quinta-feira, 14 de outubro de 2021

On A Hill - Sob a Colina - Parte 7

Creepysterror


Ele acordou com o silêncio da terra. Tufos de grama quebrada tocavam seu rosto enquanto o vento soprava em várias direções. O céu estava negro, enquanto nada vivo se mexia. John não sabia quanto tempo tinha estado inconsciente, mas o cobertor de estrelas acima não deixavam duvidas que havia sido por algumas horas. O enjoo continuava, mesmo que não tão forte, mas a ferida em seu lado ainda vazava sangue. Ficando de pé, ficou claro que seu corpo ainda estava no efeito de seja lá o que tinha naquela colina, mas de certa forma ele já estava se acostumando com isso; pelo menos a um ponto que conseguisse ganhar postura para achar um jeito de fugir.

A sorte ficou do seu lado enquanto a lua estava presente logo acima de sua cabeça, mesmo que só uma fina parte em forma crescente. Ela o dava luz o suficiente para avaliar o estranho mundo e as formas que o rodeava. Ele não tinha certeza se estava aonde tinha desmaiado, pois lembrava vividamente das lápides, que não estavam mais ali. De pé, com a mão em cima da ferida tentando estancar o sangue, realizou algo assustador. John achou difícil de converter em simples palavras o que era, mas descreveu como "As leis da natureza mudaram". Nada parecia fazer sentido, por um momento não sabia quem ele mesmo era, porque estava lá, e o que estava fazendo-o se sentir tão mal. Ele parecia ter mantido o conhecimento da montanha e memórias sobre a igreja, mas seus pensamentos estavam embaralhados e desconexos. Momentos repentinos de identidade eram substituídos pela confusão. Mas, independentemente da aflição, um continuava; seu instinto insistia que precisava sair daquele lugar imediatamente. Mas neste frágil estado mental, não conseguia distinguir qual caminho levava para a vila e qual caminho o levaria em direção do o cume, para o que ou quem estivesse lá. A intoxicação sensorial foi uma experiência diferente de qualquer outra - o mundo desconhecido.

Um cheiro horrível preencheu o ar. Se era seu próprio vômito ou o enjoo brincando com seus sentidos, não sabia, mas havia algo a mais naquele fedor. Um cheiro de chorume misturado com o inquietante odor de cabelo queimado. Começou a ficar tão forte que os olhos de John começaram a arder, o que ajudou a desorientá-lo. Apesar de seus olhos estarem cheios de lágrimas e o mundo parecia totalmente desconexo, agora ele sentia algo que só pode descrever como uma "presença". O fedor mofado cresceu e John tossiu. A resposta ao barulho foi diferente, e mesmo que acreditasse que conhecer a mente de alguém era impossível - algo se aproximou com muita malicia e ódio junto de seus companheiros.

O medo se tornou um objeto passageiro enquanto andava em silêncio entre árvores sombrias e por entre o capim selvagem esperando encontrar uma saída. Cambaleando atrapalhado pela escuridão, a dor em sua ferida e os pensamentos de morrer na colina, nunca mais ver os que amava ficaram cada vez mais evidentes. Por um momento achou que iria desmaiar novamente, mas enquanto o enjoo se intensificava, agora era acompanhado pelo som de grama morta e flora seca sendo pressionadas, como se algo se arrastasse no mato perto dali. A visão de John estava tão limitada que não conseguia distinguir qual caminha levava pra frente ou para trás, e em breves momentos de clareza, sentia repulsa ao pensar em voltar à igreja, as pedras ou as lápides - inseguro de se elas eram ou não de verdades. Estava totalmente perdido e, algo que chamava a horrível colina de casa, se aproximava.

Ficou Imóvel.

