quinta-feira, 30 de setembro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 4

Creepysterror


Apesar de ter ficado abalado pela reação volátil do velho fazendeiro às suas perguntas, ainda assim, John queria ir até a colina. Sabendo que os moradores tentariam dissuadi-lo ou mesmo contê-lo fisicamente, ele estava decidido de ir diretamente até lá assim que saísse da fazenda. Enquanto fazia seu caminho, pensou que algo bom poderia vir disso. Ele poderia quebrar o medo daquele lugar, mas era mais que aquilo, então sua teimosia o motivou. Queria provar que estava certo, e se descobrisse um pedaço de terreno com potencial, melhor ainda.
Chegar lá era mais problemático do que ele havia previsto. Enquanto havia uma estradinha de terra que ia até o pé da colina, aparentemente havia sido bloqueada pelos moradores. Um arranjo de grandes placas de concreto, tijolos, velhos postes de madeira e outros materiais descartados ficavam barrando uma das extremidades fazendo com que a entrada de carro fosse impossível e a pé muito difícil.

Vendo o ponto físico e real que os moradores chegavam para evitar que alguém tivesse acesso à montanha, John sentiu um impulso crescer dentro de si, que devia subir até o topo e voltar para a vila para mostrar a eles quão ridículos estavam sendo. Depois de deixar seu carro em uma das entradas que haviam sido bloqueadas, ele escalou por cima da pilha de escombros, com algum esforço e cuidado para não se cortar com algum objeto, ele fez seu caminho ao longo da estrada. Por um momento considerou o que poderia encontrar nas encostas e a real possibilidade de achar os desagradáveis restos mortais de um visitante anterior; pensamentos que o fizeram questionar seriamente suas atuais ações.

A estrada era larga o suficiente apenas para um único carro e, obviamente, tinha sido deixada ao leu fazia algum tempo, cheia de buracos, lama e cascalho cobrindo a pista em algumas partes. Enquanto a colina ia surgindo ao longe, ele ficou impressionado pois esta era muito maior do que tinha estimado. De longe, tinha pensado que uma caminhada rápida o levaria até o topo, mas agora olhando ela se arquear para o longe, percebeu que iria demorar cerca de duas horas para chegar até o pico e isso se conseguisse encontrar uma trilha decente para se traçar. O relógio de pulso marcava que ainda era começo da tarde e ele acreditou que teria luz do dia para ir até topo e descer até seu carro em segurança.

Foi aí que ele começou a notar algumas peculiaridades únicas na paisagem. Ela ficava sozinha, com nenhuma outra colina ou montanha ao redor, como se tivesse sido deixada lá em isolamento, em quarentena da sua própria terra. Sua subida parecia mais torta do que parecia à distancia; assimétrica, ligeiramente inclinada para um lado de forma bizarra, sua superfície coberta de esporádicos pacotes de árvore, enquanto o capim alto e selvagem, um emaranhado de fios amarelos e mortos - ou estrangulados - pelos rebentos verdes que com sucesso cobriam a maior parte da área. O mais surpreendente era que havia uma trilha feita pela mão do homem que ia em direção ao topo, o qual ele ficou encantado em descobrir. Tinha sido privada do ataque da grama esguia que consumia todo o resto. Por um momento John pensou que era tudo uma farsa e era vítima de uma pegadinha, pois o caminho parecia bem desgasto como se fosse usado com frequência. Mas então um pensamento muito mais obscuro flertou com sua sensibilidade racional: Que a montanha estava se inclinando, atraindo os visitantes, acolhendo-os à um destino desconhecido. Ele rapidamente tirou isso da cabeça e continuou.

Um velho portão bloqueava o caminho. Era de madeira, mas obviamente tinha sido submetido fazia algum tempo aos estragos que o inverno escocês proporcionava, sendo que sua superfície tinha sido parcialmente devorada por musgo verde e mofo. Quando abriu, John cruzou a linha do limite e quando o portão se fechou atrás dele, um arrepio percorreu-lhe a espinha acompanhada por uma leve sensação de náusea. Se fosse um homem supersticioso, ele teria dito que não era um bom lugar, que o ar ao seu redor parecia sujo... Mas ele não era facilmente afetado por tais pensamentos, então era mais fácil se enganar pensando ser algo que tinha comido ao invés de dar o braço a torcer e dizer que o morro que estava o deixando nervoso.

Passeando pela trilha, ele tentou fazer no menor tempo possível. A ideia de ter de voltar durante a noite não era uma de ser apreciada, com o caminho inseguro e invisível e como o céu da tarde já estava um tanto mais escuro do que tinha estado ao meio-di. Marchou a subida com intenção, animado para ver a vista lá de cima.

