, provocou apenas o silêncio. A ausência de som o fez sentir mal recebido. Rapidamente, ele terminou sua bebida e enquanto ia andando para as escadas uma mulher jovem tocou-lhe o ombro e sussurrou em seu ouvido "Por favor, não vá para a colina, ninguém jamais volta".

O senhorio estava ao alcance de voz e rapidamente reprendeu a menina por apenas mencionar aquilo, em seguida virou-se de costas e enquanto limpava um copo de cerveja, disse enquanto gaguejava: "Durma bem, senhor. Espero que você consiga concluir o seu negócio amanhã e voltar o mais rápido possível para Londres".

Para John soou mais como um aviso do que um simples boa noite.

No dia seguinte ele se levantou cedo e fez seu caminho ao primeiro andar e foi recebido novamente pelo senhorio, mas esse agora permanecia relativamente quieto, o que John achou estranho pois ele tinha passado uma imagem tagarela no dia anterior. Descartando o anfitrião apenas como uma pessoa que não era chegado em manhãs, John tomou seu café e fez seu caminho em direção a fazenda de Dale para terminar a compra dos terrenos.

Enquanto ele dirigia pelas estradas calmas do campo, apreciando a paisagem que continuava impressionante mesmo em um dia nublado, a fazendo foi se mostrando ao longe, e o mesmo fez a colina logo atrás. Ele pensou que essa parecia mais predominante ou grandiosa do que o dia anterior, com sua estrutura torta se inclinando-se para a vila, mas rapidamente sacudiu esses pensamentos da cabeça, pensando neles como apenas um efeito colateral do comportamento supersticioso dos moradores locais. Mas mesmo assim, havia algo sobre aquele lugar.


Continua na Parte 3...

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 1


Olá amigos, vou estar trazendo para o blog o livro Best-Seller em formato web do escritor Michel Whitehouse, vou estar dividindo em dez partes, espero que apreciem a leitura., você pode comprar o livro em inglês por aqui:

Os acontecimentos dos últimos dias têm tanto abalado minha compreensão do mundo, quanto me deixado sem disposição e perplexo. No entanto, eu sinto que tenho que organizar esses eventos na minha mente, e sou obrigado a estruturar as terríveis coisas que eu vi para que assim eu as entenda melhor, para que minha mente tenha talvez um descanso - uma necessidade de enumerar tudo que aconteceu.

Foi totalmente por acaso que conheci John R---. Era primavera, e os primeiros açafrões estavam saindo bem contra os últimos resquícios de gelo que o inverno havia produzido. Eu estava em pesquisa para um artigo que estava escrevendo para uma publicação que era, digamos assim, mais do que respeitável, quando me vi à mercê durante a noite em uma pequena aldeia das montanhas.

Todo o calvário tinha sido frustrante e no mínimo cansativo. Supostamente, eu deveria estar de volta a Glasgow naquela mesma noite para digitar minhas anotações e espantar a neblina que vinha acompanhando minhas tentativas de escrita. Estar, em uma pequena vila com apenas uma rua e um pub (que também era uma pousada), o qual parecia não ter sido redecorado desde a idade das trevas, não era minha ideia de conforto caseiro; especialmente depois de algumas semanas de viagem constante, entrevistas intermináveis, e mais de uma noite sem descanso em uma cama suja ou café da manhã.

Havia acontecido um pequeno afundamento na estrada de uma cidade sobre a qual tinha feito impossível que o ônibus continuasse viajando e, mais importante para mim, me levar à segurança. Após vários telefonemas tentando outros meios de continuar a viajar, pareceu que eu não ia a nenhum lugar até de manhã cedo. O sonolento pub/pousada tinha sido carinhosamente intitulado de O lorde de Dungorth - parecendo que poderia desabar em cima de mim a qualquer momento, para finalizar ela cheia de vigas de madeira deformada e uma clientela que pareciam tão quebradiças quanto - teria de ser minha casa durante a noite.

