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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Nurse ann - A Enfermeira - Creepypasta



Eu costumava ser apenas uma enfermeira tranquila, a quem o doutor gostava muito do trabalho. Meu nome é Ann Lusen Mia, meu chefe foi o Dr. Sebastian... Ele conhece todos os nomes e formas do corpo humano !
Ele me disse que existia uma nova maneira de manter os pacientes vivos, eu pensei que era uma espécie de injeção especial ou remédio. Com o passar do tempo percebi que ele me tratava diferente, pois com os outros funcionários ele era sempre tão sério e frio...

Ele era um médico de cabelos loiros e olhos azuis, muito bonito na minha opinião. Com o tempo a convivência e o modo como ele me tratava, acabei me apaixonando por ele e depois de um certo tempo ele confessou seu amor por mim, então eu o aceitei... Estava louca por ele!

Poucos dias depois ele começou a se aproximar de mim de um jeito estranho, muito além do que de costume e isso começou a me incomodar, mas deveria ser por que ele me amava muito então deixei para lá, não seria um problema...Seria? Numa bela noite ele me convidou para jantar em sua casa e eu aceitei sem pensar duas vezes!

Quando estávamos em sua casa ele parecia tenso, disse que tinha uma surpresa para mim. Ele se ajoelhou diante de mim e tirou um anel do bolso, me pediu em casamento e eu aceitei com muita alegria! Ele falou que havia outra surpresa para mim no porão...

Enquanto descíamos as escadas ele voltou a falar que havia um jeito de fazer com que o ser humano vivesse para sempre, algo que sempre achei estranho quando ele me contava. Ao entrar no porão, quando a luz conseguiu iluminar o ambiente, eu fiquei em choque. haviam cadáveres por toda parte, principalmente desmembrados. Todos usavam uma túnica.

Eu entrei em pânico! Disse a ele para me esquecer, que ele era completamente louco e que eu não me casaria mais com ele! Na minha tentativa de fugir, ele me pegou pelo pescoço e tampou calmante a minha boca com um pano com clorofórmio
. Apaguei. Quando acordei, estava vestida com uma túnica igual aos que os pacientes do hospital usavam... Inclusive os pobres cadáveres no porão.

Depois de ter ficado um bom tempo trancada ele apareceu, vestido com sua roupa de cirurgião, mas desta vez não parecia o bondoso e amável doutor a quem eu era perdidamente apaixonada... E sim parecia mais um louco psicopata! Ele disse que não deixaria que eu ficasse longe dele, veio andando lentamente em minha direção, tentei lutar mas eu mal podia fazer alguma coisa, estava tonta ainda... Ele apunhalou meu coração com uma faca, aproximou-se do meu ouvido e sussurrou:

"Não se preocupe meu amor, você vai ser minha e desta vez para sempre...".

Depois que eu morri ele conseguiu me trazer de volta à vida ...

Quando realmente me dei conta eu já não era mais a mesma! Estava mais alta e tinha dificuldades em me mover, meu corpo doía inteiro pois agora eu era feita das partes de cadáveres daquele maldito porão, eu estava viva, mas já não era mais eu.

Sebastian voltou e disse: "Agora farei a mesma coisa comigo e estaremos juntos para sempre".

Para sempre!... Pensei. Nesse momento uma enorme força me dominou e pude me levantar, ao olhar para ele com toda a fúria dentro de mim eu o enforquei com as minhas próprias mãos! Próximo havia uma motosserra... Eu a usei para cortá-lo em pedaços! Com a mesma motosserra eu abri a porta do Porão e sai daquela maldita casa!

Agora eu não era mais Ann Lusen Mia, de alguma forma, assim como meu corpo feito de cadáveres, algo em minha mente havia mudado, agora eu era Nurse ann, e precisava continuar.


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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

The Puppeteer - O Marionetista - Creepypasta



Tudo começou quando eu comecei a reparar algumas mudanças em minha mãe.

Não, na verdade começou antes disso, talvez alguns anos. Talvez até mesmo antes que eu pudesse lembrar a diferença entre o certo e o errado, o fato é que foi a muito tempo atrás. Eu tinha apenas um irmão eu era o caçula. Nossa mãe era solteira, ela sempre foi desde que eu conseguia lembrar. Nosso pai nos abandonou quando minha mãe engravidou de mim. Nós amamos nossa mãe, nós realmente amávamos. Ela nos comprava roupas bonitas mesmo que ela não pudesse pagar, nunca faltava comida em nossa casa. Tudo era ótimo, minha mãe só tinha alguns problemas com a bebida.

Não era apenas um problema, este era o maior problema. Ela era sozinha, embora tentasse conhecer outras pessoas. Ele sempre ia bem no início, até que ela mudasse de ideia e dava um chute na bunda quando um cara dava em cima dela. Isso se repetiu muitas vezes.

Eu me sentia muito... sozinho. Meu irmão não era muito interessado em brincar comigo, vendo que ele tinha uns cinco anos mais velho e ele sempre pensou em mim como o irmão pequeno irritante. Mas tudo o que eu queria era companhia.

Nunca obtive sucesso em tentar fazer novos amigos na escola, na verdade, tinha sempre pessoas querendo me bater, um em especial se chamava Ricardo, ele sempre zombava de mim, por isso não gostava muito de ir à escola. Passei cada momento sozinho. Minha mãe não se importava, claro. Ela estava muito ocupada tentando terminar seu trabalho para que ela pudesse passar as últimas horas em casa bebendo a noite inteira.

Mas eu acho que cada segundo de solidão trouxe algo para fora de mim. Comecei a... imaginar. Imaginar muito. Fazer amigos imaginários foi um dos meus passatempos favoritos. Sim, um hobby. Fiz novos tantas vezes que era difícil manter-me, mesmo para mim.


Mas existia um em particular, que eu não me lembrava de tê-lo criado.


Ele não era como os outros. Este foi o único que me deu mais paz do que qualquer coisa. Ele brincava comigo, é claro, mas só a noite. Então nós conversávamos e brincávamos fazendo de super certeza que minha mãe não ouviria a minha alegre risada. Ele era um especialista em muitas coisas, mas ele era o melhor na arte de fazer marionetes. Todos os dias ele apareceria com uma marionete nova, qualquer boneco que eu pedia ele trazia pra mim no dia seguinte. Ele os controlava muito bem, essa era a sua habilidade.


Então comecei a chama-lo de O Marionetista.


(Ouça)

Eu sempre consegui distinguir quem é imaginário ou não, mas com ele... Era difícil negar que ele era apenas um amigo imaginário. Porque eu sabia que ele era. Todas as noites, quando ele disse que eu tinha que dormir, ele ficava por mais uma hora só para assistir e se certificar de que eu estava realmente caindo no sono. Seus dourados olhos brilhantes me observando de longe na escuridão. Eu olhei para ele. Seu rosto cinza estava me mantinha calmo enquanto ele sorria para mim. Adormeci todas as noites.

Mas eu não podia falar com ninguém sobre a criatura que me visita todas as noites.

Era... era estranho.

O tempo passou, nós crescemos e algumas coisas mudaram. A única coisa que parecia permanecer igual era o hábito de bebedeira da minha mãe. Meu irmão saiu de casa quando completou 18 anos, ele não aguentava mais ela, por isso se mudou. Eu tinha apenas 12 anos na época e eu não podia sair de casa ainda, tinha que esperar ainda um longo tempo. Eu estava esperando pacientemente, era a única coisa que eu poderia fazer na minha... solidão.


