quinta-feira, 30 de setembro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 5



Respirando fundo, ele se arrastou pela grama torcida, empurrando as folhas que ficavam penduradas das grandes árvores para o lado. Lá, sentada naquela colina que os moradores tinham medo de ir, estava o que parecia ser uma velha capela ou igreja. Uma torre se esticava em direção ao céu, com grandes janelas de vitral - as quais muitas estavam quebradas - pontilhando a construção cinza de pedra, lembrando de dias mais importantes e felizes.

O coração de John acelerou apenas com a visão daquilo. Talvez por isso que o morro tinha sido manchado de superstições e mitos. Uma igreja velha e abandonada era motivo suficiente para criar histórias assombradas. Ainda assim, a igreja não bania os sentimentos de cautela de John. Enquanto passava por uma camada de folhas, grama e hera, não podia negar como se sentia nervoso. Suor começou a pingar de seu rosto, enquanto seu coração bombeava sangue em um ritmo instável e inquieto.

Deixar a colina ainda era a sua principal intenção, mas enquanto se aproximava do arco de pedra que abrigava a porta da igreja, ele supôs que os moradores ficariam mais abertos as suas explicações de o porque as pessoas temiam o lugar, se eles soubessem que ele existia lá dentro. Sem conhecer o interior da igreja, os conterrâneos poderiam mais uma vez criar histórias e mentiras sobre o que permanecia escondido.

A porta era de um carvalho marrom escuro com riscos metálicos negros que adornavam a superfície, mas infelizmente parecia trancada. John deu alguns firmes e sólidos empurrões e então, surpreendentemente, com rangido de incontáveis anos se abriu um pouco, criando espaço apenas para deslizar para dentro. Espiando pela fresta, podia ver que o chão estava coberto de alvenaria que havia caído do teto. Uma grande quantidade de pedras estavam empilhadas atrás da porta, e o seu peso em conjunto mantinha a porta fechada. Apesar de terem cedido um pouco, elas proporcionavam resistência o suficiente para não abrir completamente.

Um ar mofado e frio saiu de dentro, com cheiro rançoso de pedras muito tempo abandonadas. Por um momento, John considerou o que deveria fazer. Uma construção deixada para apodrecer por décadas, se não séculos, poderia ser muito perigosa, mas o desejo de provar que tinha corajosamente visto tudo que podia ser visto o queimava por dentro. Queria provar que não haviam fantasmas ou demônios ali, apenas fragmentos de uma história esquecida.

Pegando seu telefone, ele enfiou a mão através da fresta e tirou algumas fotos com flash. A luz iluminou o todo o interior, mostrando estar cheio de escombros que obviamente tinha caído do telhado, mas no fundo do salão parecia estar um tipo de altar. Do seu ponto de vista, parecia ser feito de pedra, descansando em um degrau elevado, vários metros acima. Acima disso, John ficou emocionado pela presença de uma inscrição esculpida na parede, mas infelizmente não conseguia decifrar o que estava escrito. Suspirou, pois sabia que se quisesse ler, teria de entrar. O medo de ficar machucado ou preso de algo que caísse do teto era primordial, mas sua curiosidade estava em pleno voo, seu entusiasmo beirando tanto o enjoo em seu estomago quanto o frio entorpecente nas suas extremidades.

Depois de debater os riscos consigo mesmo, John decidiu que iria o mais silenciosamente e cuidadosamente possível para reduzir os riscos de um desmoronamento. Ele só precisava olhar. Respirando fundo, deu um jeito de se apertar na entrada, e com um pouco de esforço, foi para a escuridão lá de dentro. Usando uma pequena luz de trás do seu celular, ele estava melhor situado para inspecionar os arredores mais facilmente. O ar estava significativamente mais frio, raspando o fundo de sua garganta quando inalava-o, e embora já estivesse esperando que o interior fosse mais gelado do que o lado de fora por ser feito inteiramente de pedra, a igreja parecia mais catacumba do que qualquer lugar sagrado.

Pisando mais cuidadosamente que podia, tentando não mexer ou desalojar as grandes pilhas de escombros no chão, John fixou seus olhos treinados no teto alto, nervoso de que qualquer barulho poderia fazer com que a alvenaria caísse sobre sua cabeça. A extensão dos danos ficou mais clara, com a pouca luz que penetrava o lugar por entre umas rachaduras e buracos abertos como feridas telhado; entretanto, o salão continuava obscuro. John achou isso curioso pois o interior, de certa forma, deveria ser mais visível. Era como se a luz fosse absorvida pelos cantos escuros do salão, mas imediatamente descartou esse pensamento pois precisava manter seus nervos sob controle - ambientes desconhecidos e isolados podem distrair até a mais racional das mentes.

Depois de escalar mais de duas pilhas de escombros, sendo cuidadoso e evitando várias partes afiadas de madeira quebrada, ele finalmente se encontrou na parte traseira da igreja. Lá ficava o altar - uma mesa esculpida em pedra alisada feitas por mãos muito habilidosas. Era fácil de imaginar o quão assustador um padre da idade das trevas parecia, posto lá em cima, falando contos de um ponto de vista ignorante, espumando pela boca sobre as condenações e forças demoníacas presas na alma dos inocentes.