Depois de falar com o dono, um homem alto pontiagudo na casa dos cinquenta, fui gentilmente cedido um pequeno quarto no andar de cima que claramente não tinha sido usado em - ou limpo - fazia um bom tempo. Mesmo assim, as pessoas eram até legais e depois de um jantar básico mas agradável de comida local, eu me sentei confortavelmente em uma poltrona antiga que ficava perto do bar, tomando a decisão de matar o tédio com alguns litros da cerveja local e uma garrafa de vinho. As chamas dançavam logo a minha frente e quando o efeito entorpecente do álcool começou a fazer efeito, eu estava até contente - quase feliz de estar em um ambiente tão rústico. A vila poderia até ser meio triste, mas contra os ventos frios lá fora e um céu escurecendo, a pousada podia ser considerada charmosa.

Eu não tenho certeza o quanto de tempo eu estava sentado ali, hipnotizado pelo calor da lareira e algumas taças de vinho tinto, mas tornou-se evidente que eu estava acompanhado de outro hóspede da pousada. Ele se sentou perto de mim em uma poltrona larga e desgasta do outro lado da lareira, e ficou lá olhando para as chamas tremeluzentes.

Ele parecia curiosamente em disposição. Exteriormente ele parecia ser relativamente jovem - provavelmente em seus trinta e poucos anos - mas sua persona era inundada de uma fragilidade que normalmente não se esperava ver em um homem de sua idade. Seu rosto brilhava à luz do fogo, carregando com ela uma preocupação e linhas quem traíram uma agitação interna; seus olhos desfocados e suas mãos tremendo lentamente enquanto as aquecia no calor da lareira.

'Posso te ajudar?' Eu ouvi as palavras, mas não as registrei até que elas fosses repetidas.

'Desculpe-me, posso te ajudar?' O homem se dirigiu a mim de forma afiada, e fiquei surpreso ao perceber que estava olhando para ele por alguns minutos.

'Não, não é isso,' Eu respondi me desculpando. 'Eu... eu achei ter te reconhecido.'

Quando ele se virou para mim ele mostrou em sua expressão um olhar de descrença na minha mentira óbvia, mas felizmente, não sem um pequeno vestígio de bom humor.

'Desculpa se fui um pouco grosso com você,' ele disse. 'É só que eu estou cansado das pessoas ficarem me encarando por aqui.' Ele ergueu sua voz tentando fazer com que ela chegasse aos ouvidos dos gatos pingados que bebiam pub. Senti que os presentes tentavam evitar o seu olhar.

Partimos então para uma hora de conversa fiada. Seu nome era John R---- e ele era um agente de aquisição de terras de Londres. Ele alegou estar avaliando um lugar próximo, que um fazendeiro local estava disposto a vender para os promotores imobiliários, mas imediatamente senti que ele não estava à vontade para falar de seu trabalho. Na verdade, ele rapidamente mudou o foco da conversa inteiramente para mim; meu trabalho, vida, família, qualquer coisa. Era como se ele precisasse continuar falando comigo para manter a mente dele distraída para esconder sua ansiedade. Toda vez que eu tentava perguntar algo sobre ele ou sua vida, ele me dava uma resposta de uma ou duas palavras, ou ignorava e fazia sua própria pergunta.

Finalmente a conversa tomou seu curso, e por um momento nó sentamos em silêncio; os únicos sons vindos de alguns locais que passavam pelo pub e o tintilar ocasional de copos vazios enquanto sendo lavados pelo proprietário.

O pub agora estava visivelmente mais escuro, com a pouca luz fornecido por algumas pequenas lâmpadas de teto e o fogo que continuou a crepitar e tremular a noite toda. Me virei em direção a uma janela que dava pra fora da pousada, sem ver nada além de escuridão. Em seguida, as palavras simplesmente saíram da minha boca, sem eu perceber ou ter tempo de impedi-las. "Por que as pessoas te observam, John?"

Houve uma longa pausa enquanto eu olhava para ele esperando por uma resposta, seus olhos fixos no chão, mas seu rosto estampado com preocupação. Eu não esperava uma resposta profunda, dado o jeito da nossa conversa anterior, então continuei a tomar meu vinho quando de repente ele respondeu eu um tom sombrio: "Todos eles sabem, mas não tem coragem de falar a respeito." Se virando em direção ao poucos bebedores ainda no pub ele gritou "Eles todos estão com medo!".