Meu amigo imaginário nunca me deixou no entanto ele começou a se tornar um problema. Ele continuou a me visitar a cada noite, me fazendo companhia. Eu comecei a ignorá-lo, eu era louco... tinha que ser. Aos 12 anos o negócio todo de amigo imaginário era ridículo. Eu tinha outras coisas para fazer de qualquer maneira. Lição de casa, jogar meu Playstation 2. Contudo eu não estava satisfeito. Era apenas algo neutro. Eu não me sentia solitário, eu já estava assim há muito tempo. No entanto, lá estava ele... olhando para mim com o rosto escondido sob as sombras do meu quarto, olhos brilhantes me estudando. Mais um ano se passou.

Sem sucesso, ele continuou.

Eu finalmente me cansei de tudo. Escola estava sendo um infortúnio, Ricardo vivia me batendo e minha mãe ficou pior com a bebida. Mesmo ao ponto em que ela começou a automutilação . Ela se recusou a falar comigo, mesmo quando eu tentei. Eventualmente ela perdeu o emprego. Eu torci para que isso acontecesse para que ela percebesse que tinha problemas... Mas não, mesmo que minha mãe tivesse coisas pra fazer ela ficava sentada a beber pra manter seus problemas a distância. Ela tornou-se mais irritante com o tempo, todo mundo percebeu isso. Todo mundo que era... bem, apenas eu. Fiz tudo o que podia fazer para não ficar em casa - dormindo na casa da minha tia ou mesmo tentando entrar em contato com o meu irmão. Mas havia algumas noites que eu tinha que ficar em casa e era o inferno na terra.

Todos os dias ela me repreendia por nada. Era tão estúpido, coisas simples. Como esquecer de comprar leite no caminho para casa, esquecer de preparar o jantar... O que eu poderia fazer? Eu tinha 13 anos. Minha mãe não aceitava nada como desculpa. Ela não parava de...Uma noite, ela apenas perdeu.


Lembro-me claramente.


Era algo sobre os pratos. Eu tinha que limpa-los depois do jantar como sempre e desta vez eu acidentalmente deixei um prato cair. Ele caiu no chão e quebrou em pedaços minúsculos. Minha mãe naturalmente ficou furiosa comigo. Eu poderia entendê-la em algum momento, entendo por que ela estava chateada comigo... mas agora eu era o culpado por tudo o que aconteceu.

Mas desta vez ela não só gritou na minha cara por um minuto ou dois. Desta vez, ela agiu violentamente, jogando uma cadeira do outro lado da sala. Ela gritou comigo por não ser o filho perfeito, como ela perdeu tudo por causa de mim e do meu irmão... Tudo era culpa nossa. E então... um tapa na cara.


Eu corri e me tranquei no meu quarto.


E lá estava ele, esperando por mim. Era noite afinal. E pela primeira vez em quase dois anos, eu falei com ele. Ele era o único que eu poderia conversar. Mesmo que ele fosse imaginário, mesmo que eu estivesse basicamente falando sozinho. Eu não me importava . Eu precisava desesperadamente dele.


E pela primeira vez... Ele também falou comigo.


Ele estava mais calmo do que eu pensei que ele seria .


- Sua mãe... ela é má.


Eu discordei. Ela não era má... Ou era? Ela arruinou a minha vida, ela me odiava, mas ainda assim eu balancei minha cabeça.

-Não chore - Ele falou comigo - Os meninos grandes não choram... Então, acalme-se, eu vou falar com a sua mãe. Agora vá dormir... Você vai precisar.

Fiz o que ele disse. Sem perguntas eu fui para a cama. Meu coração estava batendo e minha cabeça girando. Minha mãe nunca ia no meu quarto... Então não me preocupei dela vir querer me agredir durante a noite. Não demorou muito tempo para adormecer naquela noite. Na parte da manhã eu apenas queria voltar para a escola como se nada tivesse acontecido e encontrar minha mãe alcoólatra patética mesmo no dia seguinte.


Mas... isso não acontece.


Acordei novamente. Estava completamente escuro ao meu redor. Eu não acordei sozinho, ouvi algum tipo de ruído do lado de fora do meu quarto. Cautelosamente e inseguro, eu pisei em cima da minha cama e sai para o corredor. Era um ruído de rachadura. Como se alguém estivesse pisando no gelo ou em vidro quebrado, mas era muito mais maçante do que isso. Minha curiosidade tomou conta e eu continuei até que eu encontrei a fonte da quebra e estalo. Vinha do quarto de minha mãe.

O que estava acontecendo ali? Minha mãe deveria estar dormindo a esta hora... Eu cheguei mais perto, o barulho parecia mais alto. Depois de um minuto ouvindo do lado de fora da sala, eu decidi ir para dentro. Eu empurrei a porta de madeira e tropecei de joelhos.

O que eu vi... Ninguém deveria ver uma coisa dessas.

Minha mãe tinha sido atirada para o chão. Seu rosto estava sangrando e seu nariz parecia quebrado. Ela estava de joelhos, com os braços estendidos para trás em uma posição não natural, as mãos tremiam de dor. Parecia que ela estava gritando, mas apenas tossia. Ela me viu. E foi aí que eu me perdi.

Tentei gritar, mas eu não podia. Eu só me arrastei em direção ao lado da cama, agarrando a ela como se fosse a única coisa para me salvar naquele ponto. Os braços de minha mãe estavam quebrando na frente do meu rosto, por algo que eu não podia ver ou ouvir. Eu só podia vê-la, minha mãe. Assustada por sua vida.

E então ele lentamente apareceu diante de mim. Suas mãos e rosto cinza emergindo das sombras. Seus olhos dourados estavam completamente focados nela e então eu pude ver o que ele estava fazendo. Com um pé nas costas delas, fios dourados saiam de seus dedos e se vinculavam com as pernas e braços da minha mãe. Ele estava quebrando os braços da minha mãe em dois.


Fazendo dela uma... Marionete.


Seus ossos não aguentaria muito tempo. Eles finalmente quebraram, tirando em uma trilha de sons horríveis. Tentei gritar novamente, mas tudo foi mais uma vez silenciado pelo meu próprio medo. Tentei me acalmar, tentei acreditar que eu só estava imaginando tudo. Mas era real. Meu próprio amigo, amigo imaginário estava matando a minha mãe. E eu não fiz nada para detê-lo.

Ele não estava satisfeito, eu tentei gritar para ele, tentei pedir para ele parar. Mas ele não quis ouvir. Ele só continuou a ferir a minha mãe ainda mais. Ele contraia milímetros do músculo do seu dedo e a perna de minha mão se dobrava fazendo seu calcanhar atingir a própria nuca. Ele me obrigou a sentar-se lá, me fez ver como ele quebrou minha mãe. Ele me disse que estava se livrando do mal. Eu queria acreditar nele... mas eu simplesmente não conseguia. Ele quebrou as pernas, costelas ... até mesmo os dedos. Ossos se contorcendo em todas as direções que parecem impossíveis para um ser humano. Eu gritava e gritava. Ninguém me ouvia. Seus olhos dourados se viravam para olhar para mim quando ele me calou por um tempo final.

Então, ele a estrangulou. Lindas cordas de ouro brilhantes de morte enrolado em seu pescoço , apertando o último vislumbre da vida. Eu podia ver nos olhos de minha mãe. E foi a última coisa que eu conseguia me lembrar antes de tudo ficar escuro, eu desmaiei no chão ao lado da cama.

Nossos vizinhos ouviram meus gritos e chamaram a polícia. Todo mundo ficou com pena do órfão que tinha visto sua mãe morrer na frente de seus olhos. Mas de acordo com eles, a minha mãe não tinha sido assassinada. Ela havia sido encontrado no meio da sala, com uma corda em volta do pescoço. A corda não tinha sido capaz de levar seu corpo depois de um tempo e tinha estourado em dois, fazendo com que o corpo de minha mãe a cai-se no chão e quebrasse alguns ossos.