A inclinação aumentou ligeiramente, junto com natureza esporádica que o cercava. O capim alto tinha tomado tudo a não ser a trilha, e grupos ocasionais de árvores o ladeavam, e agora ele começava a entender porque os habitantes locais começaram a temer o lugar - os juncos de grama morta e hera rodeavam cada tronco sugerindo um propósito malévolo. Algumas árvores tinham caído, ficando em posições estranhas em ângulos acentuados, como se suas copas tivessem sido puxadas para a terra, com sua casca quebradas pelos dedos de grama que se agarrava a elas como um verdadeiro leviatã - mas enquanto a ideia era fantasiosa, de certa forma a encosta parecia errada, de um jeito não natural, e enquanto subia, um ar gélido começou a rastejar pelos seus braços. Ele já havia efetuado caminhas e subidas e em seu trabalho tinha que enfrentar regiões selvagens enquanto avaliava terrenos, mas isso parecia diferente. Era como se a terra afetasse o clima, e não o tempo, tornando-se cada vez mais difícil de ignorar a atmosfera opressiva da montanha.

Parando por um momento, ele esfregou os braços às pressas para aquecê-los, fazendo uma pausa para avaliar seu progresso. Ele ficou surpreso de quanto já havia subido. Faziam não mais que vinte minutos, mas olhando na direção de que tinha vindo, ele deveria estar na metade da subida da montanha. Mas como? Cada vez que ele tentava avaliar o tamanho da colina, parecia sempre confundir a conclusão anterior. Era como se o lugar fosse, de certa forma, deformado. John riu sozinho por não conseguir ter nenhuma noção da dimensão dos arredores. Nenhum pássaro, nenhum farfalhar de arbustos por causa de lebres, raposas ou até mesmo insetos Na verdade, toda a encosta parecia morta. Não, não morta, ele pensou, e sim nas garras da própria morte. No entanto, era inverno, então ele devia esperar a esterilidade do campo, mas o silêncio continuava a perturbá-lo.

Então outro fenômeno estranho chamou sua atenção. Uma contradição. Algo que contradizia sua própria memória, suas capacidade. O caminho atrás dele agora era diferente. Enquanto subia, John tinha ficado surpreendido de como o caminho não era tomado de mato alto, como todo o resto era. Isso o fez suspeitar que talvez fosse usado regularmente, mas agora olhando para baixo, parecia estar engolido pela natureza, talvez não completamente mas, obviamente, muito mais do que antes. O capim tinha tomado conta da trilha, enquanto arbustos e árvores se inclinavam perante, parecendo muito mais detonado do que ele inicialmente achou - mas o caminha a frente estava limpo.

Olhando para o resto do mundo lá em baixo, tudo parecia tão distante e de certa forma sintético. As cores não eram tão vividas, as campinas que povoavam os vales tinham perdido seus tons vibrantes, e o próprio céu que se filtrava em direção do chão de um jeito que John só podia descrever como "luz falsa".

Ele lutou à negar os sentimentos desagradáveis que estava experimentando, e enquanto continuava por um tempo, subindo, a náusea que tinha aparecido quando atravessou o portão, voltara. A sensação de frio que tinha envolto suas extremidades havia progredido como uma doença, penetrando suas entranhas e congelando-o até os ossos. John tinha dado o seu melhor para chegar até o topo, mas não era idiota. Ele sabia que não passava um mês sem uma notícia sobre um trilhador inexperiente ou alpinista se perdendo em uma montanha remota, e enquanto a colina parecia ser muito mais humilde do que essas, ele estava disposto a aceitar a derrota, até feliz por isso. Os arredores pareciam ameaçadores, e sua atual condição física foi o suficiente para dar retirada.

Embora não tivera alcançado o cume, John decidiu que, se ele ainda conseguisse voltar para a vila depois de estar na encosta, seria suficiente para argumentar contra as superstições. Talvez ele voltasse no verão para avaliar a terra, considerando sua decisão mais como um adiantamento do que admissão de fracasso; entreter os moradores locais com a noção de que estiveram certo todo esse tempo não era algo que ele queria.

Teria de haver evidências da sua aventura, é claro. Tirando do seu bolso um celular com câmera, o qual ele usava para documentar seu trabalho, John começou a tremer com a volta da sensação gelada subindo por seus braços, provocando um desejo intenso de ser aquecido pela lareira da pousada. Com alguns cliques rápidos, fotografou ao redor da colina e depois, como uma piada, tirou uma foto de si mesmo forçando um sorriso e com árvores e capim alto de fundo.

O que ele viu quando estava revendo as fotos tiradas fez seu corpo tremer em arrepio. As primeiras fotos da área saíram como esperado, mas a última tirada mostrava algo entre os arbustos atrás dele - que parecia algum tipo de construção. A mente de John o mandava sair correndo dali, mas ele ficou fascinado com a ideia de uma construção escondida, afastada do mundo exterior por uma barreira natural de folhas, ramos e mitos.


Continua na Parte 5...

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