Uma sensação de euforia e emoção encheu a mente de John - estar perto de algo tão cheio de história, mas ele considerava a possibilidade de que o altar tivesse sido extraído daquele mesmo morro, arrancado de um depósito de rochas no fundo da terra, nascido de processos mais antigos que a própria humanidade. Mas a emoção de uma descoberta tão antiga e rara extinguiu rapidamente esses devaneios. Ele estava tão enamorado pelo objeto, que quase deixou passar uma pequena porta aberta à direita do altar que parecia liderar à um lance de escada para uma câmara subterrânea, possivelmente um cofre ou um tumba. Se arrepiando ao pensar o que poderia jazer lá, sabendo que, mesmo com seu nível de ceticismo, não haveriam aventuras lá por baixo. Superstição ou não, vagar por túneis em cima de uma construção decadente não era uma ideia inteligente.

Apontando a luz branca e estreita de seu celular para o fundo da sala, olhou desconfiado para uma escada empoeirada que levava até a plataforma do altar. Um arranjo natural que um padre ou pastor usufruiu para seus serviços a centenas de anos atrás, mas ele ainda relutava a pensar que essa era mesmo a função exercida ali. De novo, um mal-estar rastejou pelo seu ser enquanto imaginava um homem santo, de pé, acima de todos, gritando parábolas enigmáticas e catastrófica para um antigo público assustado e confuso.

Fazendo seu caminho até a plataforma, sua atenção foi desviada do chão instável por estar ansioso para estudar mais de perto as inscrições na parede do fundo. Então, seu pé prendeu em uma pedra quebrada no último degrau. Tropeçando abruptamente para frente, o ombro de John bateu dolorosamente contra a beirada do altar de pedra, antes de conseguir amortecer a queda com seu braço no chão duro e frio da plataforma. O barulho de sua queda ecoou por toda a construção, com o som ricocheteando pelas paredes até o teto. Por um segundo, achou que tinha ouvido um barulho estranho vindo de outro lugar, perto dele. Algumas pequenas pedras caíram de cima, quebrando-se no chão, como se estivessem avisando que coisas mais pesadas e mortais estavam por vir. O alívio correu pelo corpo de John. Feliz pelas pedras não terem caído em cima dele, e sim um pouco a frente, ele estava ficando um pouco inseguro de sua segurança.

Se levantou vagarosamente, segurando o ombro que agora estava machucado e dolorido, manteve seus olhos treinados no teto. Tirando o som do vento que assobiava entre rachaduras e buracos nas paredes, o silêncio era onipotente. Nervoso de que quaisquer outros movimentos bruscos fariam o teto desabar em sua cabeça, John esperou vários minutos até achar que temporariamente estava a salvo dos detritos do teto. Então, mais devagar do que antes, se virou e avaliou o altar de perto. Iconografias religiosas estavam esculpidas dos lados, juntamente com símbolos estranhos e irregulares que não reconhecia. Era fácil de imaginar algum tipo de comunhão sendo exercida ali, com cada membro da congregação se aproximando sombriamente - descabelados e mal nutridos - recebendo a benção de um padre severo, que falava mais de ira do que sobre o amor.

John poderia admitir a qualquer um que não era o cara mais criativo ou imaginativo da terra, mas ali, naquele lugar esquecido do mundo, ele estava surpreso de quão vivido sua imaginação se tornara. Ele quase podia visualizar aqueles que um dia tinham rezado ali - rostos pálidos, protegidos contra o inverno severo, corpos murchos pelos alimentos inúteis e sem nutrientes da colheita, e ainda por cima com medo de algo extraordinário e indefinido que sufocavam todos e quaisquer pensamentos que tinham. Sim, aquela igreja era um lugar moribundo e pequeno, mas tornava fácil preencher a mente da população com fantasmas e espíritos. Mas claro, ele não tinha nenhuma maneira de saber se suas suposições estavam certas ou erradas.

Ele sacudiu a cabeça para expulsar aqueles pensamentos e riu baixinho para si mesmo por ter deixado se afetar tão facilmente pelo lugar, até que seus olhos fixaram-se na inscrição esculpida acima, na parede do fundo. Estendendo a mão, correu os dedos na profundidade e as bordas irregulares deixadas pela talhadeira do autor. Estava claro que a mensagem da parede fugia do cenário do lugar, escrita as pressas, com as letras todas desalinhadas, o que sugeria que tinham sido produto de alguém apressado - com intenção de ficar o menor tempo possível dentro da igreja. Dando um passo pra trás, a luz do celular iluminou as palavras que diziam:

"Aqueles que habitavam em Dungorth tomaram esta colina em 1472. Em 1481 foi devolvida, na esperança de que aqueles o qual perturbamos, perdoem nossas ofensas."


Continua na Parte 6...

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