Eu nunca falei sobre a morte dela, nunca mais, nem disse outra palavra sobre o meu amigo imaginário. 

Talvez tudo tivesse sido um sonho horrível.

Mesmo no enterro da minha mãe, eu estava completamente sozinho. Meu irmão não apareceu. Só a minha tia e meu tio estavam lá. E eu passei horas esperando por ele, para vir e me pegar. O único que tinha me escutado todo esse tempo. Me deu segurança, me confortou quando eu mais precisava.


E quando eu estava sozinho diante do caixão dela, de repente senti alguém pegar minha mão.


E eu sorri. Sua mão cinza estava no meu ombro.


- Você conhece mais alguém mau?


Então, eu me lembrei de Ricardo.


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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte Final

Creepysterror


No século 15 um grupo de refugiados vieram à essa área procurando um lugar que pudessem chamar de casa. Os vales - ou planícies, como são conhecidos na Escócia - eram inabitadas na época, assim como uma estranha colina que era dominante na paisagem. O povo era de um lugar chamado Dungorth, e tinham escapado do proprietário das terras que comandava aquela região; fugindo de suas perseguições, pois era um governador brutal e impiedoso que punia todos que não seguiam suas crenças.

Em geral, não passavam da casa das centenas, e enquanto os mais velhos queriam apenas se estabelecer nos vales, um sacerdote importante entre eles alegava que para abençoar a terras, e para assegurar que nenhum mal cairia sobre a comunidade, a colina devia ser estabelecida primeiro - um farol de santidade lançando uma sombra de proteção em todos abaixo. Enquanto alguns suspeitavam da fascinação do homem com o lugar, ele era conhecido por sua bondade e por ser alguém cujo o julgamento era confiável. Desanimados, os mais velhos começaram a seguir seu exemplo, como na época era típico das pessoas serem tementes a Deus. Lá, naquele morro isolado e sinistro, construíram um pequeno povoado, mas quase que imediatamente alguns colonos caíram em doença. Uma doença que não tinha explicação e que levava a uma loucura febril.

O padre culpou algumas pedras altas que salpicavam a encosta, restos de - para ele, pelo menos - de uma religião antiga e herege. Foi decidido, por sua supervisão, que o povo devia construir uma igreja. Com a presença de algo sagrado na terra, pensava-se que seja lá o que residia anteriormente na colina, seria desenraizada.

Estavam errados.

Apesar dos esforços a doença só se tornou pior, e muitos começaram a desconfiar que o próprio padre estava em aliança com as forças abomináveis. Alguns dos anciãos levantaram-se contra ele, mas sob ordens do padre, os membros da congregação de sua igreja executaram todos aqueles que se rebelaram. Temendo por suas vidas, muitos colonos fugiram durante a noite, acompanhando outros anciões para outras terras. A maioria conseguiu sair da colina, mas alguns voltaram apavorados, dizendo terem sidos perseguidos por uma figura sobrenatural pela floresta, e foram incapaz de fugir. Para salvar suas vidas, eles comprometeram a comunhão eterna com o padre e sua igreja.

Dizendo receber visões do próprio todo poderoso, o homem santo assegurou aos aldeões que, se seguissem precisamente suas instruções, estariam a salvo. Todas as noites se amontoavam na igreja enquanto o padre vomitava suas visões e condenações, praguejando ódio à aqueles que haviam o deixado. Ficou claro para alguns que ele havia enlouquecido, mas até então o homem havia formado um conclave rigoroso, brutalmente fiel, de seguidores que pendiam sobre cada palavra que saia de sua boca, tornando toda e qualquer rebelião violenta, sangrenta e incerta.

Muitos falavam de sonhos sem formas, cegos pela escuridão, e várias famílias foram encontradas em suas casas, sufocados no meio da noite. O padre culpou aqueles que tinham escapado e contou histórias de como esses eram a fonte da escuridão que perseguia seu povo, os amaldiçoando por um final desesperado. Amargura e raiva se espalhou pela comunidade e vários aldeões foram selecionados para descer a colina e trazer de volta os anciões que seriam julgados e sacrificado, se necessário. Mas ninguém conseguia sair dali. Não importa o quanto tentassem, a igreja estava lá, não importava em que direção andassem, pra cima do para baixo, voltariam para onde haviam começado, confusos e desorientados.

A doença se espalhou, e os vigias da aldeia, um a um, foram encontrados estrangulados e multilados nas ruas, com testemunhas clamando ter visto uma estranha entidade rondando durante a noite. Em pânico, ficaram sem opção a não ser se apoiar em sua religião por salvação, na esperança que a igreja os protegeria. Todos se amontoaram juntos lá dentro, apavorados com o que estava saindo das sombras durante a noite.

Nessa parte, a escrita mudou marcantemente, ficando bastante rasurada, fervorosa, e mais pronunciada. O próprio padre tinha tomado o livro do cronista da aldeia, pois tinha considerado sua história insatisfatória. Seguiram várias páginas, rasuras em um Inglês emaranhado que mais parecia Latim, e um número de linguagens indescritíveis e esquisitas. Cada página estava preenchida com palavras de dor e desprezo por aqueles que haviam o deixado, e então, as palavras simplesmente pararam.

***


De pé, naquele lugar infernal e perturbado, eu corri meus dedos pela espinha do livro e pude ver claramente que a última página do livro tinha sido arrancada. O que estava escrito lá, eu não sabia.

Me senti oprimido pelo relato que tinha acabado de ler, enquanto um medo muito palpável e real subiu por todo meu corpo. Me ocorreu um pensamento, de que os relatos de doença que afetaram os exilados de Dungorth era notavelmente semelhante às experiências de John. Eu não podia negar as coincidências e comecei a suspeitar que algo realmente tinha afetado-o; algo realmente tangível. Uma contaminação do solo? Um veneno, talvez? Eu já havia lido sobre bolsões de gás metano que escapavam através da terra ou no mar que haviam matado muitos, mas não estava fora de questão que algo semelhando, em doses menores, poderia ser o que causava alucinação em massa, doenças e loucura. Era a explicação mais viável que eu conseguia ter. Mas então, por que não tinha me afetado? Talvez, como dizia no livro, algumas pessoas eram mais imunes à contaminação do que outros.

Minha atenção, mais uma vez, voltou para o túmulo, ou pelo menos o que tinha sobrado dele. Me perguntava o que o povo tinha feito com o corpo do amado, mas também odiado padre, assumindo ser aquele referido como "o pai". Teriam re-enterrado em outro local? Talvez os seguidores estivesse com medo que o túmulo fosse saqueado. A resposta veio a mim quase que imediatamente: Eles tinham o queimado em seu túmulo, em baixo da própria igreja que haviam construído; O buraco era onde seu corpo um dia tinha sido posto, agora marcado eternamente pelas manchas negras da fumaça e da brasa. Estremeci com o pensamento que tudo isso podia ter sido feito enquanto ele ainda estava vivo.

O ar ficara notavelmente mais gélido, mas não foi isso que marcou o começo do meu calvário. Eu me curvei, olhando de perto o que enxergara na borda do túmulo. Eu não conseguia acreditar. Lá, na borda do buraco, havia uma assinatura cruel deixada pelo ex-atendente da igreja. Na escuridão, eu devia ter deixado passar, mas agora estava nítida. Era uma grande mancha negra em formato de uma mão, escurecida e queimada, como se algo tivesse tentando sair da sua cova eterna e esquecida.

Minha respiração saiu lentamente de meus pulmões, congelando no exterior enquanto meu coração acelerava pela mera possibilidade do que algo tinha se levantado do buraco no chão. Enquanto o ar esfriava, me levantei e fiz meu caminho até o pé da escada - tinha que sair logo dali, para a luz do sol, para a saída. Foi então que ouvi. No começo era só a impressão que escutava algo. Depois ficou mais definido, aumentando intensamente e claramente. Algo agitava-se lá em cima.