A resposta do proprietário e seus consumidores foi apenas o silêncio. Eles pareciam ignorar inteiramente a acusação de John, com apenas uma breve hesitação de movimento ou conversa provava que eles realmente tinham ouvido a explosão momentânea. Eu não esperava uma resposta tão volátil, mas havia desespero naquele grito; ódio e frustração. Então, olhando diretamente para mim de um jeito que só posso descrever como uma mistura de medo e desilusão, ele abriu a boca como se fosse falar de novo, antes de hesitar mais uma vez. Eu senti que o homem, no fundo, queria livrar-se de um fardo, como se um pedaço tóxico de informação estava chateado sua alma.

Como escritor, minha criatividade foi cativada pela possibilidade de um conto fascinante, talvez uma que eu pudesse usar como base em um artigo ou história futura. Prevendo que agora só precisava de um empurrão para ganhar sua confiança, me inclinei e sussurrei "O que houve?" cheio de sentimento conflitante. Eu estava sentindo que estava perto de tornar-me a par de alguma coisa importante, mas pela sua tremedeira e seu comportamento ansioso, eu temia o que aquilo podia ser.

Um instante passou, e era como se todo o salão tivesse caído sob a sombra de um silêncio evidente, aqueles por perto ouvindo de seus cantos tenebrosos e não convidativos. Então ele falou "Se você quiser ser gentil e compartilhar seu vinho comigo, eu ficaria feliz em lhe dizer", disse ele em voz baixa.

Ele não precisou dizer duas vezes. Me levantei da minha cadeira e pedi no bar uma segunda garrafa e mais uma taça para dividir com meu companheiro. Houve uma hesitação peculiar quando o proprietário pegava ambos na prateleira logo atrás, colocando-os em minha frente. Quando voltei ao meu lugar, eu sabia que os presentes estavam me observando. Senti em meus ossos que havia algo desconfortavelmente sufocante nos olhares; olhares acusatórios mergulhados em medo.

Eu enchi uma taça de vinho, do qual John bebeu em um gole só - uma visão que eu conhecia muito bem, como de um homem que naufragado em um tumor maligno que queima por dentro. Depois de encher mais uma vez, coloquei a garrafa no chão entre nós esperando ele contar sua história.

Depois de olhar a bebida por um momento, ele levantou a cabeça e olhando fixamente para mim, e em seguida como se exorcizasse um fardo de sua alma, ele começou.


Continua na Parte 2...

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Uma Vida Despedaçada



Não sei quando você lerá isso, mas posso contar quando começou: eu estava caminhado solitariamente pelo bosque quando a entidade veio até mim. Era além de um borrão. Era, por falta de um termo melhor, a ausência de significado. Onde se escondia, não haviam árvores; onde se aproximava, não havia grama; com um arcar, pulou em mim, e não havia nenhuma brisa de movimentação. Na verdade, não havia ar algum.


Enquanto me atingia, senti a sensação distinta de garras perfurando-me em algum lugar que não podia ser visto; algum lugar que nunca sentira antes. Minhas mãos, minhas pernas, meu torso pareciam bem e eu não sangrava, mas sabia que tinha me ferido de certa forma. Com medo, corri de volta para casa, podia perceber que agora eu era menos. Um vago cansaço pairava em mim, e as vezes era difícil manter o foco.


A solução nessa fase inicial era muito simples: uma grande xícara de café fazia com que eu me sentisse normal novamente.


Por um tempo, aquele sútil aperto em meu espírito se perdeu no fluxo intenso da cafeína em meu sistema. Na verdade, você pode dizer que minha vida começou naquela semana, pois foi quando conheci Mar. Ela e eu nos dávamos muito bem e, para ser honesto, tenho quase certeza que me apaixonei quando nos falamos pelo telefone antes mesmo de vê-la com meus próprios olhos.


Era quase como se as fortes emoções daquela primeira semana fizesse a entidade lutar de novo - ainda estava comigo, cravado em alguma parte de meu ser.


Os primeiros incidentes foram pequenos, e quase não me preocupei. Certa manhã, a cor do carro de um dos meus vizinhos mudou de um azul escuro para preto, fiquei olhando-o antes de sacudir a cabeça e deixando aquilo para lá. Dois dias depois, o nome de um colega de trabalho mudou de Fred para Dan. Cuidadosamente, questionei sobre com outras pessoas, mas todos me diziam que o nome dele sempre fora Dan. Achei que tinha simplesmente me enganado.