Mas nem silêncio ou a escuridão podiam acobertá-lo. Nenhum campo de esquecimento poderia fornecer obscuridade para se esconder de uma perversidade tão velha quanto a terra, que agora perseguia um homem que antes riu na cara da superstição e do mito. O ar ficou mais denso e os finos riscos de luz que vinham da lua iam diminuindo, como se estivesse sendo sugado para as profundidades ta terra. Em seguida, nada. O som da grama sendo quebrada e pressionada parou, o lugar parecendo ser insuportavelmente desprovido de som. Esgotado mentalmente, John não tinha mais esperanças de sair dali. A coisa estava por perto, seu respirar podia ser sentido no ar; sujo, rançoso, algo que estivera vivo tempo demais, mas mesmo assim não tinha perdido o desejo de causar dor e sofrimento. Em seguida, movimento. Folhas mortas estalaram de baixo de seu peso, o mato alto que parecia ser tão impenetrável, tão dominante, agora se dobrava e quebrava a cada passo do ser. Agora o único pensamento que John tinha era de se esconder. Vagarosamente, respirando mais baixo, ofegando silenciosamente, afundou na grama; aterrorizado.

A presença estava mais perto e, na escuridão, ele achou que as vezes conseguia enxergar uma vaga silhueta de algo que andava a esmo, fora do alcance. O circulava lentamente por ali, chegando perto e depois se afastando de novo, como se procurasse meticulosamente pelo chão. Então, finalmente, o som de seus passos vagos foram se distanciando bastante, e depois pararam totalmente. John deixou escapar um suspiro de alívio.

Então uma mão tocou seu rosto.

A sobrevivência tomou conta de si e, com um grito de terror absoluto, ele rolou para o lado. Uma dor lancinante percorreu por seu corpo, pois sua movimentação e o próprio peso fez com que sua ferida fosse pressionada contra o solo. Um rugido baixo escapou de seja lá que monstruosidade estava de pé a sua frente e então, sem saber para que lado fugir, John se motivou por um novo impulso; ficando de pé em um pulo, correu desjeitosamente em uma direção aleatória, esperando que, além de suas esperanças, fosse levado embora daquela loucura. Aquele pesadelo.

Ele correu entre o mato e árvores no breu da noite. Um fedor denso de podre e cabelo queimado cobria tudo, provocando ondas de vômito enquanto corria. Por fim, ele sabia onde estava, um lugar que tinha rezado para nunca mais ir. A igreja apareceu em sua vista, impetuosa e destorcida à sua frente. Algo se precipitou entre as árvores atrás e logo estaria em cima dele. Pelo menos agora ele sabia em que sentido correr, indo em direção ao caminho que tinha subido mais cedo naquele mesmo dia, uma trilha desgastada que o levaria para a tão prezada segurança. Mas o terreno parecia artificial e desconhecido. A própria forma de "construção" parecia ter sido forjada por alguém com más intenções. Ele tinha que continuar, para se livrar de quem o perseguia. O caminho tinha que ser naquela direção!

Então, finalmente ele rompeu em uma clareira. Seu coração afundou dentro do peito. Lá estava de novo a igreja, mas de certa forma, parecia diferente. Na noite ela parecia possuir uma forma mais sinistra e bizarra do que na luz do dia. Por um momento John imaginou a estrutura não sendo feita de pedra ou concreto, e sim de videiras, barro e madeira; retorcidos em direção ao céu.

O farfalhar de folhas podia ser ouvido de perto enquanto tropeçava, ofegante por ar. A dor em sua ferida agora era quase insuportável, cada passo acompanhado por uma sensação interna de rasgamento. Forçado por seu perseguidor a ter que ver a igreja de novo, John se deslocou o melhor que pode, cambaleando e mancando, fraco e exausto, entrou em uma espessa rede de arbustos e espinheiros. Suas roupas ficaram presas enquanto os galhos pontudos arranhavam seu rosto e braços. Não adiantava, ele não conseguiria fugir. Olhando por cima do ombro, alguém estava claramente atravessando os arbustos apenas alguns metros dali.

O medo corria pelas veias de John enquanto o seu perseguidor o alcançava. Deixando escapar um grito de dor e angustia, a coisa entre os ramos pareceu parar por um momento, observou-o pleiteando por sua vida, suas mãos cortadas e rasgadas por espinhos. John se agarrou no matagal a frente tentando escapar e, em seguida, para arrepia-lo até os ossos, a figura atrás dele olhou e deixou escapar um gemido angustiante - algo entre uma risada e um suspiro de satisfação. A coisa começou a se mover em grande velocidade, rompendo por entre os espinho com facilidade, se aproximando rapidamente.