Pessoas. Muitas delas, gemendo e lamentando, chorando por suas vidas em coro. Cânticos na escuridão, ambos cristãos e de algo mais antigo, uma fétida religião que havia desaparecido por bem. Enquanto as lamúrias de miséria aumentavam, uma única voz se distinguiu das outras. Ensurdecedoramente terrível, falou sobre o fim dos tempos, da traição e do pecado desimpedido. A voz gritava e urrava, renunciando a todos que não ouvissem, um sermão vingativo vindo do altar de pedra no andar de cima.

Sem pensar, pulei para dentro do túmulo vazio, desligando a luz do meu celular e fique encolhido, tremendo até a alma por causa das vozes que praguejavam contra o mundo e contra os outro - ódio e absoluto desespero com o mal, tanto fora quanto dentro. Os rugidos de agonia aumentavam, homens, mulheres e crianças chorando e xingando por acreditar terem sido abandonados por seu Deus. Acusações, perseguições e o rasgar da carne. Depois, o silêncio. Agarrei-me ao fundo da cova carbonizada, cravando minhas no solo. Meu ceticismo a respeito de qualquer força invisível ou espiritual tinha se reduzido drasticamente. Tremendo violentamente por causa do frio, esperei passar alguns minutos até ter coragem de ligar novamente a luz de meu celular.

Espiando por cima da borda do túmulo, me desloquei lentamente até o chão. Os salões estavam vazios, não havia nada além de ossos e crânios quebrados de inúmeras vidas arruinadas por causa do mal que vivia na encosta. Finalmente criei coragem com meus nervos desafiados e crenças destruídas, subi as escadas vagarosamente, com um medo inflexível do que poderia estar me esperando no topo; mas infelizmente era a única saída, e estaria ferrado se ficasse ali para apodrecer como tinha sido o destino daquelas pobres pessoas, encolhidos nas profundezas.

O salão estava vazio. O mais silenciosamente o possível, cruzei o lugar desviando rapidamente dos detritos e escombros, cortando dentre o silêncio opressivo, finalmente saindo pela porta para o ar livre. Uma vez fora da igreja caí de joelhos, tremendo de ansiedade e tentando processar a experiência toda. Minha mente voltou para o que tinha estado naquela sepultura, e mais importante, onde estava agora. Então eu soube. Correndo o mais rápido que pude, atravessei entre os arbustos e o matagal, alcançado a trilha rapidamente, sem ser parado pelo mal que havia impedido os colonos de escapar, mas não parei, metade de mim morrendo de medo de ser perseguido e a outro metade implorando para que meus instintos estivessem errados.

O ar queimou meus pulmões enquanto me apressava pela trilha, em minutos o portão de madeira já estava a vista e eu estava fora da colina maldita, um lugar que nunca me atreveria a ir novamente. Nem por dinheiro, nem por uma história, nem por nada. Eu teria respirado em alívio, mas isso nem passou pela minha cabeça. Eu tinha de voltar à pousada o mais rápido possível. Continuando a correr o mais rápido que pude, lutei contra a exaustão e o limite do meu corpo, e logo eu já estava no Lorde de Dugorth.

Cambaleando em direção da construção antiga, foi então que ouvi. Gritos, de agonia, de terror, e de misericórdia. Eu soube imediatamente de onde e de quem. Descobri em mim uma nova energia quando me pus a correr mais uma vez, atravessando as portas do bar. Lá estava tudo quieto. Pessoas da vila estavam sentadas, imóveis olhando suas bebidas. O senhoril também parado, olhando para o chão. Os gritos continuavam a vir dos quartos de cima. Implorei e supliquei por ajuda a alguém, mas ninguém ouvia. Percebendo que me encontrava sozinho para enfrentar aquilo, parti para as escadas. Para minha surpresa, o senhoril interveio com força me puxando para trás, seus braços apertados com força em meus ombros.

"Deixe ele meu filho, você não pode o ajudar!" ele gritou, conforme mais dois homens se esforçavam para me conter.

Em um impulso forcei meu cotovelo para trás e acertei o senhoril, me soltei e em uma corrida desesperada derrubei os outros dois homens enquanto subia a escada. Seguia os agoniados gritos até o quarto de John. A porta estava trancada. Respirei fundo e comecei a arrombar a porta com meu ombro, batendo, batendo e batendo, sentindo ela ceder. A cada empurrão eu ouvia o gaguejar interrompido de alguém lá dentro , como em um choro. Finalmente, a porta cedeu e eu pude entrar no quarto.

Por um momento testemunhei algo que se parecia com um homem, ou pelo menos algo que um dia foi vivo. Escurecido e queimado, virou a cabeça para me olhar - Não posso dizer se ele chegou a me ver, uma vez que não tinha olhos. Em seus braços estava o amassado sem vida corpo de John R---.

Então se virou, esgueirando-se para fora por uma janela aberta, levando junto o corpo do homem. Ambos haviam partido.

O quarto tomou uma aparência aquosa e volátil. Não sei se foi a extensão dos meus esforços ou apenas a aproximação daquele ser grotesco, mas um enjoo tomou de mim, atravessando meu estomago e, enquanto eu perdia a consciência, eu chorava em desespero.

***

Isso tudo aconteceu a vários dias. Parece que bati com a cabeça contra o chão quando caí e feri minha perna de algum jeito. O médio da vila que me examinou receitou-me alguns antibióticos para o que acreditava ser uma infecção estomacal, e um sedativo para aliviar minha ansiedade. Com pouca coisa para me distrair, tomei meu tempo passando tudo que eu lembro para o papel. Afinal, um escritor tem de escrever.

Ontem visitei pela primeira vez o quarto de John depois que ele foi levado. Estava silencioso, e parecia vazio de um jeito estranho, como nunca achei que poderia estar. Uma ausência de vida é o melhor jeito que consigo descrever. O lugar estava revirado, com seus pertences espalhados pelo chão. Assumi que ninguém tinha estado lá desde então, o senhorio devia estar com muito medo, mas eu não podia culpá-lo por isso. Quando me virei para sair do quarto vago, vi um item que parecia não pertencer ao lugar. Na cama que um dia tinha sido de John, havia um pedaço de papel amassado e manchado. Eu sabia de onde era, mesmo sem precisar lê-lo; era a última página da crônica, o final daqueles que tinham se estabelecido na colina. Um labirinto de frases repetidas em línguas misteriosas e esquecidas, espalhadas pelo papel frágil, mas algo em inglês se destacou. Simplesmente dizia: "Ninguém vai embora".

Eu não sei mais o que fazer agora. Me sinto exausto, mas minha mente continua revivendo os últimos dias, parte por parte. Estou arruinado pela culpa, sinto que minha presença naquela colina fez com que aquela monstruosidade viesse buscar John. Caso o contrário, por que esperaria tanto tempo?

Acho que eu tive sorte porque fui para a colina quando aquele ser não estava lá, e foi isso que provavelmente salvou minha vida. De qualquer forma, seja lá como os moradores vão explicar isso, vou relatar o desaparecimento de John quando voltar para Glasgow e também pedirei para os policiais darem uma olhada no número de moradores desaparecidos ao longo dos anos. Acho que eles vão se surpreender com a quantidade.

Meu lar parece estar a milhões de quilômetros de distância, mas sei que estarei lá em breve, para minha cama, um mundo totalmente distante desse em que presenciei os eventos recentes; Quem sabe lá eu consiga entender melhor essa loucura. Espero chegar lá em algumas horas, embora o ônibus esteja um pouco atrasado.