Então, por mais idiota que possa soar, eu estava mijando no banheiro de casa quando de repente me encontrei em uma rua aleatória. Ainda estava vestido com meu pijama, calças abaixadas e mijando - mas agora sendo observado por uma dúzia de pessoas em um ponto de ônibus lotado. Horrorizado, vesti minha roupa e corri antes que alguém chamasse a polícia. Consegui chegar em casa, mas a experiência me forçou a admitir que eu corria perigo. A entidade estava fazendo algo, mas eu não entendia o que era para conseguir fazer algo a respeito.

Mar apareceu naquela noite, mas ela tinha sua própria chave.

"Ei," Perguntei, confuso. "Como você conseguiu essa chave?"

Ela riu. "Você é um fofo. Você tem certeza que está tudo certo sobre essa decisão?" Ela abriu uma porta e entrou em um cômodo cheio de caixas. "Sei que morar junto é um grande passo, especialmente para nós que estamos namorando só a três meses."

Morar juntos? Eu literalmente tinha a conhecido semana passada. Porém, minha mãe sempre me chamou de espertinho por um motivo. Eu sabia quando calar a boca. Ao invés de fazer uma cena, falei que tudo estava bem - então fui para meu quarto e comecei a investigar.

Minhas coisas estavam exatamente onde eu as deixara, sem sinal de uma brecha de três meses, mas encontrei algo que era fora do normal: a data. Estremeci de raiva enquanto processava a verdade.

A entidade tinha tirado três meses da minha vida.

Com que diabos eu estava lidando? Que tipo de criatura conseguia consumir pedaços da alma de alguém desse jeito? Eu havia perdido a melhor parte do começo de um novo relacionamento, e nunca entenderia histórias compartilhadas ou piadas internas desse período. Algo absurdamente precioso tinha sido arrancado de mim, e eu estava furioso.

Essa fúria ajudou a suprimir a entidade. Eu nunca ingeria álcool. Bebia café religiosamente. Checava a data todos os dias quando acordava. Por três anos, consegui viver cada dia enquanto observava nada mais do que minimas alterações. Um fato social aqui ou ali - o emprego de alguém, quantos filhos certo amigo tinha, a organização das casas em alguma rua em específico, o horário que meu programa preferido passava na TV, essas coisas. Eram essas pequenas mudanças que me faziam lembrar que a criatura ainda estava com suas garras enfiadas no meu espírito. Nunca nesses três anos eu me deixei sair do estado de alerta.

Um dia, me descuidei. Me deixei ficar obcecado com o episódio final da minha série favorita. Era viciante, uma história fantástica. No ápice do programa, um menininho veio até minha poltrona e sacudiu meu braço.

Surpreso, perguntei, "Quem é você? Como você entrou aqui?"

Ele riu e sorriu abertamente. "Papai bobão!"

Meu coração pareceu ficar do tamanho de uma bolinha de gude. Eu soube imediatamente o que tinha acontecido. Depois de algumas perguntas disfarçadas, descobri que ele tinha dois anos de idade - e que era meu filho.

A agonia e o aperto em meu coração eram quase insuportáveis. Eu não somente tinha perdido o nascimento do meu filho, como também nunca veria seus primeiros anos de vida. Mar e eu tínhamos obviamente nos casado e começado uma família durante o tempo perdido, e eu não fazia ideia das tristezas e alegrias que esses anos tinham me proporcionado.

Estava nevando lá fora. Com meu repentino filho em meu colo, sentei e observei os flocos do lado de fora. Que tipo de vida eu teria se os lapsos de concentração podiam me custar anos? Precisava de ajuda.

A igreja não fazia ideia o que fazer. Os padres não acreditavam em mim, e disseram que eu tinha problemas de saúde, que não era um caso de possessão.

Os médicos fazia menos ideia ainda. Nada aparecia nos exames e testes feitos, mas aceitavam com grandes sorrisos quantias absurdas do meu dinheiro em troca de nada.

Quando comecei a ficar sem opção, decidi contar para Mar. Não havia como saber como era o seu ponto de vista. Eu era diferente quando não estava lá? Eu levava nosso filho para a escolinha? Fazia meu trabalho, meu papel? Claramente, fazia, pois ela parecia não desconfiar de nada, mas ainda fiquei com aquela terrível sensação de que algo devia estar faltando em sua vida, porque eu estava e não estava lá ao mesmo tempo.