Com um berro de dor e descrença, John finalmente conseguiu se libertar do aperto dos espinhos, mas o desespero ainda o assombrava. Lá estava novamente a igreja, quase zombeteira, torcida e destorcida de um jeito que nenhum ser humano conseguiria desenvolver. Vacilante, com a pouca força que ainda tinha, ele passou pela igreja mais uma vez enquanto seu agressor saia por entre as árvores, se apressando em sua direção. John aumentou seu ritmo o máximo que pode, o que não era muito. O céu estava aberto, e líquido era derramado sobre a igreja, que logo se esparramara no terreno, ficando encharcado e alagado.

A força de John diminuiu quando caiu de joelhos, admitindo estar derrotado. Então, a salvação. De longe, uma luz brilhava. Uma que irradiou e rompeu entre a mata quase impenetrável. Algo para incentivá-lo a prosseguir. A ter esperança. Um fluxo a seguir, uma luz de fora da terrível colina. Com seu perseguidor se aproximando, arrastando seu corpo entre o gramado e a escuridão, uma última onda de energia despertou John de seu terrível destino. A visão da luz e da vida reacendeu um pequeno resquício de esperança que ainda restava. Ele urrou em aflição enquanto se levantava, a chuva caindo sobre sua cabeça, encharcando-o até os ossos. Mas isso não importava. Tudo que importava era a luz, e a segurança que ela prometia. Mancando o mais rápido que podia, ele entrou na mata entre os cipós e galhos da floresta, o medo sobrepondo qualquer dor que sentia enquanto os espinhos cortavam sua pele.

No entanto ele continuava, e a luz começou a ficar cada a vez mais forte; vibrante e encorajadora. Estava claro agora que ele estava indo ladeira abaixo, pois a dinâmica de sua trajetória o fazia tropeçar e cair várias vezes. Também fazia a velocidade dele aumentar consideravelmente. Memórias que não eram dele começaram a aparecer na sua cabeça novamente, pensamentos de raiva e ódio preenchiam sua visão; a imagem da igreja nunca vazia, mas ainda assim desprovida de vida - o padre com as mãos erguidas, inclinando-se por cima das cabeças da congregação.

A desorientação estava o preenchendo, e o cheiro de cabelo queimado se espalhou pelos arredores novamente. Apesar de confuso, podia ouvir os passos de seu perseguidor em velocidade crescente, no entanto, parecia mais agitado do que antes. Deveria estar com raiva, ou até mesmo frustrado. John sentiu-se enjoado pelo próprio pânico, o sangue escorrendo de sua ferida desenfreadamente. Assim que a luz estava mais próxima; com a promessa da redenção, segurança e a fuga da escuridão, ele voou ladeira abaixo quando pisou em falso na lama e grama molhada, caindo em direção ao solo. Dor, cansaço e desesperança reinaram soberanamente em seu corpo já golpeado e ferido, que agora havia pousado em cima de um grande tronco de árvore tombado.

Os passos se aproximavam, e enquanto os ouvia, John pensava como sua vida acabaria por aquele que chamava a encosta e lar.

"Vamos, filho. Levante-se! Levante-se!" uma voz gritou da escuridão, quase abafada pelo som de quebra de galhos e folhas velhas que se aproximava.

O mundo parecia deformado, mas quando quase estava por perder sua consciência uma vez mais, a claridade retornou e John percebeu onde estava. Seu corpo não tinha caído contra uma árvore tombada, e sim contra o portão daquele lugar terrível.

Algo estava próximo. Aquela coisa que estava o perseguindo pelo escuro, agora estava a apenas alguns metros de distância.

"Mexa-se, ele está quase em cima de você!" um grito soou do escuro, e John reconheceu como a familiar voz de Dale.

Com uma última ação, a última gota de vida que restava nele, John R. abriu o portão, caindo de rosto no chão em uma poça na estrada.


Continua na Parte 8...

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