Essa sem duvida foi uma das melhores series do blog, você pode encontrar mais algumas aqui.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 9



No dia seguinte despertei pela manhã com um objetivo único. Enquanto eu tinha que ir para casa e terminar meus afazeres, o ônibus não partiria até o fim da tarde, o que me deixava com bastante tempo à persuadir John de ir comigo a um lugar um tanto dramático: A colina. Eu sabia que se eu voltasse sem nenhuma dessas estranhas experiências, talvez ele esqueceria toda essa superstição louca que os moradores tinhas implantado nele, e iria embora de ônibus comigo. Tenho de confessar que também estava totalmente intrigado pela ideia do lugar e, mesmo que eu não tivesse dúvidas que as experiências de John fossem ilusões, senti que poderia tirar um artigo dali, possivelmente até uma história. Como escritor, essas oportunidades raramente eram dadas de bandeja.

Antes de ir, falei com ele e deixei claras minhas intenções. Ele suplicou que eu não fosse, que seu destino não precisava ser meu. Mas depois de muito protesto ele aceitou o fato de que eu não seria dissuadido e, relutantemente, concordou que se eu voltasse sem nenhum fato sobrenatural, paranormal ou qualquer outro incidente, ele iria embora comigo para Glasgow.

Depois de me dar as direções certas, - as quais eu sabia que não conseguiria com nenhum morador - fiz meu caminho até a suposta encosta maldita. Tenho de admitir que a primeira vez que a vi, parecia um tanto... esquisita. Fora de lugar. Mas supus que isso fosse apenas um efeito subconsciente do conto de John. O ambiente parecia ser exatamente como ele descrevera. Pelo menos essa parte era verdadeira. A estrada estava bloqueada por lixo e entulho, e acabei por encontrar o portão no pé da montanha. Havia até uma mancha de sangue, certamente fazendo o fim da história ser mais convencível. O pensamento de que algum maníaco pudesse estar realmente lá em cima me fez recuar um pouco, mas ele provavelmente teria se mudado depois de ser confrontado por Dale e proprietário da terra. De qualquer modo, John, bastante ferido e abalado conseguira escapar, então me sentia bastante confiante.

Não senti nada fora do comum quando ultrapassei o limiar entre as terras, e mesmo que as árvores caídas e a grama morta deixasse o ambiente meio decadente, fique surpreso por quão inocente e banal parecia ser. Depois de subir o caminho que claramente havia sendo usado a anos inúmeras vezes, cheguei no local que fazia lembrar a descrição de John.

E lá estava. Obscurecida do mundo por conta de uma parede de folhagens, madeira podre e grama: A igreja. Eu fiquei surpreso pois pensava que tal construção teria sido certamente parte das alucinações de John e admito que comecei a me sentir um pouco nervoso por sua existência, e hesitei por um momento antes de continuar. Fico envergonhado de confessar que, se a área não estivesse iluminada pela luz do dia, eu teria considerado voltar. Mas eu não voltei.

A igreja era fascinante, e no mínimo, queria ver se era como John havia dito, com o altar intacto. Não era difícil olhar lá dentro, embora me estremecesse um pouco lembrando da descrição da porta parcialmente bloqueada por destroço, mas esta estava bem aberta e sem obstáculos, e essa diferença fez com que eu parasse mais uma vez. Entretanto, lá estava eu, no limiar, espiando. Era exatamente como ele havia descrito; o chão estava coberto de destroços do telhado, o altar logo mais a frente, uma inscrição - a qual eu não tinha mais dúvida ser real, pois esta escrito realmente como John tinha dito - e uma porta liberando para o subsolo, um destino desconhecido.

Você tem que entender que nunca passou pela minha cabeça que algo sobrenatural realmente morava lá, essa ideia era até cômica; mas eu começava a questionar minha segurança. Um ermitão ou um louco recluso morando de baixo de uma igreja antiga não eram imagens ou pensamentos que me enchiam de confiança.

"Olá? Tem alguém aí?" Gritei, minha voz ecoando entre as vigas do teto.

Sem resposta, me repreendi por ser tão paranoico e dei um passo à frente. Cuidadosamente andando entre os entulhos, notei a um pouco sangue em um pedaço madeira quebrado que assumi ser o de John. Então um pensamento clareou minha mente: talvez a madeira estivesse contaminada de certa forma, e entrando pelo ferimento, em contato com o sangue de John, causou todas as alucinações, pelo menos as que aconteceram depois. Isso explicaria a desorientação.

O altar estava onde ele havia dito que estaria. Percebendo que eu precisaria de uma prova de que estivera ali para botá-lo de volta nos eixos, peguei meu celular e comecei a tirar fotos do interior da igreja. A cada flash o salão se iluminava, e enquanto isso minha mente se rastejava nas descrições de John sobre o padre fervoroso e a congregação amedrontada sob a proteção da igreja - mas se protegendo de que?

Me virando em direção a porta que levava ao subsolo da igreja, senti meu coração acelerar só de olhar o lance de escada de pedra, mas eu era obrigado a ir, mesmo que não por intenções inteiramente generosas. Sim, eu queria mostras a John que não existia nada lá em baixo, e que suas crenças que o amarravam sem amarras na vila eram totalmente sem fundamento; mas eu também estava curioso em relação ao que jazia lá embaixo. Porque essa igreja tinha um andar subterrâneo? Seria uma catatumba? A curiosidade me envolveu e minha boca se encheu d'água pela possibilidade de publicar um artigo descrevendo minha descoberta arqueológica desconhecida, talvez com uma relíquia importante e valiosa; talvez até duas.

Enquanto me aproximava da porta, podia sentir o ar gelado vindo lá de baixo. Usando a luz de meu celular, acalmei meus nervoso que começavam a me irritar, aproximando. Um lance de escada estreito deslizava para o chão do andar abaixo. As paredes eram de um cinza escurecido, e pareciam ter sido feitas e esculpidas com muito menos cuidado do que o resto da igreja. Gritei mais uma vez, mas ninguém respondeu e assumi de prontidão que o lugar estava abandonado. Enquanto descia, me surpreendi por quão comprida a escada era de verdade, e quando cheguei ao final, conclui que estava a, pelo menos, 15 metros abaixo da igreja. Pra mim, era muito estranho que um andar ficasse tão abaixo da terra e me perguntei o propósito disso - porque teriam os arquitetos, construtores ou seguidores da igreja escavado tão fundo?

No último degrau, respirei fundo e iluminei a porta que tinha ficado longe lá em cima. Depois, a luz azulada do meu celular iluminou tudo em volta. O que vi me deixou extremamente perturbado; um grande salão, com o chão cheio de trapos, pedras, e ossos humanos. Não consegui distinguir quantos corpos tinham sido deixados lá para apodrecer, pois eram demais. O are era muito gelado, e me senti congelado até a alma, não só pelas pedras frias que me cercavam, mas pelo sentimento de tristeza que cobria tudo. Era quase como se eu pudesse ver as pessoas encolhidas, passando seus últimos momentos escondidos do sol. A primeira impressão que tive, é que eles tinham morrido lá, apesar de eu não saber porque eu estava tão convencido disso.

Tirando algumas fotos, entrei no que somente podia descrever como... um túmulo gigante. Fui cuidadoso para não mexer nos ossos, mas fico envergonhado em dizer que senti alguns quebrando debaixo de meus pés. Para esquerda liderava até outra porta que levava até outra câmara, e por mais que não quisesse perturbar a tumba mais do que já havia perturbado, me sentia responsável de saber toda a história. Isso era, o que mais havia lá em baixo.