Mas na noite em que eu preparei um belo jantar para a revelação, ela não abriu a porta com sua chave, e deu três suaves batidas. Ela estava vestida em um lindo vestido.

Ficou agradavelmente surpresa com a mesa posta. "Um jantar chique para um segundo encontro? Eu sabia que você era um bom partido."

Graças ao bom Senhor sei manter meu bico calado. Se tivesse balbuciado alguma coisa sobre sermos casados e termos um filho, provavelmente ela teria corrido para as colinas. Peguei seu casaco e nos sentamos para ter nosso segundo encontro.

Com perguntas escolhidas a dedo, consegui deduzir a verdade. Realmente era nosso segundo encontro. Ela viu alívio e felicidade em mim, mas interpretou isso como nervosismo de encontro. Eu simplesmente estava estasiado ao perceber que a entidade não estava mais comendo porções da minha vida. Os sintomas, como agora estava começando a percebê-los, eram mais como consequências de uma alma despedaçada. A criatura havia me ferido; me quebrado em pedaços. Talvez meu destino era viver minha vida fora de ordem, mas pelo menos eu a viveria.

E assim seguiu por alguns anos, pela minha perspectiva. Enquanto pequenas mudanças na política ou geográficas ocorriam diariamente, mudanças bruscas aconteciam dentro de alguns meses. Quando me encontrava em um novo local e tempo da minha vida, apenas me calava e ouvia, tendo certeza de explorar bem o terreno antes de cometer algum erro irreversível. No maior pulo de tempo, conheci meu neto de seis anos de idade, onde perguntei o que ele gostaria de ser quando crescer. "Escritor," me disse. Falei que era uma ótima ideia.

Depois, voltei ao segundo mês de namoro com Mar, onde tive a melhor noite de todas com ela no píer. Quando digo a melhor, quero dizer a melhor da minha vida. Sabendo o quão especial ela iria se tornar para mim, eu pedi para que viesse morar comigo. Comecei a viver os momentos que eu havia perdido e então percebi que, na verdade, eu nunca não estive lá. Eu sempre estava lá - eventualmente. Quando estávamos trazendo suas coisas para dentro de casa, parou por um momento e disse como admirava o meu amor, que era como se eu já a conhecesse pela vida toda e que nunca duvidei de quem realmente era.

Essa foi a primeira vez que ri de verdade, livremente e com todo meu coração, desde que a entidade tinha me ferido. Ela estava certa sobre meu amor por ela, mas o que considerava uma analogia boba e romântica era na verdade a realidade. Eu conhecia-a por toda minha vida, e eu tinha feito as pazes com a minha situação. Não era tão ruim assim dar uma espiada nos bons momentos futuros.

Mas é claro que não estaria escrevendo isso se não tivesse piorado. A entidade ainda estava em mim. Não tinha me ferido e ido para longe, como eu quis acreditar. O mais perto que posso descrever do meu entendimento disso é que a criatura estava se enterrando cada vez mais fundo na minha psique, fraturando-a em pedaços ainda menores. Ao invés de meses entre cada pulo, comecei a ter apenas semanas. Assim que notei o padrão, fiquei com medo de que meu destino fosse começar a mudar de tempos da minha vida em cada batida que meu coração fazia, para sempre confuso, para sempre perdido. Tendo apenas um instante em cada tempo significava que nunca mais eu conseguiria falar com ninguém, nunca conseguiria sustentar uma conversa, nunca expressaria ou receberia amor.

Enquanto as profundezas desse temor se esquentavam no meu peito, sentei em uma velha versão de mim e assisti os flocos de neve caindo do lado de fora. Isso era uma constante na minha vida: para o clima não importava quem eu era ou as dores que tinha que enfrentar. A natureza sempre estava lá. O cair da neve era uma ancora que fazia com que eu continuasse ali; a pura emoção de paz que me trazia era como uma panaceia em minhas feridas mentais, e eu nunca tinha mudado de tempo enquanto assistia o padrão de queda branco, pensando nas vezes em que tinha construído um boneco de neve quando criança.

Um adolescente tocou meu braço. "Vovô?"

"Uh?" Ele me arrancou dos meus pensamentos, então fui menos cuidadoso do que de costume. "Quem é você?"

Deu um meio sorriso, como se não soubesse se era uma brincadeira da minha parte. Me entregando um bolo de papéis, disse, "É minha primeira tentativa de escrever um romance. Você pode ler e me dizer o que acha?"