Acima da porta havia um anjo de pedra, esculpido a nível artístico, colocando-o em desacordo com a sala cheia de ossos. Mas aquele rosto infantil vestia um sorriso largo. Não de felicidade ou jovialidade, mas de zombaria e satisfação sadomasoquista. Apenas de olhá-lo fiquei com um sentimento de asco, então rapidamente entrei no outro compartimento para fugir de seu olhar.

Era um quarto grande, muito maior do que o anterior. Pude dizer de cara que algo de grande importância para aqueles que tinham construído a igreja ficara ali. As paredes eram adornadas com lindos símbolos esculpidos, alguns cristãos, mas muitos de natureza que eu não conhecia. No centro da sala jazia um bloco de pedra maciça de 1 metro de diâmetro. Havia um grande buraco em seu lado. Na pedra estava a seguinte descrição:

"Aqui jaz o pai. Amado por alguns, odiado por muitos."

Enquanto eu refletia a respeito do epitáfio, espiei pelo buraco. O túmulo estava vazio, mas fiquei feliz de ter visto-o antes de entrar no quarto, ou poderia ter tropeçado e tomado um belo tombo. Ficar preso lá em baixo com uma perna quebrada não era algo que eu desejaria pra ninguém. A sujeira da sala era totalmente negra, parecendo que ali fora um depósito de carvão, e a margem do buraco estava cercado de uma pilha de sujeira. Presumi que ladrões de túmulo ou talvez aqueles que "odiavam" o homem tinham roubado seu corpo há muito tempo.

O ar do locar estava começando a me afetar intensamente. Cada inalada de ar era irregular e gelada, e o desconforto era tanto que decidi que já havia visto o suficiente. Enquanto tirando algumas fotos para documentar a tumba antes de ir, o flash da câmera do celular mostrou algo em foco nítido no chão. Coberto em terra estava um livro que se sobressaia do chão. Gentilmente tirando a poeira de cima dele com a mão, cuidadosamente tirei do chão, colocando o livro em cima da tumba no meio da sala.

A encadernação era antiga, descamando de leve quando passei minha mão por cima. A capa era vermelha escura, o qual não conseguia identificar o material que tinha sido feito, falava de tempos antigos e histórias perdidas ainda importantes. No fundo eu sabia que um item desses devia ser removido dali com cuidado e estudado por especialistas, mas como escritor, minha paixão por histórias me obrigou a ver do que se tratava. Abrindo-o, fiquei maravilhado. Era uma crônica. Relatos escritos a mão da história da igreja, sua congregação e a colina em si. Um pedaço de um povo esquecido.

Estava escrito em um tom confuso, linguisticamente falando, sendo que as palavras eram uma mistura do antigo Inglês Escocês e pedaços de um língua desconhecida por mim, uma que assumi ser Celta ou Galês. Entretanto, as passagens em Escocês eu conseguia ler tranquilamente. O que segue é uma memória solta do que estava escrito lá:



Continua na Parte Final...

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 7

Creepysterror


Ele acordou com o silêncio da terra. Tufos de grama quebrada tocavam seu rosto enquanto o vento soprava em várias direções. O céu estava negro, enquanto nada vivo se mexia. John não sabia quanto tempo tinha estado inconsciente, mas o cobertor de estrelas acima não deixavam duvidas que havia sido por algumas horas. O enjoo continuava, mesmo que não tão forte, mas a ferida em seu lado ainda vazava sangue. Ficando de pé, ficou claro que seu corpo ainda estava no efeito de seja lá o que tinha naquela colina, mas de certa forma ele já estava se acostumando com isso; pelo menos a um ponto que conseguisse ganhar postura para achar um jeito de fugir.

A sorte ficou do seu lado enquanto a lua estava presente logo acima de sua cabeça, mesmo que só uma fina parte em forma crescente. Ela o dava luz o suficiente para avaliar o estranho mundo e as formas que o rodeava. Ele não tinha certeza se estava aonde tinha desmaiado, pois lembrava vividamente das lápides, que não estavam mais ali. De pé, com a mão em cima da ferida tentando estancar o sangue, realizou algo assustador. John achou difícil de converter em simples palavras o que era, mas descreveu como "As leis da natureza mudaram". Nada parecia fazer sentido, por um momento não sabia quem ele mesmo era, porque estava lá, e o que estava fazendo-o se sentir tão mal. Ele parecia ter mantido o conhecimento da montanha e memórias sobre a igreja, mas seus pensamentos estavam embaralhados e desconexos. Momentos repentinos de identidade eram substituídos pela confusão. Mas, independentemente da aflição, um continuava; seu instinto insistia que precisava sair daquele lugar imediatamente. Mas neste frágil estado mental, não conseguia distinguir qual caminho levava para a vila e qual caminho o levaria em direção do o cume, para o que ou quem estivesse lá. A intoxicação sensorial foi uma experiência diferente de qualquer outra - o mundo desconhecido.

Um cheiro horrível preencheu o ar. Se era seu próprio vômito ou o enjoo brincando com seus sentidos, não sabia, mas havia algo a mais naquele fedor. Um cheiro de chorume misturado com o inquietante odor de cabelo queimado. Começou a ficar tão forte que os olhos de John começaram a arder, o que ajudou a desorientá-lo. Apesar de seus olhos estarem cheios de lágrimas e o mundo parecia totalmente desconexo, agora ele sentia algo que só pode descrever como uma "presença". O fedor mofado cresceu e John tossiu. A resposta ao barulho foi diferente, e mesmo que acreditasse que conhecer a mente de alguém era impossível - algo se aproximou com muita malicia e ódio junto de seus companheiros.

O medo se tornou um objeto passageiro enquanto andava em silêncio entre árvores sombrias e por entre o capim selvagem esperando encontrar uma saída. Cambaleando atrapalhado pela escuridão, a dor em sua ferida e os pensamentos de morrer na colina, nunca mais ver os que amava ficaram cada vez mais evidentes. Por um momento achou que iria desmaiar novamente, mas enquanto o enjoo se intensificava, agora era acompanhado pelo som de grama morta e flora seca sendo pressionadas, como se algo se arrastasse no mato perto dali. A visão de John estava tão limitada que não conseguia distinguir qual caminha levava pra frente ou para trás, e em breves momentos de clareza, sentia repulsa ao pensar em voltar à igreja, as pedras ou as lápides - inseguro de se elas eram ou não de verdades. Estava totalmente perdido e, algo que chamava a horrível colina de casa, se aproximava.

Ficou Imóvel.

Mas nem silêncio ou a escuridão podiam acobertá-lo. Nenhum campo de esquecimento poderia fornecer obscuridade para se esconder de uma perversidade tão velha quanto a terra, que agora perseguia um homem que antes riu na cara da superstição e do mito. O ar ficou mais denso e os finos riscos de luz que vinham da lua iam diminuindo, como se estivesse sendo sugado para as profundidades ta terra. Em seguida, nada. O som da grama sendo quebrada e pressionada parou, o lugar parecendo ser insuportavelmente desprovido de som. Esgotado mentalmente, John não tinha mais esperanças de sair dali. A coisa estava por perto, seu respirar podia ser sentido no ar; sujo, rançoso, algo que estivera vivo tempo demais, mas mesmo assim não tinha perdido o desejo de causar dor e sofrimento. Em seguida, movimento. Folhas mortas estalaram de baixo de seu peso, o mato alto que parecia ser tão impenetrável, tão dominante, agora se dobrava e quebrava a cada passo do ser. Agora o único pensamento que John tinha era de se esconder. Vagarosamente, respirando mais baixo, ofegando silenciosamente, afundou na grama; aterrorizado.

A presença estava mais perto e, na escuridão, ele achou que as vezes conseguia enxergar uma vaga silhueta de algo que andava a esmo, fora do alcance. O circulava lentamente por ali, chegando perto e depois se afastando de novo, como se procurasse meticulosamente pelo chão. Então, finalmente, o som de seus passos vagos foram se distanciando bastante, e depois pararam totalmente. John deixou escapar um suspiro de alívio.

Então uma mão tocou seu rosto.

A sobrevivência tomou conta de si e, com um grito de terror absoluto, ele rolou para o lado. Uma dor lancinante percorreu por seu corpo, pois sua movimentação e o próprio peso fez com que sua ferida fosse pressionada contra o solo. Um rugido baixo escapou de seja lá que monstruosidade estava de pé a sua frente e então, sem saber para que lado fugir, John se motivou por um novo impulso; ficando de pé em um pulo, correu desjeitosamente em uma direção aleatória, esperando que, além de suas esperanças, fosse levado embora daquela loucura. Aquele pesadelo.

Ele correu entre o mato e árvores no breu da noite. Um fedor denso de podre e cabelo queimado cobria tudo, provocando ondas de vômito enquanto corria. Por fim, ele sabia onde estava, um lugar que tinha rezado para nunca mais ir. A igreja apareceu em sua vista, impetuosa e destorcida à sua frente. Algo se precipitou entre as árvores atrás e logo estaria em cima dele. Pelo menos agora ele sabia em que sentido correr, indo em direção ao caminho que tinha subido mais cedo naquele mesmo dia, uma trilha desgastada que o levaria para a tão prezada segurança. Mas o terreno parecia artificial e desconhecido. A própria forma de "construção" parecia ter sido forjada por alguém com más intenções. Ele tinha que continuar, para se livrar de quem o perseguia. O caminho tinha que ser naquela direção!

Então, finalmente ele rompeu em uma clareira. Seu coração afundou dentro do peito. Lá estava de novo a igreja, mas de certa forma, parecia diferente. Na noite ela parecia possuir uma forma mais sinistra e bizarra do que na luz do dia. Por um momento John imaginou a estrutura não sendo feita de pedra ou concreto, e sim de videiras, barro e madeira; retorcidos em direção ao céu.

O farfalhar de folhas podia ser ouvido de perto enquanto tropeçava, ofegante por ar. A dor em sua ferida agora era quase insuportável, cada passo acompanhado por uma sensação interna de rasgamento. Forçado por seu perseguidor a ter que ver a igreja de novo, John se deslocou o melhor que pode, cambaleando e mancando, fraco e exausto, entrou em uma espessa rede de arbustos e espinheiros. Suas roupas ficaram presas enquanto os galhos pontudos arranhavam seu rosto e braços. Não adiantava, ele não conseguiria fugir. Olhando por cima do ombro, alguém estava claramente atravessando os arbustos apenas alguns metros dali.

O medo corria pelas veias de John enquanto o seu perseguidor o alcançava. Deixando escapar um grito de dor e angustia, a coisa entre os ramos pareceu parar por um momento, observou-o pleiteando por sua vida, suas mãos cortadas e rasgadas por espinhos. John se agarrou no matagal a frente tentando escapar e, em seguida, para arrepia-lo até os ossos, a figura atrás dele olhou e deixou escapar um gemido angustiante - algo entre uma risada e um suspiro de satisfação. A coisa começou a se mover em grande velocidade, rompendo por entre os espinho com facilidade, se aproximando rapidamente.

Com um berro de dor e descrença, John finalmente conseguiu se libertar do aperto dos espinhos, mas o desespero ainda o assombrava. Lá estava novamente a igreja, quase zombeteira, torcida e destorcida de um jeito que nenhum ser humano conseguiria desenvolver. Vacilante, com a pouca força que ainda tinha, ele passou pela igreja mais uma vez enquanto seu agressor saia por entre as árvores, se apressando em sua direção. John aumentou seu ritmo o máximo que pode, o que não era muito. O céu estava aberto, e líquido era derramado sobre a igreja, que logo se esparramara no terreno, ficando encharcado e alagado.

A força de John diminuiu quando caiu de joelhos, admitindo estar derrotado. Então, a salvação. De longe, uma luz brilhava. Uma que irradiou e rompeu entre a mata quase impenetrável. Algo para incentivá-lo a prosseguir. A ter esperança. Um fluxo a seguir, uma luz de fora da terrível colina. Com seu perseguidor se aproximando, arrastando seu corpo entre o gramado e a escuridão, uma última onda de energia despertou John de seu terrível destino. A visão da luz e da vida reacendeu um pequeno resquício de esperança que ainda restava. Ele urrou em aflição enquanto se levantava, a chuva caindo sobre sua cabeça, encharcando-o até os ossos. Mas isso não importava. Tudo que importava era a luz, e a segurança que ela prometia. Mancando o mais rápido que podia, ele entrou na mata entre os cipós e galhos da floresta, o medo sobrepondo qualquer dor que sentia enquanto os espinhos cortavam sua pele.

No entanto ele continuava, e a luz começou a ficar cada a vez mais forte; vibrante e encorajadora. Estava claro agora que ele estava indo ladeira abaixo, pois a dinâmica de sua trajetória o fazia tropeçar e cair várias vezes. Também fazia a velocidade dele aumentar consideravelmente. Memórias que não eram dele começaram a aparecer na sua cabeça novamente, pensamentos de raiva e ódio preenchiam sua visão; a imagem da igreja nunca vazia, mas ainda assim desprovida de vida - o padre com as mãos erguidas, inclinando-se por cima das cabeças da congregação.

A desorientação estava o preenchendo, e o cheiro de cabelo queimado se espalhou pelos arredores novamente. Apesar de confuso, podia ouvir os passos de seu perseguidor em velocidade crescente, no entanto, parecia mais agitado do que antes. Deveria estar com raiva, ou até mesmo frustrado. John sentiu-se enjoado pelo próprio pânico, o sangue escorrendo de sua ferida desenfreadamente. Assim que a luz estava mais próxima; com a promessa da redenção, segurança e a fuga da escuridão, ele voou ladeira abaixo quando pisou em falso na lama e grama molhada, caindo em direção ao solo. Dor, cansaço e desesperança reinaram soberanamente em seu corpo já golpeado e ferido, que agora havia pousado em cima de um grande tronco de árvore tombado.

Os passos se aproximavam, e enquanto os ouvia, John pensava como sua vida acabaria por aquele que chamava a encosta e lar.

"Vamos, filho. Levante-se! Levante-se!" uma voz gritou da escuridão, quase abafada pelo som de quebra de galhos e folhas velhas que se aproximava.

O mundo parecia deformado, mas quando quase estava por perder sua consciência uma vez mais, a claridade retornou e John percebeu onde estava. Seu corpo não tinha caído contra uma árvore tombada, e sim contra o portão daquele lugar terrível.

Algo estava próximo. Aquela coisa que estava o perseguindo pelo escuro, agora estava a apenas alguns metros de distância.

"Mexa-se, ele está quase em cima de você!" um grito soou do escuro, e John reconheceu como a familiar voz de Dale.

Com uma última ação, a última gota de vida que restava nele, John R. abriu o portão, caindo de rosto no chão em uma poça na estrada.


Continua na Parte 8...

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 6

Creepyterror


Contemplando o significado da inscrição, mais uma vez ele ficou imóvel, enquanto o pedido macabro de desculpas começava a perturbá-lo levemente. Ou a região tinha sido um centro de guerra, tendo anteriormente estabelecido outro clã, ou talvez os habitantes originários da colina compartilharam os mitos e superstições com seus descendentes modernos na aldeia logo abaixo.