Ahh, claro. "Seguindo os sonhos de ser um escritor, estou vendo."

Ele ficou vermelho como um pimentão. "Tentando, né."

"Tá bom. Saia daqui, vou ler isso agora mesmo." As palavras saiam embaçadas e, irritado, procurei pelos óculos que deveria precisar para ler. Ser velho era horrível, e eu só queria voltar para meus anos mais jovens - mas não antes de ler aquelas páginas. Encontrei meus óculos no bolso do meu moletom, e comecei a leitura. Mar entrava e saia do cômodo, ainda linda, mas precisava me focar. Não sabia quanto tempo ainda tinha ali.

Parecia que tínhamos parentes visitando. Era Natal? Um par de adultos e algumas crianças que eu não reconhecia trotearam pelo corredor, e vi meu filho, agora um adulto, passando pela porta. Em um grupo, uma parte da família começou a andar de trenó lá fora.

Finalmente, terminei de ler a história, e chamei meu neto. Desceu correndo as escadas e entrou na sala. "O que achou?"

"Bem, é péssima," Falei verdadeiramente. "Mas é péssima pelas razões certas. Você ainda é jovem, então seus personagens se comportam como pessoas jovens, mas a estrutura da história em si é sólida." Pausei. "Eu não esperava que viraria uma história de terror."

Ele assentiu. "É uma reflexão dos tempos. As expectativas para o futuro são sombrias, não esperançosas como eram antigamente."

"Você é jovem demais para saber disso," falei. Uma ideia veio até mim. "Se você gosta de terror, sabe um pouco sobre criaturas estranhas?"

"Claro. Eu leio tido que posso. Adoro."

Cautelosamente, olhei as entradas para o nosso cômodo. Todos estavam ocupados lá fora. Pela primeira vez, me abri com alguém sobre o que eu estava passando. Em um tom apressado, contei para ele sobre minha consciência fragmentada.

Para um adolescente, absorveu bem. "Você tá falando sério?"

"Sim."

Vestiu o olhar determinado de um adulto que aceita uma missão importante. "Vou procurar sobre, ver o que posso descobrir. Você devia começar a escrever tudo que acontece. Construir um banco de dados. Talvez assim vamos conseguir mapear suas feridas mentais."

Uau. "Parece um bom plano." Fiquei surpreso. Isso fazia sentido, e eu não esperava que tivesse uma reação tão séria. "Mas como vou conseguir deixar as anotações em um lugar só?"

"Vamos arranjar algum lugar para colocar isso," Falou, franzindo a testa. "Então, eu coleto os dados, e podemos traçar os caminhos que está fazendo pela sua vida, descobrir se existe um padrão."

Pela primeira vez depois da piora, senti esperança. "O que acha de colocar debaixo da escada? Ninguém nunca vai lá."

"Claro." Ele se virou e saiu da sala.

Espiei, e vi ele mexendo em algum lugar perto da escada.

Finalmente, voltou com uma caixa que colocou em cima do carpete, e ao abrir revelou muitas e muitas folhas de papel. "Puta merda!" Exclamou.

Abalado, pisquei rapidamente, perdoando sua boca-suja por causa do choque. "Eu escrevi isso?"

Ele olhou para mim atordoado. "Sim! Ou pelo menos, você vai. Você ainda precisa escrevê-los e colocá-los debaixo da escada." Olhou de volta para os papéis e então fechou a caixa. "Bem, acho que é melhor você não ver o que está escrito. Isso podia tornar as coisas mais estranhas ainda."


Isso eu entendia bem. "Claro."

Ele engoliu a seco. "Tem mais ou menos umas cinquenta caixas como essa lá em baixo, todas cheias. Vou demorar para decifrar tudo isso." Fez um tom de voz muito sério. "Mas vou te salvar, vovô. Porque acho que ninguém mais pode além de mim."

Lágrimas corriam pelo meu rosto e não consegui evitar de chorar um pouco. Eu não tinha percebido quão solitário me tornara na minha prisão de pulos até encontrar alguém que finalmente me entendia. "Obrigado. Muito obrigado."

E então eu era jovem de novo, em uma terça-feira aleatória, no trabalho. Assim que a tristeza e o alívio passaram, ódio e determinação tomaram conta. Depois de sair do trabalho, peguei umas folhas e comecei a escrever. Enquanto as semanas iam passando em minha volta, enquanto essas semanas viravam dias, depois horas, eu escrevia em todo momento livre que tinha sobre quando e onde estava. Coloquei-as debaixo da escada fora de ordem; minha primeira caixa na verdade era a trigésima, e minha última caixa era a primeira. Assim que fiz cinquenta caixas escritas da minha perspectiva - e quando meus pulos agora duravam minutos - eu soube que tudo estava nas mãos de meu neto.

Abaixei a cabeça e parei de olhar. Não conseguia mais aguentar o rio de mudanças. Nomes e lugares e datas e empregos e cores e pessoas estavam todos diferentes e errados.

Eu nunca fora tão velho. Estava sentado, olhando a neve cair. Um homem com pelo menso trinta anos, que eu vagamente reconhecia entrou na sala. "Venha, acho que finalmente descobri."

Eu era tão frágil que me mexer doía muito. "Você é ele? Você é meu neto?"

"Sim." Me levou até um quarto cheio de estranhos equipamentos e me sentou em uma cadeira de borracha virada para um espelho duas vezes maior que a altura de um homem. "O padrão finalmente se revelou."

"Por quanto tempo você trabalhou nisso?" Perguntei, horrorizado. "Diga que você não perdeu sua vida como estou perdendo a minha!"

Sua expressão era tanto fria como uma pedra e furiosamente resoluta. "Valerá a pena." Ele trouxe dois bastões de metal para perto do meu braço e então assentiu para o espelho. "Olhe. Esse choque é precisamente calibrado."

O choque de seu equipamento foi surpreendente, mas não doloroso. No espelho, vi uma silhueta rápida de luz aparecer por cima de meus ombros e cabeça. A eletricidade se moveu pela criatura como uma onda, brevemente revelando a terrível natureza do que estava acontecendo comigo. Uma boca gorda como de uma sangue-suga estava grudada na parte de trás da minha cabeça, vinha até as minhas sobrancelhas e cobria ambas orelhas, e seu corpo de lesma caia sob meus ombros e adentrava na minha alma.

Era um parasita.

E estava se alimentando da minha mente.

Meu então adulto neto segurou minha mão enquanto eu era atordoado pelo terror. Depois de um breve momento, falou comigo. "Removê-lo será muito, muito doloroso. Você quer?"

Com medo, perguntei, "Mar está aqui?"

Sua expressão suavizou. "Não. Faz alguns anos que não."

Eu podia perceber pelos traços em seu rosto o que acontecera, mas não queria que fosse verdade. "Como?"

"Nós conversamos sobre isso bastante," respondeu. "Tem certeza que quer saber? Nunca faz você se sentir melhor."

Lágrimas se acumularam em meus olhos. "Então não ligo se doer, ou se eu morrer. Eu não quero estar em uma época onde ela não está viva."

Fez um som de simpatia e entendimento e então voltou para sua maquina para prender diversos fios, diodos, e outras partes de tecnologia em meus membros e testa. Enquanto fazia isso, falava. "Trabalhei por duas décadas para conseguir desvendar isso, e recebi muita ajuda de diversos outros pesquisadores e cientistas do ocultismo. Esse parasita tecnicamente não existe no nosso plano. É um dos últimos do seu tipo, os µ¬ßµ, e se alimenta dos plexos mentais, da alma e da consciência quântica/realidade. Quando detalhes como cores e nomes mudavam, você não estava ficando louco. A teia da sua existência estava perdendo alguns fios enquanto a criatura te devorava."

Não entendia por completo. Olhei para cima, confuso, enquanto ele colocava um círculo de eletrodos como uma coroa na minha cabeça, na exata linha onde a boca do parasita se encontrava. "O que é µ¬ßµ?"

Ele parou e ficou pálido. "Esqueci que você não sabe. Você é sortudo, acredite." Depois de um longo suspiro, começou a se mover de novo, e posicionou seus dedos perto de alguns interruptores. "Pronto? Isso aqui é feito para que seu sistema nervoso fique extremamente


insosso para o parasita, mas basicamente é uma terapia de choque."

Eu ainda podia ver o sorriso de Mar. Mesmo que estivesse morta, eu tinha estado com ela fazia poucos minutos. "Pode começar."