No começo, o barulho não tinha sido inteiramente filtrado em sua consciência. Foi só quando repetida em um ritmo irregular que sua mente reconheceu sua natureza. Ainda de frente para a parede e de costas para o salão da igreja, o frio que tinha experimentado na rua voltou a se arrastar por seus braços. Seu corpo tremia por causa da temperatura que estava abaixando em ritmo alarmante, seu hálito podendo ser vistos em pequenas nuvens nervosas à frente de seu rosto. Os pelos de John se arrepiaram com o som próximo de um pé arrastando uma pedra no chão e lentamente seguido por outro. Mas quem estaria em tal lugar além dele? Era óbvio não ser nenhum dos moradores, não com suas superstições, advertências e presságios sobre a encosta.

Os passos pareciam mais perto, e com sua confiança diminuindo, os pensamentos de John estavam focados apenas em fugir. Enquanto o som aumentava, ameaçadoramente próximo, estava claro que teria que enfrentar seja lá quem fosse para chegar até a porta.Não havia mais o que fazer, teve que empurrar para o lado o medo que tomava conta dele. Lentamente, ele se virou para ver quem estava atrás dele Por um momento ele achou que enfrentaria um dos rostos severos que tivera imaginando, mas o salão estava desprovido de vida, vazio, mas o som de passos na pedra fria, como lixa sobre a pele, ainda preenchiam o ar.

John arfou quando viu algo se mexendo no canto de seu olho. Virando-se rapidamente para a porta escurecida que levava até o subsolo, a cabeça de uma figura indecifrável se mexia conforme seu corpo se erguia a cada passo vacilante. O terror correu por suas veias, a ponto que sua racionalidade derreteu de tal forma que só o puro instinto prevalecia. Ao que desatou a correr, pulando da plataforma deixando o altar e a inscrição para trás, ele sentiu um medo profundo romper em suas entranhas. Tropeçando quando aterrissou, o impacto desalojou mais detritos do teto, fazendo com que pedaços grandes de pedra se despedaçassem no chão da igreja, uma não certou a cabeça de John por poucos centímetros.

A saída estava próxima e seus pensamentos fervilhavam enquanto tropeçava por pilhas de escombros e resíduos esquecidos, a pele morta da construção caía sem remorso. Por um momento sentiu-se cercado, pressionado por um homem de batina, pregando sobre o pecado e o mal antigo enquanto a congregação miserável e diminutiva permanecia amontoada, com medo do que estava por perto.

Com os pés se arrastando entre a sujeira e poeira do chão, a claridade mental de John retornava e começou a escalar uma grande pilha de madeira quebrada com pedras - a saída para a segurança do outro lado - a curiosidade acalmou seus nervos por um segundo. O temor que sentia por dentro o dizia para continuar, ir para longe daquele lugar, mas a necessidade de saber era implacável: Ele precisava ver. Respirando fundo, se virou cautelosamente em direção do altar, vagarosamente apontando a luz de seu celular à escada escura. O ar no salão estava ficando mais gelado, o respirar apavorado de John claramente visível sob a luz fraca. A escuridão parecia enevoar sua visão, mesmo assim, o que conseguiu decifrar era inconfundível. Um figura alta estava de pé na frente da portinha, mas uma profunda sensação que toda a humanidade dele tivesse sido pervertida e torturada emanava deste. O homem e a criatura silenciosamente trocaram olhares por um longo tempo. Em seguida uma sequencia rouca de silabas saíram da boca do ser, uma língua a muito tempo esquecida e, enquanto sua definição precisa iludia o entendimento de John, o desdém com que falava não fazia.

A figura na porta se moveu para frente intimidando com seus movimentos sombrios, John gritou em horror, agarrando-se a esmo nos escombros na tentativa de chegar ao topo e, em seguida, fazer seu caminho até a porta. Agora ele não ligava mais em fazer silêncio, seus movimentos desesperados ecoando pelo salão, muitas pedras começavam a cair do teto novamente. Quando chegou no topo do monte, olhou para cima só para ver uma pedra maior que sua própria estatura vindo em sua direção. Pulando por sua vida, ele caiu do outro lado. Enquanto rolou pelo chão, uma dor lancinante fisgou-lhe no lado do corpo. Batendo contra o chão de pedra, o impacto deixou-o atordoado alguns minutos. Cambaleando enquanto se levantava ele olhou para baixo e recolheu-se em horror. Um grande pedaço de madeira tinha entrado vários centímetros na altura de suas costelas. O sangue jorrava da ferida quando quase que instintivamente puxou o pedaço de madeira, ela relando contra suas entranhas antes de finalmente ser removida.

Ele deixou escapar um grito de angustia, e ao mesmo tempo se virou para trás por ter ouvido outro barulho. A dor em seu lado era agonizante, mas a visão que estava tendo era muito pior do que qualquer sensação. A figura na porta se arrastava em sua própria barriga, rastejando-se em uma velocidade impossível sobre os escombros em direção à John. O corpo era enegrecido, o resto coberto por um manto branco, deslizando com facilidade sobre a superfície irregular.

Tropeçando em estado de choque, John estava paralisado de medo. Em seguida, a realidade o tomou; a saída estava perto. Mancando em direção à porta, ele espremeu seu corpo contra a abertura indo em direção à luz. A porta pressionou e cutucou a ferida na costela, fazendo a dor se espalhar por todo seu abdômen. Com um ultimo empurrão ele gritou, a força do momento fazendo-o cair no gramado do lado de fora. Olhando para cima através da abertura olhou a figura sepultada com sua cara sarcástica do lado de dentro, seu braço esticado, cuspindo desprezivelmente e grunhindo ensurdecedoramente para o por do sol.

John não perdeu tempo olhando a criatura; levantou cambaleantemente mais uma vez, sua mão agora estava encharcada de sangue estancando o sangue na ferida enorme nas costelas. Saindo daquele lugar o mais rápido que pode, deixando o terreno da igreja pra trás, ele tinha certeza que podia ouvir vozes vindo de dentro enquanto fugia - os gritos e protestos do clero e da congregação que a muito tempo tinham se ido, zombando, magoados e desprezando-o.

Na pressa, tinha perdido o controle de sua direção, pois não era familiarizado com aquele ambiente. No aperto do pânico, ele mancou o mais rápido que pode, mas a desorientação o levou e, antes de saber como ou porque, viu-se rodeado por um labirinto de lápides quebradas e derrubadas.

Tonto e com falta de ar, ele não ligava mais para aonde estava, contanto que conseguisse deixar a igreja e seu "funcionário" para trás. Depois de recuperar o fôlego, começou a avaliar o velho cemitério; algumas grandes e iminentes lápides enquanto as outras estavam derrubadas e arruinadas. Então, como se sofrendo os efeitos de um veneno desconhecido, o mundo começou a girar ao se redor e tentando respirar, as pedras assumiram formas sinistras e ameaçadoras, elevando-se, bloqueando a luz, olhando com raiva para ele de cima. Agora não era um cemitério onde ele se encontrava e sim um enorme anel de enormes pedras deformadas. Eles tinham enfrentado muitas tempestades - anciões e esquecidos - muito antes do primeiro tijolo fosse colocado naquela igreja adulterada.

Sentindo-se obrigado a, de alguma forma, se aproximar de um deles, estendeu a mão, tocando a superfície coberta de musgo. Flashes de um passado escondido agora invadia sua mente, enquanto sentia-se dominado por uma fraqueza. Sua visão nublou, o mundo girava e uma náusea repentina cobriu seus sentidos, um que era tão forte que o obrigou cair de joelhos, e embora tenha lutado bravamente contra, em segundos ele desmoronou no chão, sua ferida pulsando a cada batida de seu coração. Deitado em suas costas olhando para cima, o céu parecia pulsar e tudo em sua volta parecia destorcido, como se ele estivesse separado do mundo. John perdeu os sentidos.


Continua na parte 7...