O clique do interruptor ecoou em meus ouvidos, e quase ri de tão suave que o choque era. Quase nem o sentia, no começo. Então, vi o espelho estremecer, e meu corpo naquele reflexo convulsionar. Ah. Não. Doía sim. Doía mais do que qualquer outra coisa que já sentira na vida. Só que era tão intenso que minha mente não tivera tempo ainda de processar imediatamente.

Enquanto minha visão tremia e um fogo queimava cada nervo do meu corpo, eu podia ver o reflexo da silhueta de luz do parasita se remexendo na minha cabeça, compartilhando de minha agonia. Tinha garras - seis membros de lagarto com garras em seu corpo de lesma - que se agarravam à mim para tentar continuar grudado.

A eletricidade fez com que minhas memórias se acendessem.

O sorriso de Mar, acima de todo o resto, brilhava em frente de uma lareira enquanto a neve caia na janela atrás dela. As bordas dessa memória começaram a se acender, e percebi que minha vida agora era uma linha continua de experiências - era apenas a consciência disso que tinha sido fragmentada pela voraz e diabólica criatura em meus ombros.

Eu nunca conseguira estar lá no nascimento de meu filho. Eu pulei diversas vezes em volta dessa memória, mas nunca vivenciei-la. Pela primeira vez, pude estar lá para segurar a mão de Mar e acompanhá-la.

Não. Não! Aquele momento onde eu segurava sua mão enquanto deitada em cama de hospital mudou para uma razão totalmente diferente. Não isso! Por que, Deus? Era tão cruel me fazer lembrar disso. Comecei a chorar enquanto enfermeiras corriam para o quarto. Eu não queria saber. Não queria passar pro aquela experiencia. Eu tinha visto todas as partes boas, mas não queria ver a pior delas - o fim inevitável que todos temos que encarar um dia.

Não valia a pena. Era contaminado. Toda a felicidade que recebi vinha com o dobro em dor.

O fogo em meu corpo e mente aumentaram em uma tortura continua, e gritei.

Meu grito virou um urro de surpresa quando as máquinas paravam e os choques lentamente diminuíam. A neve não estava mais caindo em volta da minha vida; eu estava caminhando na floresta em um dia claro de verão.

Meu Deus do céu.

Me virei para ver a criatura se aproximando. Era a mesma ausência de significado; o mesmo abismo na realidade. Rastejou em minha direção, assim como antes - mas dessa vez proferiu um som de ódio e foi embora. Me levantei, maravilhado por ser jovem de novo e por estar livre do parasita. Meu neto tinha realmente conseguido! Ele me tornara uma refeição sem-sal, assim o predador de alma e corpo foi procurar por outro lanche.

Voltei para casa tonto.

E enquanto eu estava lá, sentado, tentando processar tudo que acontecera, o telefone tocou. Eu sabia quem era. Era Marjorie, ligando pela primeira vez por um motivo aparentemente muito importante, o qual trinta anos depois me revelaria ter sido uma desculpa só para ouvir minha voz.

Mas tudo que eu conseguia enxergar era ela deitada em uma cama de hospital, morta. Acabaria com uma dor inexplicável e solidão. Eu me tornaria um velho, deixado sentando sozinho em uma casa vazia, sua alma gêmea não mais no mesmo plano. No final de tudo, eu só teria uma coisa: o prazer de me sentar e ver a neve cair pela janela.

Mas agora, graças ao meu neto, eu também teria minhas memórias. Seria um passeio de montanha-russa, não importa como fosse terminar.

Com um impulso repentino, atendi o telefone. Com um sorriso, perguntei. "Oi, quem fala?"

Mesmo que eu já soubesse.

Nota do autor: Juntos, eu e meu avô escrevemos o romance sobre sua vida. Infelizmente, seu Alzheimer progrediu rapidamente, e nunca conseguimos terminar. Ele ainda está vivo, mas imagino que, mentalmente, está em um lugar melhor do que sua casa de repouso. Gosto de pensar que está revivendo seus anos mais joviais, vivendo uma vida feliz, pois a realidade é muito mais fria. Está nevando hoje; ele ama a neve. Da última vez que eu o visitei, não conseguiu me reconhecer, mas sorriu para mim e ficamos juntos observando a neve cair lá fora..